SÚBITO DE AMOR

Depois de mais uma noite sem dormir, Clara preparava a mesa de café enquanto uma lágrima teimosa insistia em molhar seu rosto. Com carinho organizou os ingredientes e esperou. Minutos depois viu a figura alta e corpulenta surgir. "Oi, meu amor, bom dia" disse Álvaro. Ela sorriu e observou com cuidado o rosto másculo do marido. Seu sorriso cativava. Apesar dos anos, o charme era o mesmo. "Lindo", pensou. Serviu com carinho a refeição, como fazia há quinze anos. Lembrava de cada carinho, de cada momento e de cada estação. Viu quando o homem se levantou, pegou a pasta e se dirigiu a porta. Voltou-se e olhou para a esposa com um sorriso: "Tudo bem?", "Sim... Tudo bem." respondeu. Ele a beijou e se foi, de súbito ela perguntou: "Álvaro" Ele olhou. "Você não esqueceu de nada?". Ele procurou nos bolsos, fez cara de duvidas e disse: "Acho que não", sorriu, entrou no carro e se foi. Ela o acompanhou até "pede-lo de vista". Depois calmamente foi até a cozinha, leu mais uma vez a carta encontrada no dia anterior no chão do banheiro. A última frase ela fez questão de repetir "Obrigado amor da minha vida, sua Tereza". Depois calmamente, dissolveu o conteúdo do envelope num copo d'água e bebeu.