Caixa de Sapato

Segunda-feira, três horas da manhã. Algumas doses e mais algumas – os solitários cultuam o copo. Uma espécie de igreja, desculpa. Talvez um amor acabado, um momento de solidão. E pensei devo-ser-um-filho-da-puta – é verdade, sou.

Como sempre e com a chegada de alguma tristeza, fiz uma poesia: Por la tarde más triste de mi vida/yo tuve que oir/ya no soy más su poesia. São lembranças. E as palavras não me quedam. Embora seja piêgas ou pedante ou ainda tarde demais, não quis trazer a nós o sofrimento – está aí. Um choro compulsivo. Terminamos. Quis lhe mandar flores, não mandei. Somos um pouco de poesia – pensamento, sentimento, conjectura – e um pouco um do outro. Aprendemos, ensinamos.

Quando pela noite em uma feira qualquer em alguma cidade, os colares, os anéis e as pulseiras – daquelas cores que conhecemos bem – me apresentaram você. Estava em cada canto – à esquerda e à direita. Lembrei dos presentes – simples, dotados de emoção ou algum sentido – e os quais já não usa, estão guardados em uma caixa de sapato, escondida em seu armário (nunca o conheci como não conheço seu quarto). Às vezes somos mais esquecimento e passado – ou caixa de sapato.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 28/12/2011
Código do texto: T3411198
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