Mais uma história de amor:
A fotografia
‘Quantas vezes conversando com amigos ou mesmo estranhos tomamos conhecimento de historias lindas seja de vida, amor, desilusão, e que com o passar do tempo, caem no esquecimento. Por isto, resolvi contar uma delas, que considero fantástica, e seria uma maldade não mostrá-la, porque sei que muitas pessoas já passaram perto ou vivenciaram coisa semelhante. ’
Numa cidade do interior de Minas Gerais, vive Celeste, é professora de piano em uma renomada escola de música. Têm um casal de filhos, Caue e Iracema, suas paixões incondicionais.
Dedicada à família e, depois de divorciada, voltou-se mais às suas atividades. Com isto, produção e eficiência são as suas bandeiras. Não se deixa levar por propostas sedutoras porque vive com os pés no chão. Sua sobriedade não permite que seja extravagante e até no seu vestir reza o clássico, marca de bom senso e discrição, que é seu lema também nos relacionamentos pessoais e profissionais. Pessoa integra!
Houve um tempo que Celeste viveu e presenciou parte de seu inferno astral. Mas nada disto a fez perder a fé no futuro, soube com maestria contornar toda a situação e foi aí, que tudo começou...
Certo dia seu filho pediu que ela o ajudasse a escolher um presente para sua namorada. Um que fosse inesquecível.
Daí teve uma idéia original: uma caixa de jóias e dentro dela a caricatura das pessoas que lhe queriam bem.
Original sim, mas quem faria as caricaturas?
Caue disse que tinha um professor de desenho que fazia caricaturas muito boas e que precisaria apenas das fotos pra que ele executasse o trabalho. Assim foi feito.
No dia do aniversário de sua nora o presente foi dado. A caixa de jóias com as preciosas pérolas: as caricaturas lindas, perfeitas!
Viu a de seus filhos, seu marido, mas uma coisa estava faltando... A sua própria caricatura.
Bem, Caue ficou de saber com o professor o que havia acontecido.
Como a engrenagem do tempo não perdoa, a vida escoa sem percebermos e passam dias, meses, quando acordamos passou-se anos.
Sabemos que vivemos uma rotina e não temos necessidade de mais nada porque confiamos que a vida é assim, uma sucessão de instantes maravilhosos e só.
Ah, mas um belo dia, a vida vem nos cobrar e de forma inusitada...
Celeste estava lecionando calmamente em sua sala quando a diretora e amiga adentrou-se e disse que havia um homem precisando de ajuda para musicar um texto e que acreditava ser ela a pessoa certa. Então Celeste pediu licença aos alunos e se foi.
O homem estava sentado perto da janela e logo que a avistou levantou-se e veio sorrindo ao seu encontro: _ Prazer, sou Eternon, como vai? Como uma colegial conseguiu balbuciar apenas seu nome. Gente, o que era aquele olhar?! Quente, sensual, capaz de derreter as geleiras do pólo norte...
À medida que a conversa fluía ia percebendo que a vibração do ambiente havia mudado, aliás, ela estava mudando, a impressão que tinha era que o magnetismo daquele homem estava mexendo com seus nervos e não entendia o que aqueles efeitos estavam lhe causando...
Sabia apenas que era excitante inovador e imprevisível.
Logo ela, uma pessoa ciente de sua personalidade, não se preocupava com o passado, nem tão pouco criava expectativas com o futuro. Encontrava-se ali, de espírito livre, pronta pra uma nova viagem...
Que asneira, meu Deus! Vou tentar me concentrar no que ele está falando. Não podia fugir do foco: musicar o texto. E assim fez até a despedida.
Mas teve a oportunidade de certificar que não só ela havia ficado balançada quando antes do adeus final ele lhe disse: _ Tenho a impressão de que a conheço há muito tempo. Seu rosto me é tão familiar...
O numero do telefone num papel em suas mãos era a prova cabal daquele encontro ter acontecido.
Nos dias seguintes sentada ao piano harmonizava o texto para que se tornasse uma música, mas a todo o momento incorria nos impulsos da sensualidade e emoção expressiva daquilo que realmente ia a sua alma.
O texto em si versava da comunhão do consciente e inconsciente das velhas paixões. Do domínio masculino na arte de penetrar no âmago da feminilidade a ponto de colocá-la submissa aos seus encantos. O triunfo dos mistérios da vida onde a sabedoria faz doce a alma dos amantes. Celeste corria o dedo pelas teclas brancas, pretas e dali tirava nuances dos tons maiores e menores. Quando menos esperava, travava uma batalha nos acidentes que desconhecia... Enfim, música pronta!
