NELLY
Nelly
Acordo decidida. Irei vê-la. Neste fim de semana completará sessenta anos e ainda não aceita (ou não em coragem de assumir) o que sentimos. Desde que terminou seu casamento, e isso já tem uns quinze anos, que está só. E triste. Triste na essência, não no dia a dia ... não! Temos vivido bons momentos juntas ... sem nunca falarmos abertamente de sentimentos, de vontades, de amores... dos nossos sentimentos, das nossas vontades , dos nossos amores ... A última viagem que fizemos juntas, com a turma de sempre, jovens senhoras na faixa do cinqüenta, sessenta anos, foi maravilhosa. Foram vinte dias sem que houvesse um momento de tédio, de qualquer outro sentimento que não fosse êxtase, felicidade. Momentos tão leves, tão doces...cheios de encantamento e também de conhecimento mútuo. Engraçado ... nos conhecemos desde a faculdade, ficamos mais próximas nos últimos vinte anos e no entanto, a cada dia parece que descobrimos novas afinidades, novos motivos de admiração mútua.
Sinto como se já tivesse (tivéssemos) percorrido mais da metade do caminho nesta vida. Não é hora para indecisões, paradas desnecessárias... não há tempo para isso. Acabo de lembrar de um livro infantil que minha neta lia outro dia ...algo como "é tempo de ser feliz" ... Se Zelda conseguisse ver isso, acreditar e não ter medo.... mas eu a conheço...sei o quanto é racional e prioriza sua família, ainda que em detrimento de sua própria felicidade.
Irei vê-la. Desejar-lhe felicidades. Mais que isso, ver que está bem para que eu me sinta bem. Minha amiga, mais, muito mais que amiga, Zelda.