Às 00:00, 120 km/h, nas curvas da estrada de Santos.
Pelas curvas da estrada de Santos, ela guiava seu carro na velocidade do coração, que por sua vez, pulsava intensamente à espera do reencontro.
Seu rosto, banhado por um turbilhão de lágrimas, era um misto de alívio e ansiedade. Ela estava indo ao encontro do amor de sua vida. E sabia que a história deles, mesmo diante das intempéries do dia-a-dia, não teria fim.
Aquele amor tardio, encontrado num lugar quase anônimo, praticamente num beco, tão pouco provável. Ele, o estranho sobre quem ela lançara um olhar curioso, e que não a enxergara num primeiro momento. Mas, a despeito das probabilidades, um segundo encontro aconteceu e nele, eles se viram. E desde então estavam juntos como peças de uma mesma engrenagem.
Depois, aquela briga, aquele mal entendido que quase colocara termo na união dos dois. Não, não queria mais pensar no tempo em que estiveram longe. Aquele desencontro ficaria para trás como a poeira da estrada.
Agora não haveria senões, nem fofocas, nem intrigas, nem palavras perdidas ao vento. Não. Nunca mais haveriam de separá-los novamente. E enquanto sua mente formulava projetos de um futuro próximo, seus olhos perseguiam o piscar do led anunciando as horas vindouras, 23:30.
Apertava o acelerador, tentando driblar o tempo, 80 Km/h. Mais algumas curvas, estaria junto dele para sempre. Revolvia a bolsa, buscando com o tato o aparelho celular. Deslizava os dedos sobre a tela, relendo as mensagens, do pedido de perdão às declarações de amor. Seus olhos transbordavam e seu coração pulsava mais ágil, mais vivo.
Aquela oração, repetida toda manhã como um mantra, voltava à sua mente agora, “de repente, quem sabe, se abra um portal e por ele eu passe...” e em sua imaginação ele estaria do lado de lá. Ele e a felicidade.
Ela sorria sozinha, sem acreditar no que estava vivendo, de fato o happy end de sua própria história. Misturado à excitação da estrada, o êxtase era a sensação que percorria seu corpo. Queria vê-lo, queria tocá-lo, saciar o desejo daqueles meses de solidão.
A música alta, o vento no rosto, o vai e vem da paisagem, a velocidade da vida, a urgência das horas. E por um segundo, ela não percebeu o aviso de perigo no trecho em declive e, antes que pudesse esboçar uma reação, antes mesmo de compreender o que estava acontecendo, viu-se em voo sobre o abismo infindo. Às 00:00, 120 km/h, nas curvas da estrada de Santos.
18 e 19/01/2012