Hora de encarar o que mais temia. O homem que depois de anos de casada a fez repensar na vida que vinha trazendo. O único que conseguira realmente despertar um coração aparentemente adormecido. Casara-se muito nova, aceitara o fato. Nascida em família convencional achou natural que fosse assim. Logo depois vieram os filhos. Luz e bênçãos em sua pacata vida de dona de casa e professora. O amor? Bem, aquele que os poetas falam, ainda não conhecera.
Celeste sentia as mãos tremerem quando discava os números daquele telefone que aterrorizara suas noites em que insone rolava sobre os lençóis embaraçados. Então, ouviu a voz do outro lado do fio mansa e sensual. Falaram por alguns minutos e marcaram o encontro para o dia seguinte na escola em que ele lecionava. Coincidência ou não era a mesma em que seus filhos estudavam.
Levantou-se animada e revirou todo o seu armário a cata de uma roupa que combinasse para essa ocasião. Por fim, vestiu-se como sempre saia justa, blusa e casaquinho. Detalhe singular apenas no colar de contas acetinadas. Na mão esquerda brilhava a aliança...
A procurá-lo, não imaginava que um tufão atravessaria sua vida, revolucionando conceitos, preceitos e tantas outras coisas que implicariam de maneira a transformar seu futuro para sempre.
Lá chegando procurou alguém que a encaminhasse até ele. E para sua surpresa: Eternon era o professor do seu filho. O caricaturista que ainda tinha a sua fotografia. Soube disto assim que a viu nas mãos dele. E fez a pergunta que não conseguiu calar dentro de si: _ Por que você não fez a minha caricatura? E ele lhe respondeu: _ Não consegui. Para o caricaturista é preciso encontrar um pequeno defeito para trabalhar o exagero em cima dele e você, Celeste, é perfeita!
Celeste sentia suas pernas como geléias e procurou se sentar, pois não suportaria desfalecer a sua frente. Muito difícil lidar com certas situações principalmente quando estamos envolvidos emocionalmente. Ainda constrangida apresentou o texto já harmonizado e gravado em um cedê.
Eternon parecia lançar naquele olhar fagulhas de paixão e ela a cada minuto se sentia rendida e perdida. Isto a estava deixando louca. Além de tudo o aro dourado não a deixava esquecer o seu estado civil. O compromisso selado com alguém num dia longínquo e que sem mais e nem menos, descobriu-se amando verdadeiramente pela primeira vez... Eternamente... Eternon...
Saiu dali como se um raio tivesse cortado os céus. E ao chegar a casa refugiou-se no quarto. A noite veio surpreendê-la ainda vestida sobre o edredom molhado pelas lágrimas que há muito tempo não derramava.
O que fazer agora? Em sua cabeça girava tantos pensamentos que não percebia como o amor tece artimanhas para nos pegar.
Na semana seguinte recebeu uma ligação de Eternon que agradecia e perguntava o preço do trabalho tão bem efetuado e que o encantara. Não podia entender como havia captado toda a essência que ele queria colocar naquela letra escrita num momento único em que havia deitado seu pensamento na fotografia da mãe de um de seus alunos. Celeste permanecia muda incapaz de responder. Na verdade não sabia o que falar. Parecia ter voltado no tempo em que um gato teria comido sua língua...
Ah, o amor! Faz de nosso coração um menino inconsequente que nos faz beber do mais puro néctar recriando nossas almas num jardim particular. Onde o que impera são as emoções e nunca a razão. Pois foi nesse ferrenho debate que Celeste se envolveu.
Os dias que se seguiram foram tristes, sombrios. A vida que levava entre os afazeres domésticos e as aulas de piano já não bastavam. E aquela pessoa risonha e de bem com a vida passou a ser mostrada só para os parentes e amigos. Longe dos olhos alheios ela se permitia ressentir com o mundo e o desespero de encontrar-se só. Aquele amor devorador, aos poucos entranhava em sua carne, seu sangue, tirando toda a paz de espírito que por anos cultivou.
As noites eram sofríveis. Já não nutria nenhum sentimento ao ser tocada pelo marido. Era difícil admitir até pra si o quanto se esquivava para não fazer amor, às vezes pensava com saudade nos votos que fizera naquela pequena igreja onde casara. Nunca poderia imaginar esse novo rumo que sua vida havia tomado. Já não suportava viver desta forma, escondendo seus verdadeiros sentimentos.
O que deveria fazer? Estava cansada de ter o coração apertado por garras de aço. Onde estariam seus conceitos de fidelidade e lealdade. Com certeza esta situação teria que ter um fim mesmo que trancasse para sempre o segredo do seu coração.
