Xanax ®
Eu sempre quis tê-lo comigo.
O sonho de tê-lo fazia com que qualquer aproximação se transformasse em algo sufocantemente surreal.
As coisas simplesmente saiam de mim de um modo diferente, natural.
Eu não podia agir convenientemente perante esta ou aquela situação. Havia uma força pura que me guiava, sempre.
Por mais que eu tentasse ser outra pessoa, para agradá-lo, não conseguia, no instante em que eu o via, a sua simpatia, a luz que ele expelia me arrebatava, sempre.
E eu estava lá, totalmente vulnerável.
Sorrir era como respirar.
Ele era o meu ar, meu sustento, meu alimento, meu amor.
E não sabia disso.
Longe de mim fazê-lo sentir pena de mim.
Apenas não era a hora.
Eu nunca fui muito de me expor.
Sentimentos ocultados.
Mas houve uma época em que toda felicidade que ele outrora me trazia, havia se transformado em um outro sentimento.
Uma espécie de angústia que me inquietava.
A sua luz me encorajava a soltar tudo que eu havia aprisionado desde sempre.
A hora havia chegado.
E repentinamente tudo fica às claras, fácil assim.
Seus lábios iam abrindo as comportas que a muito represavam aquele amor.
Clareou minha vida e nos deu a liberdade.
A liberdade de não mais se prender aos sonhos, mas possibilitando-nos de tocar esse sentimento grandioso.
Transformou todo o amor que existia em mim em algo ainda maior, ainda não batizado por ninguém.
Lembro-me daquele instante em que ele me veio dizendo, com uma timidez e insegurança incomuns a um sol, tudo.
Tudo que eu nunca imaginei ouvir.
Tudo sobre o amor que eu sempre quis dividir.
O mundo havia se tornado tão secundário quanto os planetas ao redor de uma estrela.
Todos os dias eu pensava na possibilidade de ter chegado ao topo da felicidade.
Subido todos os degraus possíveis.
Mas ele me surpreendia e me arrebatava dia após dia.
Ele sempre conseguia isso.
Seu beijo excitava meu coração, e eu transpirava, sempre.
O calor de seu corpo me fazia sentir viva e protegida.
Lembro-me de sempre estarmos juntos e toda aquela intensidade de sentimento nos parecia normal.
Éramos uma alma só.
Fazê-lo feliz me fazia mais feliz ainda e assim vivíamos,
naqueles tempos.
Ver o amanhecer elevava meu espírito.
Eu me sentia totalmente realizada.
Até que um dia ele não me veio alimentar.
E meu sol havia se apagado para sempre.
Fiquei sem ar.
Mas não me livrei de viver.
Estava novamente presa ao sonho de um dia tê-lo,
de volta.
Ele sempre me surpreendeu, e não seria dessa vez que me decepcionaria.
As pessoas geralmente não clamam por um amanhecer, eu clamo, dia após dia.
Hoje, sinto novamente aquela sensação de pura inquietação que senti anos atrás.
Sinto meu sol cada vez mais próximo de mim.
Há um calor intenso,
borboletas no estômago
e várias estrelas menores diante dos meus olhos piscando sem parar.
Sinto que estou perto de meu bem.
É, ele está por aqui.
Estou chorando, não de dor, se quer sinto meu corpo.
É aquele sentimento que vocês ainda não batizaram.
Acho que agora é realmente hora de ir.
Nossa conversa acaba aqui.
É nessa porta que tenho que entrar.
Devo fazer silêncio.
Essa é a nossa história.
Diga a todos o quanto ele me fez feliz.
E o quanto me fará.