O coração do dragão
O reino de Lot estava em uma situação de desordem e desgraça desde que um terrível dragão começara a atacar suas aldeias. Todos temiam a ira do monstro que nem os mais valentes soldados do rei conseguiram abater.
Então, apresentou-se ao monarca um rapaz ousado vindo de terras distantes, dizendo ser um caçador de dragões. Foi-lhe prometida uma fortuna caso conseguisse livrar-se da besta.
O jovem partiu atrás do dragão e voltou algum tempo depois, trazendo em uma arca o coração negro da fera abatida.
Houve um banquete no castelo, para comemorar a vitória, e o cavaleiro recebeu a sua prometida recompensa. Moedas e jóias, porém, não se compararam ao maior agradecimento que recebeu: a filha do rei cantou uma canção doce e suave que veio a atravessar a armadura do cavaleiro e se instalar em seu coração. Mas a canção acabou num instante e a princesa foi para junto de suas damas, cabisbaixa e calada e sua risada nπo foi mais ouvida, pois o caçador foi embora e levou consigo a voz da menina na forma da canção.
Nada a fazia falar, os bobos da corte não a faziam rir e o rei desesperou-se, pois era sua única filha e lhe doía ver a apatia em que ela estava. Chamou padres e alquimistas, deu vestidos e jóias belas a sua pequena, mandou fazerem festas e dançarem, mas nada surtiu efeito e ela continuou sem voz e sem sorriso.
A notícia correu mundo e chegou, numa noite estrelada, até o caçador de dragões. Em seu coração, a canção adormecida se remexeu inquieta, como se desejasse voltar para seu lugar.
Retornou ao reino, foi ter com o rei e pediu para ver a princesa. O pedido foi tão singelo, que o governante mandou que chamassem sua filha.
Qual não foi sua surpresa quando ouviu um riso fugir os lábios da princesa, o sol que voltava àquela casa de nobres.
Sua compreensão logo lhe contou o que havia acontecido e, não com muita alegria, aceitou a vontade da filha, que partiu com o caçador pelo mundo, domando monstros com sua voz de sereia.