Depois do Coração Quebrado

Ela o esperava dia e noite. E cada dia era uma nova agonia, cada noite um uma infrutuosa procura do descanso. Ela sabia que o tinha perdido, que não havia mais nada que pudesse fazer para retornar aos seus braços.

Talvez fosse melhor assim. Todos ao seu redor lhe diziam que ela merecia alguém melhor, que a tratasse com verdadeiro respeito, que a valorizasse, que não pretendesse fazer dela outra pessoa. Na verdade ela afastara-se lentamente de muitos dos seus amigos, começara a fazer coisas que antes não fazia, vestir de forma diferente, agir como ele gostava que ela agisse. Deixou de pensar em si mesma, e passou a viver exclusivamente para ele. Mesmo assim, nada do que ela fez foi o bastante para retê-lo, para ocupar por completo seu coração. Ele chegou à conclusão de que viveria melhor sem ela, e foi embora sem olhar para trás.

Porém, a esperança não saía do seu coração, e ela esperava, tolamente, em vão (como sabia ser, bem no fundo do seu ser), que um dia ele aparecesse na porta e a enchesse de beijos.

Até um dia em que ela estava falando com telefone com a mãe, numa dessas conversas amargas de "filha-faz-algo-pela-sua-vida", e ela decidiu que daria ouvidos à sua mãe. Voltaria a ser o que era, procuraria voltar aos seus sonhos, retomar seu caminho. Ele não deixaria tão cedo seu coração, mas ela não podia ficar morrendo, definhando por alguém que se fora tão insensivelmente, sem nenhuma despedida e nenhum arrependimento.

Assim, a mágoa foi guardada no mais profundo do coração, enquanto ela obrigava a si mesma a sair do marasmo em que tinha se convertido sua vida. Mudou-se de casa, para não ter lembranças pouco consoladoras ao voltar do trabalho. Mudou suas roupas, seu cabelo, voltou a contatar os amigos, e continuou com sua vida. E aos poucos, a lembrança dele foi se desbotando, como as cores numa pintura deixada por muito tempo exposta à luz solar. Pouco a pouco foi deixando de associar os lugares, as músicas, as palavras ao que tinha vivido com ele. E conheceu novas pessoas, e leu novos livros, viajou a novos lugares.

E ele, que nunca tinha se interessado em voltar a ela, um dia apareceu. Foi tudo de repente, quase como um clichê de novela, aquele tropeção no meio da rua. Ela estava distraída, sentada na sua pracinha favorita com sua última adquisição literária, desfrutando um bom sorvete. Ele passava por ai, e a viu. Se avizinhou aos poucos, como não querendo chamar sua atenção. Depois, ao ver que ela o tinha percebido, se aproximou e falou com ela. Se perguntaram o que tinha sido da vida de cada um, se cumprimentaram, seguiram seus caminhos. E ela soube que seu grande amor ainda estava esperando por ela em algum lugar. Que aquele homem que a deixara não tinha sido aquilo que ela pensara que ele fora, e que não tinha valido as lágrimas que derramara. E ficou mais feliz, ao saber que tinha conseguido superar essa sombra da sua vida.

Viviana Carolina
Enviado por Viviana Carolina em 19/01/2012
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