MILENA

Voltava eu à Pátria, à pequena
ilha onde nascera e me criara
e donde, inda criança, me empurrara
a o destino cruel que tudo ordena.
Voávamos de tarde, tarde amena,
calma, sem nevoeiro, tarde clara.
Para os céus açorianos, tarde rara
de começos de Abril... assim serena.
Como depois me disse, ela também
voltava às raízes, ao torrão
donde a levara um dia sua mãe,
pouco antes de nascer, a partilhar,
já desde então, da triste condição
desta fatal diáspora insular...


Vinha vazio o voo. Éramos três.
Mas mil que fossem, eu tinha notado,
de certo, aquele rosto aureolado
dum misto de ousadia e timidez.
Não sei se houve no mundo alguma vez
encontro entre amantes, combinado
numa existência e noutra consumado...
não sei se amor refaz o que desfez
a morte. Sei que a atracção nasceu
logo ao primeiro olhar e que cresceu
a cada novo olhar, para nos guiar
como inexorável fatalismo,
irresistível, místico tropismo,
e aos braços um do outro nos lançar.


E sei que tive então clara noção,
claríssimo presságio, cristalino...
que se traçava ali o meu destino
- e o dela - para o próximo verão.
É que, para além da mística atracção
daquele ar transcendente e peregrino,
vinha dela um eflúvio feminino
que concitava certa tentação...
Telúrico apetite, plexo astuto
que, a cada doce enleio e inocente
arroubo de meiguice e de ternura,
nos cobra o erótico tributo
da lasciva avidez, desejo ardente,
que o mais cândido afecto transfigura...


É que era mesmo linda a criatura,
cinturinha de vespa, vaporosa,
boquinha sensual, apetitosa,
a prometer delírios de doçura.
E aqueles maneirismos de insegura,
ora me dando os olhos, curiosa,
ora mos retirando de medrosa,
a suscitar reparos de censura
da velha companheira mais prudente...
Mas quem pode conter o amoroso
apelo dum corpinho tão bem feito,
quando o incita olhar tão insistente
num palminho de cara tão formoso,
e um sorrir tão discreto... contrafeito?


O olhar entre azul e o cinzento,
conforme a timidez ou ousadia
com que do meu fugia ou insistia,
ao oscilar do vário sentimento.
O cabelo era longo, louro e lento...
em queda que dos ombros lhe escorria,
dourada catarata que luzia
em reflexos de luz e movimento.
Mas não eram os olhos, o cabelo,
os lábios, o pescoço, a tez tão pura...
havia ali mais profundo apelo:
mística vibração que me atraía,
pujante de meiguice e ternura,
que me incitava, que me seduzia.


Para lhe falar faltou-me a ousadia...
ou talvez fosse o medo de quebrar
aquele doce enleio. Ia esperar
o desembarque e então lhe falaria.
Ela também de certo que não ia
na presença da outra aceitar
que me apresentasse. Era acirrar
os zelos com que ela a protegia.
E o verdadeiro amor é cauteloso,
avança pouco a pouco, a passo leve,
é paciente, é meigo, é receoso...
a correr riscos graves não se atreve,
de frágil que se sente e melindroso...
E foi amor assim que me conteve.


O desembarque foi uma surpresa...
é que, apesar de tarde, havia então,
no terminal, enorme multidão
à espera doutro voo com certeza.
E o meu plano de usar de gentileza,
de a ajudar, de ter uma atenção,
de lhe falar, desfez-se em frustração...
de nada me serviu a subtileza...
Mas, como nos amores estorvados,
em que, a cada novo estorvo, mais aumenta
a fome dos desejos não logrados,
quanto mais a matrona ma levava
a perder-se na turba, sonolenta,
mais eu a queria, mais a desejava.


Chamava-lhe Milena a companheira:
-Milena, espera! Olha, um momento...
a saída é ali... O guarda-vento,
vês?... Olha, vai atrás da bagageira.

