Canto para contar um conto

Um sábado desses, estava eu ansiosa por um encontro.

A história resume-se a um ex que estava de volta à cidade, quase já de partida, e que, de certa forma, ainda tinha "assuntos pendentes" com a minha pessoa.

Tudo marcado, local arranjado e lá fui eu com os meus quarenta minutos de atraso e aquela roupa que me deixava mais segura.

Não bastasse a sensação de sudorese que não me largava, havia comigo uma leve sensação de medo. Medo mesmo...

Mas... sentado em uma das primeiras mesas, lá estava ele.

Passei bem em frente para que ele pudesse me ver pelas costas. Assim como eu o havia imaginado há um ano: "pelas costas!"

Com um sorriso de propaganda cumprimentei aos garçons, meus colegas.

O caminho até a mesa foi feito em câmera lenta, passo a passo medido e ensaiado. Chegada digna de uma filmagem hollywoodiana.

Um 'olá' seco foi o prato de entrada.

Um sonoro 'como vai você?' foi a resposta inteligente.

Não sei bem se foi o fato de eu ter me atrasado quarenta minutos ou foi o fato de eu estar mil e duas vezes mais bonita e segura que antes que o fez ter um ar de chateação quando cheguei.

Nada disso me importava muito agora. O que eu realmente queria era impressioná-lo. Por meu poder de dar a volta por cima, pela superação de um grande amor e pela minha roupa. (Tava me achando ótima!)

Cerca de uma hora de conversa, educada e madura, diga-se de passagem, e o teor de álcool tinha de subir, claro!

Foi só isso acontecer pra conversa ir para onde deveria ter ido desde o começo: nossa linda e frustrada história de amor.

Ufa! Resolvidas as pendências do ex-apaixonadíssimo-mais-ela-do-que-ele-casal, o cantor (havia um cantor durante todo o tempo) recebe uma missão divina: fazer com que o ambiente ficasse 'mais agradável' entre nós.

"Você atravessando aquela rua vestida de negro

E eu te esperando em frente a um certo bar Leblon

Você se aproximando e eu morrendo de medo

Ali, bem mesmo em frente a um certo bar Leblon

Quando eu atravessava aquela rua morria de medo

De ver o teu sorriso e começar um velho sonho bom

E o sonho fatalmente viraria pesadelo

Ali, bem mesmo em frente a um certo bar Leblon

Vamos entra?

Não tenho tempo!

O que é que houve?

O que é que há?

O que é que houve, meu amor, você cortou os seus cabelos?

Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar..."

Patrícia Rodrigues Tchuka
Enviado por Patrícia Rodrigues Tchuka em 12/01/2012
Código do texto: T3436021