ZELDA
ZELDA
O que eu faria se não tivesse medo ???
A frase, lida/ouvida há tanto tempo, pululava em minha mente.
Estava frio. Estava escuro lá fora.
E eu estava me sentindo assim, com frio, no escuro e com medo.
Minha mente tateava no breu gelado das possibilidades.
Estar as vésperas de completar 60 anos, não ajudava em nada. Ou
melhor, deixava tudo mais difícil. Sim, eu poderia enumerar motivos,
dezenas deles, mas quem entenderia? Quem ficaria do meu lado?
Certamente me taxariam de louca, delirante, talvez pensassem até em
podar meus direitos, me declarassem inapta ou então, pior ainda, me
ignorassem completamente.
Esses pensamentos, tormentos ligeiros e constantes, me faziam suar,
apesar do frio.
De todas as possibilidades, ser ignorada por eles, pelas pessoas com
quem convivi toda a minha vida, seria o pior, o mais doído, o insuportável...
Mas, se eu não tivesse medo, neste caso, medo de perdê-los, o que eu
faria ???
Considerava essa e outras alternativas quando ela chegou. Não bateu na
porta. Não se anunciou. Não disse a que veio... Tudo parecia tão desnecessário...
Nossos corpos se atraíram num forte, afetuoso abraço. E a vontade mútua era assim ficar, indefinidamente. Só dessa forma me parecia natural, como se então, só assim, eu fosse uma pessoa inteira. Nos olhamos em silêncio, ternamente, e choramos. Choramos mais uma perda. Ou quem sabe, para mim, finalmente um ganho: agora eu sabia o que faria, se não tivesse medo!