UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE

Abriu a porta e saiu para a varanda, queria sentir o frescor do anoitecer, ficaria por ali olhando a estrada de terra que passava em frente ao portão. A varanda era grande, com algumas plantas, assim como o quintal daquela tranqüila casa de campo. Caminhou até a cadeira de balanço do lado esquerdo da mesa de madeira e sentou-se. Do outro lado da estrada havia uma casa, do lado esquerdo uma curva e do direito uma reta até o centro do bairro. Ali é tudo quieto, vez por outra passava um automóvel e podia-se ouvir os pássaros e o som do riacho lá no fundo após a curva da estrada de terra. Seu coração já não era tão forte como em tempos passados e por isso não se sentia bem na cidade, não se sentia mais um homem urbano. Depois de alguns minutos sua esposa, companheira há mais de cinqüenta anos veio sentar-se ao seu lado, com passos também curtos, um tanto cansados, atravessou a distância que os separava e sentou na cadeira de balanço ao lado da sua. Ficaram alguns minutos em silêncio admirando o anoitecer. Ela sabia que ele gostava de sentir o toque do vento em seu rosto sem muitas palavras. Assim ficaram e a noite cobriu o quintal, ela levantou, acendeu a lâmpada e voltou a sentar.

- O que você pensa quando está aqui? Perguntou Maria

- Sinto que algo escapa de mim aos poucos. – Respondeu José

- Algo como?

- A vida, talvez.

- Sente-se infeliz?

- Não, sinto-me feliz pela vida que tive.

- Sente saudades de quando éramos mais jovens?

- Acho que não, tudo tem seu tempo, agora só me resta esperar enquanto fico aqui sentado observando a natureza.

- Eu sou feliz por todo tempo que vivemos juntos.

- É tão bom ouvir isso de você.

Ficaram novamente em silêncio, quem sabe não estavam lembrando cada um ao seu modo tudo que passaram juntos. A noite era fresca e as estrelas piscavam, talvez para a lua cheia que ilustrava com sua beleza aquele pedaço do céu.

- Quer um refresco? Perguntou Maria

- Quero sim, uma laranjada sem açúcar – Respondeu José

- Vou preparar.

- Enquanto espero ficarei observando a lua e as estrelas.

Maria levantou-se para ir à cozinha e José ficou na cadeira de balanço, balançando e ouvindo a voz das estrelas cantando pra lua. Era apenas um lugar, que ficou escondido no tempo em que a cadeira balançava na varanda, tocada pelo vento, protegida do sol, protegida da chuva, dos olhares ermos que passavam na estrada, dos sonhos que vagavam perdidos, enquanto o outono não dobrava a esquina pra deixar a manhã vazia.

Maria voltou com a laranjada e colocou sobre a mesa, ao lado de José, mas ele não esticou a mão para pegar, ela sentiu um aperto no coração quando viu seus olhos fechados.

- “Talvez tenha dormindo” – Pensou

- José

- José

Ela tocou seu ombro e sua cabeça caiu para o lado

- Meu velho, não me deixe sozinha

- Não me deixe sozinha meu amor, não me deixe sozinha

O vento parou de balançar a cadeira e a lua escondeu-se atrás das nuvens que deixaram as lágrimas caírem na noite.

Arnoldo Pimentel

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