" O rapazinho e a borboleta "
Uma verdadeira história de amor não é como os contos que começam com "Era uma vez" e terminam com "...e foram felizes para sempre".
Os verdadeiros amores não são como essas histórias...mas eles devem ser inspirados em tais...
...
Era uma vez...
Um rapazinho que muito adorava escrever...sobre o amor mesmo sem muito conhecê-lo; sobre as paisagens, mesmo sem tê-las visto na sua mais pura forma; sobre os fatos da vida, apesar da pouca idade que tinha para conhecê-los verdadeiramente. Mas, para o rapazinho, o importante era escrever. Isto o fazia feliz.
Ele adorava ler também...os contos antigos, os livros complicados e os simples também. Lia desde as frases que marcaram a história do mundo às mensagens que um dia iriam eternizar-se, mas que no instante em que lia, sequer eram conhecidas no outro lado da cidade.
Certo dia, quando lia uma de suas poesias favoritas e mais bonitas, uma borboleta, linda como a página mais bem escrita de um livro, pousou em seus dedos e ali ficou durante vários segundos a olhar bem no fundo dos olhos do rapazinho. Parecia que a frágil borboleta pedia carinho, um aconchego ou um simples olhar. Talvez ela não pedisse nada também, e apenas estivesse ali ao acaso, como quando uma flor qualquer dentre um imenso jardim é agraciada com o pouso de "uma também qualquer borboleta"...
Mas aquela borboleta era única, pois era a primeira que o rapazinho vira na vida...
Isso bem não é verdade, pois aos três anos de idade todas as crianças provavelmente já viram alguma borboleta. Mas para ele aquela era a primeira...a primeira linda como a página mais bem escrita de um livro!
Passaram-se vários segundos e estes viraram minutos...e o rapazinho esquecera-se até de que lia sua poesia favorita, tamanha beleza encantadora das asas daquele ser vivo. E então pensou consigo mesmo: "vou guardá-la na página desta poesia para nunca mais perdê-la". Mas logo o raciocínio lhe disse que se fizesse isto iria matá-la amassada...
Pensou então: "vou guardá-la dentro da concha das minhas mãos para jamais perdê-la de vista". Mas a consciência lhe assegurou que isto também não seria possível, pois ela precisava do sol para viver e a sombra da concha de suas mãos a mataria também...
O rapazinho não sabia mais o que fazer para ficar com a borboleta para sempre...e então, uma inspiração tomou-lhe os pensamentos e alguém com uma voz doce, calma, paterna e protetora lhe disse:
" Deixe que ela voe... "
Ouvindo aquilo o rapazinho pensou ser impossível tomar tal atitude, pois deixar aquele ser voar era despedir-se para nunca mais vê-la.
E a "Voz" soou novamente em seus ouvidos dizendo-lhe o que havia dito antes...
E o menino pensou mais uma vez que não seria possível tomar tal atitude...
E então a "Voz" disse-lhe pela terceira vez que deixasse que a borboleta voasse...pois o destino dela era voar...por isto ela nascera com asas!
Assim, na sua pequenina, mas pura sabedoria...o rapazinho fez aquilo que a "Voz" lhe dissera.
Fechou a página de seu livro e com a mãozinha levantada assoprou levemente a borboleta que voou sem fim para o horizonte distante...
A tristeza foi certeira para o rapazinho, pois o acompanhou durante vários dias...
A borboleta fizera grande falta nas suas tardes de leitura sob o carvalho do monte verde e nem as poesias alegravam-no como antes...ele pensava nas asas, nos pequenos olhinhos, na fragilidade e na intensa beleza daquele ser tão ínfimo, mas que tanto representou para ele no momento em que pousara em seus dedos.
Mas...
Como toda boa história de amor de verdade que termina com aquela frase que conhecemos...
Após meses da despedida da sua "amada borboleta", o rapazinho por acaso leu num livro que elas amavam as flores. Decidiu então plantar rosas no quintal que havia atrás de sua casa. Plantou uma mudinha na terra, regou-a com todo amor e ficou sentadinho esperando vê-la crescer e florir. Mas isto demorou mais que as quatro horas que ficou ali esperando...e decidiu então entrar para sua casa.
No dia seguinte, acordou bem cedo e foi até o jardim ver se a rosa havia florido, mas nada havia acontecido.
E assim seguiram-se as duas semanas seguintes...sem nada crescer.
Vendo que a rosa não aparecia, o rapazinho (na sua pura sabedoria) entendeu que talvez aquela rosa estivesse com um "defeito" e por isso não abria suas pétalas...
Resolveu então comprar mudinhas de margarida, agapanthus, beijo, girassol e, inclusive, mais mudas de rosa.
Plantou-as todas...de modo que quando florissem todo o quintal estivesse cheio delas.
Passaram-se novamente semanas...e nada acontecia. E o pobre rapazinho ainda mais se entristecia. Já nem lia mais os livros que adorava, sequer a poesia preferida...
Mas uma bela manhã, a primeira rosa que havia plantado mostrou toda a sua beleza, com doces pétalas e um delicioso perfume.
O rapazinho ficou muito feliz...e sem saber porquê agradeceu pela vida da rosa à "Voz" que lhe dissera para deixar a borboleta voar.
Ficou contente e satisfeito, pelo simples fato de que agora tinha uma rosa linda para admirar, ainda que a borboleta lhe fizesse grande falta.
Então, os meses passaram e sem o rapazinho perceber, agora as antigas mudinhas haviam se tornado lindas flores, que cobriam o quintal de ponta a ponta, sem poder quase ver a cor de fundo da terra que as energizava, tal era a quantidade de flores que embelezavam aquele local.
O rapazinho tornava-se cada dia mais alegre e paciente, pois esperar pelo florir daquelas flores havia sido um grande aprendizado para ele. Descobriu através daquele fato, que tudo na vida tem o seu tempo, a sua estação e a sua vontade...até mesmo o leve bater de asas daquela que ele tanto amara. Sentiu-se grato à "Voz" por poder manifestar esse sentimento em seu coração. Agora, ele parecia um garoto mais forte e maduro.
Foi então que algo mágico, porém muito real aconteceu...
A "Voz" falou-lhe novamente, e desta vez disse assim:
" Deixe que a borboleta volte... "
O menino respondeu-lhe:
" Mas ela já se foi "Voz". Ela se foi naquele dia... "
E a "Voz" disse-lhe mais uma vez:
" Deixe que a borboleta volte... "
O rapazinho lembrou-se então do primeiro conselho da "Voz" e que a mesma fora muito insistente naquele antigo pedido, de modo que não houve como contrariá-la...a "Voz" era muito envolvente e bondosa. Assim, o rapazinho baixou sua cabeça em respeito à "Voz" e disse-lhe:
" Que seja feita a Vossa Vontade "
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Diz a lenda, ou melhor, a história de amor...
Que no dia em que o menino assoprara a borboleta como a "Voz" havia lhe dito, dali em diante aquele lindo ser vivo passou por muitas tempestades e ventos dos mais fortes já vistos, mas que o desejo de reencontrar o dono daqueles dedos jamais saíra de seu pequenino coração...
Suas asas tornaram-se
ainda mais fortes devido
aos ventos que enfrentou...
O rapazinho jamais pensou em desistir da borboleta...
nenhum dia sequer.
Quanto ao final desta história...
Sabe-se apenas que a borboleta encontrou novamente os dedos em que queria pousar...e que ali ficaram, "rapazinho e borboleta" a admirarem-se por toda a eternidade!
...e foram felizes para sempre.
Para você...
Tati: doce e linda borboleta.