AMADOR OU PROFISSIONAL? - Miniconto

Há cerca de dois séculos, naquele quarto do motel que há muito não mais existe ela, olhando-o nos olhos, perguntou: “Você quer um amador ou um profissional?” – perguntou assim mesmo, no masculino, como se tivesse alguma dúvida sobre seu próprio sexo, ou como se pertencesse ao gênero neutro, tal qual ocorre no latim, no grego, na língua alemã, pergunta absurda também pelo fato dela jamais ter sido profissional de nada, pelo contrário, amadora sempre, sempre, em tudo, em todos, no cumprir de todas as coisas.

Ele deu suporte e suportou a pergunta sem desviar os olhos; não respondeu. Então ela pediu: “Me beija.” E ele a beijou.

Aquela primeira pergunta, que ficou sem resposta, alterou-lhes o destino, transformando o que poderia ser o acaso de uma noite em uma quase tragédia para sempre.Mil, milhões de vezes melhor para o futuro de ambos se ele houvesse respondido: “Eu quero uma profissional”. Melhor ainda teria sido se ela jamais houvesse feito a pergunta naquela noite, há dois séculos, no quarto do motel que há muito não existe mais.

No final da noite de 05 de janeiro; publicação no início da madrugada de 06 de janeiro de 2012.