Outono
era frio no rio de janeiro e, numa noite comum, quando os bares estão cheios e as pessoas danam a falar sobre suas semanas e das amenidades mais unúteis ao seus ouvidos, vestem roupas exageradas pro frio carioca, preferem cerveja a vinho, porque somos de praia, se aconchegam uns nos outros, desconhecidos ou não e flertam insaciavelmente os seus pares. homens-mulheres, mulheres e homens e tudo junto misturado nos lugares comuns de quase todas pessoas comuns.
e tá calor em nova york, em chigado, na parte de cima dos trópicos. os ares condicionados ligados pra não suar, tentando abafar o barulho da rua enquanto trabalham e consomem o ar de dentro e de fora. mas o céu, o daqui do rio, mesmo de junho, estava azul, com nuvens brancas e o de lá, pensava ela, também estava. e de fato, estava.
é porque é sempre o mesmo céu quando se olha pra cima e se imagina o que tem depois dele, se é que tem alguma coisa que possamos desvendar.
uma mesa de pessoas raras pôde ser achada nessa muvuca num lugar mais que comum. os pedidos, dos mais variados, juntavam as 4 estações: caipirinha, cerveja, suco, água, salada de folhas e sorvete com frutas. tudo pra se fazer festejar o reencontro de amigos distantes pelo tempo e o encontro de quem se esquentaria no frio e ventaria no sol.
e os meses de março e setembro se juntaram na primavera de um vestido florido pra trazer o sol numa noite de inverno. foi ali que se fez o toque e os olhares de duas temperaturas que desdiziam a contradição das estações e a verdade que aquela noite não acabaria por ali.
pra quem sabe que o tempo foi dividido nas fatias de drummond ou em quatro nas estações ou contado em dias também sabe que o tempo é relativo, que pode se ter inverno sem frio, verão sem chuva, primavera sem cor e outono sem flor e que até o ano varia quando é bissexto.
pra quem sabe que ser é estar em qualquer lugar comum deve saber também que o amor não é, absolutamente, sazonal.