Já bem entrada em anos, ar de freira
que se evadira há pouco do convento,
modo desconfiado, rabugento,
de abadessa mandona, rija, inteira...
Milena obedeceu-lhe e foi atrás
da bagageira... A outra perspicaz
e má, olhou-me e regougou danada,
qualquer abominável bizarria
que nem eu entendi, mas que trazia
o hálito da guerra declarada.


No hall, enfim, entre o beijo de alguém
que a vinha receber e um segredo,
que ali lançava as teias dum enredo,
olhou-me novamente com desdém
(e a do segredo e beijo olhou também).
Estremeci. Não foi por lhes ter medo,
mas por sentir-me, no olhar azedo
das duas, tão sozinho, sem ninguém...
É nos beijos, abraços, nos carinhos
que os felizes se dão, que os sozinhos
se revêem em toda a amargura
da sua solidão.Não há tristeza
mais triste, mais amarga, que a certeza
que ninguém nos espera com ternura.


Não pode haver miséria mais severa,
não há maior tristeza maior dó,
do que voltar à Pátria, triste e só,
sem um abraço amigo à nossa espera.
É que o próprio abandono degenera
em recusa cruel... O próprio pó
em que agoniza, abandonado, Job,
no desprezo a que Deus o expusera,
recusa o desgraçado que só quer
aninhar-se no pó para morrer.
Não há maior tristeza, maior dor.
Beijo, segredo, olhares de desdém...
tudo ali me doía... mas ninguém
ali à minha espera, era pior!



 




VELHO GONÇALO

Instalei-me na quinta dum amigo,
companheiro de exílio que, como eu,
deixara, um dia, tudo o que era seu,
para ir juntar migalhas de mendigo
na emigração. Não pôde vir comigo,
que a labuta da vida lho tolheu.
Foi o Gonçalo quem me recebeu,
Velho caseiro ilhéu ao modo antigo:

-E o Menino Luís ficou por lá,
só Deus sabe por onde, ao deus-dará...
enfim... a vida. Eu não entendo nada
de nada já... Mandou carta a dizer
que tu vinhas aí, a refazer
a saúde que trazes abalada....

 

 

Velho Gonçalo!... o mais fiel caseiro
que houve nestas ilhas e o mais fino...
A quinta era o seu reino e o seu destino:
a verde laranjeira, o limoeiro,
a toranjeira, o universo inteiro
do sumarento mundo do citrino
crescia, obedecendo ao divino
poder daquelas mãos de feiticeiro...
Crescia, modelando-se em umbelas,
que se enchiam de frutas amarelas...
enormes cogumelos que os meus sonhos
prístinos de criança encantavam
e, nos dias chuvosos, imitavam
guarda-chuvas gigantes e bisonhos.



 

Velho Gonçalo, que recordações!
Que ralhos contra as nossas correrias...
e os ninhos, meu velhote, que tu ias
mostrar-nos pelos bardos... e as lições
que tu nos davas, quando rapagões
queríamos saber de mergulhias,
de garfos e de estacas... de enxertias.
Saudades, meu Gonçalo, nem supões
quanto as saudades tuas e as lembranças
da quinta de quando éramos crianças...
quanto elas preencheram as conversas
tristes do nosso exílio e desespero...
Mas deixa, meu Gonçalo que eu não quero
Ralar-te com memórias tão perversas.


 

-Ficas no quarto grande... até convém
no quarto grande que era do Luís,
já que ele não pôde ou não quis
acompanhar-te. Há anos que não vem,
os velhotes morreram, eu também
já vou ficando... como o outro que diz,
não tenho forças, sinto-me infeliz...
é que afinal não tenho cá ninguém.

Afloravam, nos olhos do Gonçalo,
lágrimas más... queria consolá-lo
mas ele esquivou-se: -deixe, deixe...

são lamúrias de velho, parvoíces...
duas vezes criança... são tolices.
Não há razões para que ninguém se queixe.


