A Cartomante

Àquela menina de cabelos loiros, olhos azuis, sorriso franco, semblante feliz, se encontrava na plenitude da sua infância. Na escola ou na sua rua, estava sempre rodeada de amigos e amigas. Naquela época, ainda era possível sentir à vida com inocência, com pureza, sem a maldade que impera os dias de hoje nesse mundo globalizado, roubando da criançada o privilégio de viver a infância como deveria ser: degustando-a, assim como se toma um sorvete.

Quando já deixando a infância e se encaminhando para adolescência se viu em certo dia diante de uma cartomante e como tudo era “curtição” para ela - no bom sentido da palavra, deixou que a cartomante jogasse as cartas...e ela lhe disse:

“ Vejo que vai aparecer em sua vida um homem que vai te amar muito...”

Ela então, passou a imaginar e observar entre os seus amiguinhos quem daqueles poderia ser...Quem haveria de se declarar para ela...Por mais que tentasse descobrir, acabou por não chegar a um denominador comum. Por fim achou até que a cartomante estava blefando. Apesar de não dar muito importância ao fato, essa história de certa forma ficou em sua cabeça. Apareceram os namoricos e ela vez por outra recordava da história e ficava a pensar se seria àquele.

Veio a mocidade e não tardou muito para que a doce menina começasse a se enamorar de um jeito sério, compromissado. Certo dia lembrou-se da tal história e pensou: deve ser esse o tal homem que a cartomante disse.

Mas a vida não é como a gente pensa e sim como ela é...

O namoro a cada dia foi se solidificando, a menina acabou por entrar na faculdade em outra cidade. No período em que esteve estudando conheceu um jovem de terras distantes, e assim como ela, trazia um coração puro e alma transparente. Entre eles nasceu um sentimento de bem querer que deixou o coração dos dois tatuados para sempre.

O tempo de estudo findou, a menina agora já moça diplomada voltou para suas raízes, o jovem também voltou para sua terra. Foram quatro anos de convivência, tempo esse que criou laços que iriam deixá-los ligados para sempre de um jeito tão forte, como se um fosse um pedaço do outro. Eles no entanto, jamais poderiam imaginar isso.

Cada qual seguiu o seu caminho. A menina logo se casou e o jovem também não tardou muito a fazê-lo e assim, acabaram por constituir suas respectivas famílias.

Passaram-se os anos, vieram os filhos, a moça sempre muito feliz no seu casamento e o jovem nem tanto, o seu casamento acabou por se desfazer em dado momento da vida.

Mas a moça apesar de ser muito feliz em sua vida, no seu matrimônio, àquele sentimento era alguma coisa que ela não sabia explicar, lhe preenchia de um jeito diferente. Embora nunca deixou que ele ( o sentimento) viesse a emergir, sentia-se feliz por ele existir.

O jovem por sua vez, procurava a não querer acreditar que àquele sentimento seria amor e sim apenas amizade, apesar de todas as evidências.

Quando o sentimento é verdadeiro, ele é despojado, ele sobrevive às intempéries, rompe as barreiras do tempo, ultrapassa os limites do espaço e sobrevive a dor de uma saudade. Os sentimentos de amor quando verdadeiros, independe da nossa vontade e é para sempre.

Passaram-se vários anos, beirando os 25, sem que eles tivessem se encontrado novamente, mas o sentimento continuava tão vivo como antes aliás, bem mais fortalecido, pois estava amadurecido.

Àquele jovem já não mais conseguia guardar em seu peito tanto sentimento e acabou por confessar a ela, de um jeito tímido, com rodeios, um pouco daquilo tudo que lhe ia na alma. Ela apesar de saber daquilo, não soube de momento como lidar com àquela situação, ficou um pouco embaraçada...Não estava preparada para tanto...mas apesar de ter ficado de “saia Justa” sem saber o que dizer, sempre quis ouvir àquela declaração...E naquele momento, lhe veio à mente o que disse a cartomante...e ela pensou: será então esse homem, quem me terias um grande amor??...E ao relembrar de tudo o que viveram e da essência que cada um plantou no coração do outro, ela admitiu que bem poderia ser ele, porque não?...Mas apesar de tudo isso, cada um tem que seguir o seu caminho...Assim está escrito!.