Fantasma Perfumado
Este texto é uma versão levemente adaptada do meu texto original. Eu o escrevi do ponto de vista de um amigo meu. As personagens são reais, por isso não há menção de nomes.
Fantasma perfumado
Por T.H.R. Oliveira
Eu acabara de sair do carro. Eu estava atrasado para o trabalho. Como sempre, vestido em um terno escuro, com uma gravata não chamativa em volta do pescoço. Estava com minha pasta e os meus papeis nas mãos, quando uma brisa levada soprou umas duas ou três folhas para o lado.
Ao me virar para apanhar os papeis, notei em um breve vislumbre de uma pessoa. Ela estava sentada dentro de um ônibus, com a cabeça levemente abaixada e encostada no vidro da janela, seu rosto numa expressão leve, descontraída mas de olhar triste, que eu não conseguia decifrar.
Eu já vira aquele rosto antes. Vira algumas vezes, belo e inexpressivo, outras vezes com um sorriso leve e sereno, vi aquele rosto me observar com admiração, como se eu fosse algum tipo de deus que caminhasse sobre a terra.
Sim, eu vi aquela garota antes. Ela me escrevia coisas lindas. Suas palavras alegravam o meu dia. Ela era tão sincera no que dizia e conseguia me conhecer tão bem que chegava a ser assustador.
Ela chegou a me desenhar em um quadro, o qual eu amei e ainda o tenho pendurado em minha parede. Veio com uma carta aromatizada com o seu perfume, e quando li suas palavras foi como se ela as estivesse falando em sussurros ao meu ouvido.
“Eu tentei fazer você se ver como eu o vejo, lindo, indestrutível, atemporal, etéreo e perfeito. Desculpe-me se exagerei, mas esse aroma que você sente é o meu perfume. Achei que assim me faria mais presente quando você recebesse o quadro. Eu só queria poder fazer parte de momentos assim na sua vida. Eu só gostaria de ser mais do que palavras bonitas e esforços para que você se lembre de mim todos os dias.
Com carinho, Eu.”
Ela nunca soube, mas aquele fora o melhor presente da minha vida. Nunca ninguém demonstrou tanto carinho e dedicação por mim, menos ainda sem me conhecer. Tudo o que as pessoas sempre viram foi um corpo bonito e a possibilidade de sexo.
Ela foi diferente. Ela me viu como eu sou e me amou do jeito que eu sou. Eu nunca soube retribuir.
Com o tempo ela parou com as mensagens bonitas, que faziam o meu dia melhorar e eu fiquei sozinho novamente, com o que me restou daquela doce menina. Um fantasma perfumado, um quadro no qual eu não me vejo, mas sim quem o pintou e a lembrança de que eu poderia ter feito mais para tê-la comigo todos os dias da minha vida.
Não sei o que fazer, nem o que pensar agora. Eu a vi. Ela está aqui, em São Paulo. Está tão perto de mim, mas nem sei por onde começar a procurar.
O ônibus há muito se fora. Eu não o alcançaria nem se eu tentasse.
Talvez tenha sido melhor assim. Ela vive a vida dela agora e eu continuo com a minha. Solteiro aos 27 anos, por opção é claro. Mas ainda procurando nos outros por um traço que me faça lembrar aquela garota de Brasília que com carinho e muito jeito conquistou meu coração, mas que agora eu perdi.