 

 

 

-É o quarto maior que cá se arranja,
disse o caseiro feito intendente
do velho casarão remanescente
dos tempos opulentos da laranja.
Quando a vertente sul, em toda a franja
marítima da ilha, lentamente
se transformara em laranjal verdente...
cada palmo de terra, cada granja.
Durou pouco a benesse, e das fortunas
que se fizeram a carregar escunas
e brigues e chalupas... só ficou
um ou outro chalé arruinado,
incoerente eco dum passado
que há muito se extinguiu e se calaram.



 

 

O quarto do Luís... Oh, decepção
dos espaços que morrem! Oh,  vazio
das paredes sem eco - tudo frio -
Oh! O frio da vossa solidão!
Como eu tentei reanimar-te então,
ó quarto do Luís, atar o fio
de mil reminiscências que partiu
o tempo ao diluir-se. Oh, dispersão!
E eu que brincara ali vezes sem fim
andei, em vão, a procurar por mim...
só vislumbrei algum farrapo absorto,
agonizando ao longe, num passado
incoerente, absurdo, desfasado...
Tudo sem vida... tudo, tudo morto!


 

 

A estante com os livros lá estava,
linhas de pesca, os laços da moreia,
as barbatanas – patas de sereia –
que era o que a Ricardina lhes chamava...
a Ricardina... sim... bem me lembrava,
o que era feito dela? –Uma canseira,

casou e foi viver para a Madeira
-informou a Florinda que arrumava
o quarto abandonado, e que vinha

-dia sim dia não – alternativos -
lavar, limpar, fazer a comidinha
para este velho..
. arranjo que já vinha
do tempo em que os velhotes eram vivos,

-pediu-mo a Senhora, coitadinha...


 

-A Ricardina! Os pais ainda estão.
O Ti Canastra havia de gostar
de ver-te... a ti e ao Luís... Ao mar,
há muito que não vai... A embarcação,
a lancha, em que naquela ocasião,
lembras-te ?... o mar a rebentar
e o Ti Canastra sem poder varar!
Jesus, que mar... cada arrebentação!
A lancha foi entregue ao tribunal.
Dívidas. Gente pobre é mesmo assim.
Ricardina morreu no hospital,
por lá. Diz que de flato, cá por mim,
não estava lá, não vi, mas o pardal

do marido... ai, coisa mais ruim!


 

Boa Florinda, se lhe davam trela...
-Ó mulher, você também quando começa...
inda não se comeu... e não se esqueça
que agora somos dois! Que tagarela!...

Era o Gonçalo a ralhar com ela,
lá da cozinha. Ela foi-se à pressa
e eu fiquei ruminando na promessa
dumas sopinhas frescas da panela
em que ela punha mil e um esmeros.
...e saberes antigos... que os penates
guardavam na despensa, entre os temperos
com que ela camuflava disparates,
esturros e guisados exageros
de alhos, de cebolas, de tomates...


 

 

Nas sopas da panela não, que as fazia
sempre muito bem feitas, a rigor...
obras de muito cheiro e de sabor.
A terrina de louça em que as servia
fumegava na mesa e rescendia
a hortelã pimenta... um primor
que eu sempre lhe gabava com fervor:

-As suas sopas são uma magia!
-Mais ou menos... a gente cá se ajeita...
-Florinda há-de me dar essa receita
para eu levar para lá, para o Luís.
-Pois sim. Nada mais fácil. Qualquer
tipo da carne... frango... Quem quiser
-se for tempo de caça  - codorniz.


 

-Coze-se a carne e coze-se o toucinho,
entremeado – bom é o do fumeiro...
A linguiça também... Vai tudo inteiro
com muita hortelã e um galhinho,
pequeno – quem tiver – de rosmaninho...
não há nada que dê aquele cheiro...
Coze-se tudo bem. O pão... caseiro,
rijinho... para ensopar bem o molhinho,
no fundo da terrina às fatias.
Por cima, as carnes, e essas bem macias...
a linguiça, o toucinho e... O caldinho
em que tudo cozeu, inda bem quente,
vai por cima de tudo. Ah, um dente
de alho, ou dois, que é para dar gostinho.

