Divórcio em 1º de janeiro
Sem mais nem menos, ela entra pela porta, esbaforida, a face vermelha. Lança-lhe um olhar de medo, de súplica... ‘Não vá embora, é Ano Novo. Isso não é certo!’
Ele apaga o cigarro num velho cinzeiro. Levanta da poltrona, segura a frágil mulher pelos ombros – que mãos fortes! – e fala bem baixo:
‘Por isso mesmo. É Ano Novo. No-vo. Você e eu, nós não somos um pro outro. Ficou velho, entende?’
‘Que desgraça!’, ela cai sentada e pensa em voz alta. ‘Ninguém pode ser abandonada assim, em pleno dia 1º...’. Ela olha pela janela.
Na rua, lá fora, o silêncio pesado. Ninguém na rua, como, afinal, são todos os dias 1º de janeiro. Um velho caminha com seu cão, mas sua presença é inútil. O sol, o vento, as árvores, as promessas feitas, as esperanças já mortas, tudo é inútil.
‘Arthur!’ – ela grita, chorosa. Corre atrás dele pela casa. ‘Arthur! Deixa pra dia 2. Amanhã. Eu não agüento, hoje não...’