Você Existe, Eu Sei


sacpaixao.net
 
    Não sabia de verdade como ela era, mas, pelas conversas, sentia que era uma pessoa interessante. Pelo que podia ler nas entrelinhas dessas mesmas conversas, imaginou que era um ser de hábitos simples, de humor refinado, inteligente, elegante. Enfim, alguém que valia a pena.
    Colegas de trabalho da mesma empresa, mas em cidades diferentes, tornaram-se amigos, não apenas por força da natureza da função de ambos, que era a mesma, cada um numa filial, mas também pela empatia imediata que se estabeleceu entre eles.
     Mais um tempo e já a conhecia de foto, de webcam, pela voz ao telefone. Gostou do que viu e ouviu. Voz suave, alegre, com uma sonoridade jovial. Ainda se perguntava por que confiara de imediato nela quando passaram a trocar emails pessoais, tatear o terreno da vida um do outro, conversar no MSN.  Racionalizava que volta e meia era bom viver a filosofia zecapagodiana “deixa-a-vida-me-levar”...
    Reconheciam, e confessavam entre si, que haviam gostado muito de elo que se criava.  Sentiam-se bem um com o outro, estimulados, vivos... Já podiam afirmar que tinham muitas afinidades no jeito de pensar a vida e o trabalho e até ali era tudo que importava.
      Aos poucos iam se dando a conhecer, desvelar, feito janelas que se entreabrem, cortinas que esvoaçam. Depois, bem depois que a amizade se consolidara ele lhe enviou um email de pura provocação, perguntando se ela conhecia aquela música, aquela banda... “Há tanto tempo venho procurando/Venho te chamando/Você existe, eu sei/Em algum lugar do mundo você vive/Vive como eu/Onde eu ainda não fui.../Como é o seu rosto?/Qual é o gosto que eu nunca senti?/Qual é o seu telefone?/ Qual é o nome que eu nunca chamei?/...”
       Respondeu que sim, que gostava da banda, mas não conhecia aquela música e descobriram mais algumas afinidades nos gostos, nas escolhas do que ouviam, do que compravam para si e para presentear os amigos.
      E naquele fim de tarde, nos minutos em que esperava encontrá-la antes da  primeira reunião em que participariam no dia seguinte, pensou no que foi que lhe chamou a atenção para que se mantivessem desde quando se conheceram virtualmente, tão próximos, quase íntimos. Primeiro, a conversa gentil, delicada, mas sem rodeios. Gostava disso. Depois, gostou da sutileza, da discreta elegância que revelava no trato  com ele e com as demais pessoas. Acreditava que ali estava um ser desejante, vivo, criativo, com um jeito de se expressar que delineava uma personalidade sem amarras, um coração generoso, uma leveza na alma,certamente.
      Depois do beijo no rosto e do abraço no encontro, já acomodados esperando o café que tomariam  bem antes do jantar com toda a equipe da empresa, sentiu o olhar dela tocando-lhe a pele. Gostou da sensação de se ver neles. Agradou-lhe o perfume delicioso, cheiro exótico de flores, feminino e doce. Num impulso, levou seu rosto para bem perto, para que confirmasse o cheiro...  
     No sorriso e nos olhos intimidade que se afirmava, afinidades, gostos, interesses comuns.Na conversa amena, leituras bilaterais. Gostou do que lia nas entrelinhas dos gestos, gostou do mistério que se desfez no sorriso, do olhar que parecia um abraço, atento, delicado, direto. Gostou de saber que não se enganara em pensar que ela era uma pessoa muito especial.
      Sentiu vontade de tocar o rosto, os cabelos, sentir o cheiro bem mais de perto... Curiosidade em saber do gosto do beijo, de mergulhar naquele olhar ora displicente e brincalhão, ora profundo e sério, de um brilho que ofuscava o dia.
      No pouco tempo que tinham, falaram do que os trouxera ali. Não tinham muito tempo mesmo mas leram nos olhos um do outro aquilo que nem precisava ser dito: eram homem e mulher diante das suas verdades, diante do que os aproximou e diante do que viveriam, a partir de então.
     Mais tarde, logo após o jantar e finalizados os demais compromissos da noite, levou-a ao hotel em que estava hospedada e despediram-se como bons amigos. Beijo no rosto, ela na ponta do pé, ele inclinado. Promessas no olhar e sorrisos...Ela cantarolou
"Como é o seu rosto?Qual é o gosto que eu nunca senti?Qual é o seu telefone? Qual é o nome que eu nunca chamei?" e os dois riram, cúmplices. Não sabiam como nem por quê, mas algo lhes dizia que aquela história ainda teria outros capítulos...

Você Existe, Eu Sei

Há tanto tempo venho procurando
Venho te chamando
Você existe, eu sei
Em algum lugar do mundo você vive
Vive como eu
Onde eu ainda não fui
Como é o seu rosto?
Qual é o gosto que eu nunca senti?
Qual é o seu telefone?
Qual é o nome que eu nunca chamei?
Se eu esbarrei na rua com você
E não te vi meu amor
Como poderia saber?
Tanta gente que eu conheci
Não me encontrei só me perdi
Amo o que eu não sei de você
Como é o seu rosto?
Qual é o gosto que eu nunca senti?
Qual é o seu telefone?
Qual é o nome que eu nunca chamei?
Sei que você pode estar me ouvindo
Ou pode até estar dormindo
Do acaso eu não sei
Talvez veja o futuro em seus olhos
Pelo seu jeito de me olhar,
Como reconhecerei voce?


Ouçam e vejam essa linda música do Biquini Cavadão...

http://www.youtube.com/watch?v=Rnq6rlNt1lQ

Da Série uma Música, um poema, outro texto.