 

E voltou-se a falar da Ricardina,
do Tonho e do Rui, e do Albano...
dos  que tinham partido ano após ano,
cumprindo aquela dura e triste sina
da emigração... ou fuga clandestina
que os levava a cruzar o oceano,
no porão dum navio americano,
e daí para a cadeia... e para a ruína.
Todos os do meu tempo e criação,
e muitos que eu não tinha conhecido,
tinham partido atrás de vãs esperanças,
deixando os seus na triste condição
de povo destroçado, reduzido
a velhos, a mulheres e crianças.


 

-Não , isto já não é o que era dantes,
- diz o Gonçalo, e a Florinda aprova -

estão todos como eu, de pés para a cova,
uma velhada às sopas de emigrantes...

Aqui, ela discorda: -Os tratantes
dos retornados são gente bem nova,
mas pede-se uma ajuda... uma ova!
Uns egoístas, uns comerciantes...

E assim, entre os queixumes do Gonçalo
de que eu nunca pude consolá-lo,
e os ralhos rabugentos da Florinda,
vivia eu na quinta,  infeliz,
a maldizer a ideia do Luís
que tinha sugerido a minha vinda...

 

 

Mal saía de casa e, se saía,
era para voltar mais deprimido
que o abandono em que tinha caído

a pobre vila, quanto mais o via,
tanto mais me custava e entristecia.
Ruas desertas que tinham perdido
o riso das crianças... e esquecido
as vozes do passado e a alegria.
Assim à minha volta foi surgindo
um vazio tão triste, uma orfandade
tão grande, tão total, tão desolada...
e foi-se, na minha alma, erigindo
um espaço de sombra em que a saudade
se ia delindo aos poucos... apagada.




 

JOSEFINA

 

 

Até aquela imagem feiticeira,
-Milena -  já se esvanecia então,

delindo-se a gentil recordação...
Mas numa certa tarde soalheira,
sempre guardada pela companheira,
fui encontrá-la lendo no salão
paroquial, o único rincão
que, ali na vila, tinha a lisonjeira
honra de se chamar biblioteca.
Lia atentamente e recorria
A um velho dicionário destroçado.
Falámos. Pareceu-me um tanto seca
talvez por timidez, ou cortesia...
ou certo ar de surpresa... reservado.

 

 

Foi breve o encontro, mas valeu a pena,
que, sem palavras quase, uma certeza
ficou clara entre nós: que a firmeza
da nossa submissão seria plena.
E assim nos aceitámos na serena
e necessária dor, e na estranheza
de alguém que se contempla na leveza
dum destino a que Eros o condena.
Nem nos beijámos. Apenas se roçaram
as nossas mãos, confusas, constrangidas.
Os olhos sim, que só eles disseram
o que os lábios, surpresos, não ousaram...
pois não carece serem proferidas
promessas que nos olhos se esconderam.

 

Ao outro dia voltei eu ao salão,
na esperança que talvez ela viria,
e desta vez sozinha, sem a... guia,
cuja presença eu tinha por razão
do embaraço e da hesitação
com que Milena então correspondia
à minha exaltação e  alegria.
Não aparece. Espero, mas em vão.
Só no regresso, quando já frustrado,
atravessava um espaço arborizado,
lá no centro da vila, a avistei.
Mal me viu, correu a me encontrar
e, ali, mesmo antes de cumprimentar,
pôs-se a falar da outra. Eu escutei.  

 

 

Chamava-se a matrona Josefina,
a tia Josefina, em quem Milena
se habituara a ver desde pequena
uma segunda mãe. –Mas é malina...
tu nem calculas. Eu sou ‘a menina’...
rapaz que se aproxime, é uma cena,
fica raivosa, às vezes põe-se obscena,
gestos desaforados de varina...
Se ontem não berrou, foi com vergonha
do padre. Lá em casa foi medonha,
ralhou, ralhou, julguei que me batia!
E quer levar-me já daqui para fora...
‘vamos para longe, vamo-nos embora,
aqui mais não, aqui nem mais um dia!’