As noites mal dormidas estavam se tornando insuportáveis e as doces lembranças da vida compartilhada com o marido se esfumando. Não tinha outra opção. Chega de sofrimento, de anulação. É chegada à hora de colocar um basta nesta etapa de vida. Assim pensando foi falar com o marido pra pedir a separação. E melhor do que o esperado ele aceitou e respeitou sua decisão. Foi como alivio imediato para os dois. Sem choros e sem mágoas. Afinal o final.
Por algum tempo conseguiu ou fingiu não sentir falta daquele amor que a atormentava sempre nas noites que o sono não vinha. Ou ainda naquelas em que os sonhos eram povoados dos segredos mais íntimos em que tinha medo de revelar até pro seus próprios pensamentos.
Mais a vida tem seus caminhos e quando resolve jogar quem somos nós pra trapacear. Ela sabe onde mexer seus peões e quando menos se espera: xeque mate!
Festas em cidades pequenas todo mundo se encontra e numa delas, Eternon e Celeste, haveria um dia de se cruzar. No inicio um encontro tímido, depois de uns drinques a conversa ficou mais animada.
Foi uma sucessão de encontros e cada um deles se descobria afinidades, idealismo. A cumplicidade crescia à medida que o relacionamento desenvolvia. Num certo momento já não podia esconder sentimentos e emoções. Mas como manter um relacionamento de tamanha proporção dos olhos alheios? Viveria um romance desta natureza clandestinamente? Eram tantas as duvidas as conjecturas...
A vida é um grande palco onde as cordas invisíveis das leis do amor regem com destreza a sua sinfonia. O cenário onde se monta e remonta as lindas historias de amor, descobriu a de Celeste e Eternon, que além de verdadeiro e profundo mostrou como uma mulher de fibra pode mudar seu destino sem vulgarizar tudo que viveu por um homem que chegou repentinamente em sua vida. Soube moldar a estrutura familiar sem magoar e fazer sofrer aqueles que ela ama.
Hoje por acaso encontrei os dois passeando numa feira livre num largo em BH.
Pareceu-me tão felizes que não quis atrapalhar, deixei apenas que a vida se encarregasse de fazê-los felizes.
Julho de 2009.
A fotografia
‘Quantas vezes conversando com amigos ou mesmo estranhos tomamos conhecimento de historias lindas seja de vida, amor, desilusão, e que com o passar do tempo, caem no esquecimento. Por isto, resolvi contar uma delas, que considero fantástica, e seria uma maldade não mostrá-la, porque sei que muitas pessoas já passaram perto ou vivenciaram coisa semelhante. ’
Numa cidade do interior de Minas Gerais, vive Celeste, é professora de piano em uma renomada escola de música. Têm um casal de filhos, Caue e Iracema, suas paixões incondicionais.
Dedicada à família e, depois de divorciada, voltou-se mais às suas atividades. Com isto, produção e eficiência são as suas bandeiras. Não se deixa levar por propostas sedutoras porque vive com os pés no chão. Sua sobriedade não permite que seja extravagante e até no seu vestir reza o clássico, marca de bom senso e discrição, que é seu lema também nos relacionamentos pessoais e profissionais. Pessoa integra!
Houve um tempo que Celeste viveu e presenciou parte de seu inferno astral. Mas nada disto a fez perder a fé no futuro, soube com maestria contornar toda a situação e foi aí, que tudo começou...
Certo dia seu filho pediu que ela o ajudasse a escolher um presente para sua namorada. Um que fosse inesquecível.
Daí teve uma idéia original: uma caixa de jóias e dentro dela a caricatura das pessoas que lhe queriam bem.
Original sim, mas quem faria as caricaturas?
Caue disse que tinha um professor de desenho que fazia caricaturas muito boas e que precisaria apenas das fotos pra que ele executasse o trabalho. Assim foi feito.
No dia do aniversário de sua nora o presente foi dado. A caixa de jóias com as preciosas pérolas: as caricaturas lindas, perfeitas!
Viu a de seus filhos, seu marido, mas uma coisa estava faltando... A sua própria caricatura.
Bem, Caue ficou de saber com o professor o que havia acontecido.
Como a engrenagem do tempo não perdoa, a vida escoa sem percebermos e passam dias, meses, quando acordamos passou-se anos.
Sabemos que vivemos uma rotina e não temos necessidade de mais nada porque confiamos que a vida é assim, uma sucessão de instantes maravilhosos e só.
