Então foi assim...
Então foi assim.....
Era dia de Natal e ela estava atrás da Matriz de uma cidade que não era a sua.
O moço que a acompanhava sugeriu que acendessem um cigarro e caminhassem.
Ela disse “impossivel, não fumo andando”. Ele então foi até a sorveteria e sugeriu que ela se sentasse num banquinho da praça. “Os banquinhos estão molhados...choveu...” Então se sente num degrau.” “È pra já...!”
De repente estava só, mas pela primeira vez em muitos anos com o coração livre do que Tânia Orsi Vargas aqui do Recanto chama de “fonte permanente de desamor.” Acontecera de manhã na piscina, ao lembrar da frase de Luis Carlos Facuri, também aqui do Recanto :”Luciana, você tem a sensibilidade de um colibri.” E concluir rapidamente, do fundo do coração: “ Eu amaria Luis Carlos.” E mais rapidamente ainda: “Se eu amaria Luis Carlos, é porque o outro acaba de morrer.”
A sensação era boa demais, “isto sim é que é liberdade...!” Quando pensou assim, seu olhar se dirigiu para a direita. De longe, um moço a olhava sorrindo. Ela sorriu também. Ele começou a caminhar na direção dela. Chegou perto e ficaram assim, olhando-se e sorrindo. Até que ele disse, como a não saber falar outra coisa, mas parecendo que se conheciam há muito, muito tempo: “Dá um cigarro, vá....”
Aí estava um problema. Era dia de Natal e todos os bares estavam fechados. Cigarro era racionado. Mas pegou o maço da bolsa e com a pontinha dos dedos, para não estragar, tirou cuidadosamente um, dizendo ao moço: “Eu dou um, porque é Natal.” Logo percebeu que a frase induzia a erro de interpretação e riram os dois.
Foi quando ele ficou na frente dela, agachou-se e disse: “Então me dê um abraço de Natal!” E assim foi feito. Era impossível negar àquele sorriso tão puro, àquele olhar tão decente.
Entrando na Igreja Matriz viu-se no altar, o mais belo que já vira em sua vida, nem no Vaticano ou em qualquer outro lugar do mundo tem igual, pois diante de si estava um imenso quadro com o Jesus de Portinari, que não está crucificado, mas falando com as pessoas.
Foi quando lhe veio uma certeza: a de que Jesus em 2011 nascera negro. Era aquele que estivera com ela há poucos minutos.