 

 
Emocionada, os olhos rasos de água,

Milena soluçou e fez beicinho
de quem ia chorar. Tiro um lencinho
acudo, envolvo-a no meu braço, afago-a...
Enxugo, meigo, toda aquela mágoa
que lhe alagava o rosto, e o mominho
rasgou-se-lhe num débil sorrisinho.
E recostada no meu ombro trago-a
para um recanto mais íntimo. Ela então
me abriu aí de todo o coração...
falou de Josefina, e da surpresa
que lhe tramava a maldita mulher.
E como conseguira esconder
por tanto tempo tamanha torpeza.

 



-Quer que eu case. Que eu case! Imagina!
com um homem de cá... aquela fera!
Diz que ainda é seu sobrinho, e diz que era
este o destino que em pequenina
me reservava minha mãe... Cretina!
E eu a imaginar que me trouxera
a vir passar aqui a primavera
para me dar prazer... e ela maquina,
maldita, uma coisa destas! Má!...
mulher sem dó!... Mas não conseguirá,
porque eu recuso. Nem eu quero vê-lo!
Nem quero ouvir falar da criatura!
Nem desse arranjo, dessa impostura...
que isto é mentira... Deus, que pesadelo!

 

 

-Eu nunca imaginei. Nunca! Meu Deus!
Agora é que eu entendo os modos dela,
aqueles zelos todos, a cautela
com que ela me guardava dos ‘ateus’,
como ela lhes chamava... até dos seus
primos e tios... toda a parentela:
‘é homem é ateu, tu és donzela
não se fala com esses camafeus’!
Às vezes eu até achava graça,
meu Deus que tola eu era, que inocente...
e nunca suspeitei desta trapaça!
Falava-me dum primo cá da ilha,
‘rico e bonito, um homem competente
para casar com a minha própria filha’...

 

 

E chorando contou-me ali também
como ficara órfã, pequenina,
como a criara a tia Josefina,
que nunca conhecera outra mãe...
E que a tratava sempre muito bem...
só com aquela raiva viperina
aos homens... a constante serrazina
a que se habituara ela também...
-Nunca saía só: ‘ou vou contigo
ou tu não vais’. Nunca tive um amigo,
e amigas, se tinham um irmão...
Porque é que só agora revelou
todo o controlo em que me criou?
Porque não disse antes?... que aflição!...

 


-E que faço eu agora? Ela quer
apresentar-me ao homem. Diz que estou
em perigo de vida... e já mandou
dizer-lhe que viesse para me ver.
E agora eu não sei que hei-de fazer...
Não tenho cá ninguém... E desatou
num choro tal que quase sufocou...
Eu não podia ainda entender
o drama todo em que se debatia,
o que ela me dizia não podia
ser a verdade toda... era impossível...
E suspeitava ali muito exagero,
aquele choro, aquele desespero,
aquela história absurda... era incrível.

 

 
-Olhe, Milena, eu não entendo bem:

há muito de esquisito em tudo isso.
Se a sua tia tem um compromisso
para casá-la, a si, com alguém
sem seu consentimento, ele não tem
qualquer valor, é totalmente omisso.
E nem importa que ela meta nisso
possíveis intenções da sua mãe.
A Milena só tem de dizer não!
Mas, ouça cá, será que a pressão
familiar também vem doutro lado?
Quando chegámos cá, no outro dia,
quem foi que a beijou, à sua tia,
no hall depois de termos aterrado?

 

 
-Foi uma amiga dela, a Guiomar,
- a retornada - que foi receber
a minha tia. Ela é também mulher
do dono da pensão, o Doce Lar,
onde nos fomos ambas hospedar...
Mas ai, meu Deus, se vem ela a saber
que eu saí de casa para te ver!
Tenho de ir. Tenho de voltar.
Adeus, procuro-te outra vez, amigo.
Seja onde for, eu hei-de ir ter contigo.
Detive-a um momento: - Não se esqueça,
procure-me na Quinta da Galera
é lá que eu vivo. Estou á sua espera.
Ela selou num beijo a promessa.



(continua)