Ah, mas um belo dia, a vida vem nos cobrar e de forma inusitada...
Celeste estava lecionando calmamente em sua sala quando a diretora e amiga adentrou-se e disse que havia um homem precisando de ajuda para musicar um texto e que acreditava ser ela a pessoa certa. Então Celeste pediu licença aos alunos e se foi.
O homem estava sentado perto da janela e logo que a avistou levantou-se e veio sorrindo ao seu encontro: _ Prazer, sou Eternon, como vai? Como uma colegial conseguiu balbuciar apenas seu nome. Gente, o que era aquele olhar?! Quente, sensual, capaz de derreter as geleiras do pólo norte...
À medida que a conversa fluía ia percebendo que a vibração do ambiente havia mudado, aliás, ela estava mudando, a impressão que tinha era que o magnetismo daquele homem estava mexendo com seus nervos e não entendia o que aqueles efeitos estavam lhe causando...
Sabia apenas que era excitante inovador e imprevisível.
Logo ela, uma pessoa ciente de sua personalidade, não se preocupava com o passado, nem tão pouco criava expectativas com o futuro. Encontrava-se ali, de espírito livre, pronta pra uma nova viagem...
Que asneira, meu Deus! Vou tentar me concentrar no que ele está falando. Não podia fugir do foco: musicar o texto. E assim fez até a despedida.
Mas teve a oportunidade de certificar que não só ela havia ficado balançada quando antes do adeus final ele lhe disse: _ Tenho a impressão de que a conheço há muito tempo. Seu rosto me é tão familiar...
O numero do telefone num papel em suas mãos era a prova cabal daquele encontro ter acontecido.
Nos dias seguintes sentada ao piano harmonizava o texto para que se tornasse uma música, mas a todo o momento incorria nos impulsos da sensualidade e emoção expressiva daquilo que realmente ia a sua alma.
O texto em si versava da comunhão do consciente e inconsciente das velhas paixões. Do domínio masculino na arte de penetrar no âmago da feminilidade a ponto de colocá-la submissa aos seus encantos. O triunfo dos mistérios da vida onde a sabedoria faz doce a alma dos amantes. Celeste corria o dedo pelas teclas brancas, pretas e dali tirava nuances dos tons maiores e menores. Quando menos esperava, travava uma batalha nos acidentes que desconhecia... Enfim, música pronta!
Hora de encarar o que mais temia. O homem que depois de anos de casada a fez repensar na vida que vinha trazendo. O único que conseguira realmente despertar um coração aparentemente adormecido. Casara-se muito nova, aceitara o fato. Nascida em família convencional achou natural que fosse assim. Logo depois vieram os filhos. Luz e bênçãos em sua pacata vida de dona de casa e professora. O amor? Bem, aquele que os poetas falam, ainda não conhecera.
Celeste sentia as mãos tremerem quando discava os números daquele telefone que aterrorizara suas noites em que insone rolava sobre os lençóis embaraçados. Então, ouviu a voz do outro lado do fio mansa e sensual. Falaram por alguns minutos e marcaram o encontro para o dia seguinte na escola em que ele lecionava. Coincidência ou não era a mesma em que seus filhos estudavam.
Levantou-se animada e revirou todo o seu armário a cata de uma roupa que combinasse para essa ocasião. Por fim, vestiu-se como sempre saia justa, blusa e casaquinho. Detalhe singular apenas no colar de contas acetinadas. Na mão esquerda brilhava a aliança...
A procurá-lo, não imaginava que um tufão atravessaria sua vida, revolucionando conceitos, preceitos e tantas outras coisas que implicariam de maneira a transformar seu futuro para sempre.
Lá chegando procurou alguém que a encaminhasse até ele. E para sua surpresa: Eternon era o professor do seu filho. O caricaturista que ainda tinha a sua fotografia. Soube disto assim que a viu nas mãos dele. E fez a pergunta que não conseguiu calar dentro de si: _ Por que você não fez a minha caricatura? E ele lhe respondeu: _ Não consegui. Para o caricaturista é preciso encontrar um pequeno defeito para trabalhar o exagero em cima dele e você, Celeste, é perfeita!
Celeste sentia suas pernas como geléias e procurou se sentar, pois não suportaria desfalecer a sua frente. Muito difícil lidar com certas situações principalmente quando estamos envolvidos emocionalmente. Ainda constrangida apresentou o texto já harmonizado e gravado em um cedê.
Eternon parecia lançar naquele olhar fagulhas de paixão e ela a cada minuto se sentia rendida e perdida. Isto a estava deixando louca. Além de tudo o aro dourado não a deixava esquecer o seu estado civil. O compromisso selado com alguém num dia longínquo e que sem mais e nem menos, descobriu-se amando verdadeiramente pela primeira vez... Eternamente... Eternon...
Saiu dali como se um raio tivesse cortado os céus. E ao chegar a casa refugiou-se no quarto. A noite veio surpreendê-la ainda vestida sobre o edredom molhado pelas lágrimas que há muito tempo não derramava.
O que fazer agora? Em sua cabeça girava tantos pensamentos que não percebia como o amor tece artimanhas para nos pegar.
Na semana seguinte recebeu uma ligação de Eternon que agradecia e perguntava o preço do trabalho tão bem efetuado e que o encantara. Não podia entender como havia captado toda a essência que ele queria colocar naquela letra escrita num momento único em que havia deitado seu pensamento na fotografia da mãe de um de seus alunos. Celeste permanecia muda incapaz de responder. Na verdade não sabia o que falar. Parecia ter voltado no tempo em que um gato teria comido sua língua...
Ah, o amor! Faz de nosso coração um menino inconsequente que nos faz beber do mais puro néctar recriando nossas almas num jardim particular. Onde o que impera são as emoções e nunca a razão. Pois foi nesse ferrenho debate que Celeste se envolveu.
Os dias que se seguiram foram tristes, sombrios. A vida que levava entre os afazeres domésticos e as aulas de piano já não bastavam. E aquela pessoa risonha e de bem com a vida passou a ser mostrada só para os parentes e amigos. Longe dos olhos alheios ela se permitia ressentir com o mundo e o desespero de encontrar-se só. Aquele amor devorador, aos poucos entranhava em sua carne, seu sangue, tirando toda a paz de espírito que por anos cultivou.
As noites eram sofríveis. Já não nutria nenhum sentimento ao ser tocada pelo marido. Era difícil admitir até pra si o quanto se esquivava para não fazer amor, às vezes pensava com saudade nos votos que fizera naquela pequena igreja onde casara. Nunca poderia imaginar esse novo rumo que sua vida havia tomado. Já não suportava viver desta forma, escondendo seus verdadeiros sentimentos.
O que deveria fazer? Estava cansada de ter o coração apertado por garras de aço. Onde estariam seus conceitos de fidelidade e lealdade. Com certeza esta situação teria que ter um fim mesmo que trancasse para sempre o segredo do seu coração.
As noites mal dormidas estavam se tornando insuportáveis e as doces lembranças da vida compartilhada com o marido se esfumando. Não tinha outra opção. Chega de sofrimento, de anulação. É chegada à hora de colocar um basta nesta etapa de vida. Assim pensando foi falar com o marido pra pedir a separação. E melhor do que o esperado ele aceitou e respeitou sua decisão. Foi como alivio imediato para os dois. Sem choros e sem mágoas. Afinal o final.
Por algum tempo conseguiu ou fingiu não sentir falta daquele amor que a atormentava sempre nas noites que o sono não vinha. Ou ainda naquelas em que os sonhos eram povoados dos segredos mais íntimos em que tinha medo de revelar até pro seus próprios pensamentos.
Mais a vida tem seus caminhos e quando resolve jogar quem somos nós pra trapacear. Ela sabe onde mexer seus peões e quando menos se espera: xeque mate!
Festas em cidades pequenas todo mundo se encontra e numa delas, Eternon e Celeste, haveria um dia de se cruzar. No inicio um encontro tímido, depois de uns drinques a conversa ficou mais animada.
Foi uma sucessão de encontros e cada um deles se descobria afinidades, idealismo. A cumplicidade crescia à medida que o relacionamento desenvolvia. Num certo momento já não podia esconder sentimentos e emoções. Mas como manter um relacionamento de tamanha proporção dos olhos alheios? Viveria um romance desta natureza clandestinamente? Eram tantas as duvidas as conjecturas...
A vida é um grande palco onde as cordas invisíveis das leis do amor regem com destreza a sua sinfonia. O cenário onde se monta e remonta as lindas historias de amor, descobriu a de Celeste e Eternon, que além de verdadeiro e profundo mostrou como uma mulher de fibra pode mudar seu destino sem vulgarizar tudo que viveu por um homem que chegou repentinamente em sua vida. Soube moldar a estrutura familiar sem magoar e fazer sofrer aqueles que ela ama.
Hoje por acaso encontrei os dois passeando numa feira livre num largo em BH.
Pareceu-me tão felizes que não quis atrapalhar, deixei apenas que a vida se encarregasse de fazê-los felizes.
Julho de 2009.