Um pedido para Deus ... Mais um conto de natal
Deus estava no alto do pão de açúcar olhando para a estatua de Cristo comparando-a com a imagem real de seu filho, vendo aquilo ele sorriu, abriu os braços e naquele instante mágico a luz da lua ficou mais intensa e radiante cobrindo toda a cidade. As orações, os apelos e todas suplicas chegaram até seus ouvidos. Ele analisava cada pedido, e via que em sua grande maioria seus filhos pediam por riqueza material. Já não suportando a ignorância da humanidade ele se entristeceu.
Naquele momento fechou seus olhos e deu ordem para que anjos lhe trouxessem quatro pessoas diferentes que ele mesmo havia recomendado. Num estalar de dedos os anjos surgiram e desapareceram em busca dos quatro escolhidos.
Não demorou muito e chegaram os quatro anjos com as quatro pessoas. João, um mendigo cego, maltrapilho e sujo, cujo o cabelo despenteado estava escondido por debaixo de um chapéu surrado, onde ele coletava suas esmolas diárias. O segundo era uma mulher, chamava-se Elisa, ela era surda, mas ainda assim havia se tornado uma empresária muito bem sucedida. Trajava um lindo vestido azul e carregava uma bolsa cheia de papéis, novos contratos que seriam assinados no dia seguinte com uma grande multinacional. No outro canto Hugo, um garoto de 12 anos de idade, apareceu sentado em sua cadeira de rodas, Hugo teve uma de suas pernas amputadas após ser atingido por uma bala perdida. Por fim o quarto era uma garotinha, seu nome era Joyce, ela era saudável e linda. Tinha lindos olhos azuis, cabelos ruivos encaracolados e uma voz suave como á brisa da manhã. Os quatro chegaram assustados, e depararam-se com a presença majestosa de Deus que irradiava uma luz colossal. Na presença dele aquele que era cego enxergava, o que era surdo ouvia, e aquele que estava sobre a cadeira de rodas andava. A voz imponente de Deus chegou á seus ouvidos.
- Muito bem. Tenho ouvido suas preces e por isso pedi que os anjos trouxessem vocês aqui, pois realizarei o pedido de apenas um de vocês, portanto sejam prudentes e peçam aquilo que mais os deixara feliz. Você primeiro! – Ele disse apontando para João.
- Eu? – Perguntou João ainda indeciso. O que pedir a Deus? Oh Deus, eu queria tanto continuar enxergando como agora. Ver as pessoas na rua. Enxergar para poder voltar a igreja e caminhar junto a ti. Queria poder ver a beleza de todas suas criações e voltar para minha família. – Ele disse enquanto Deus balançava positivamente sua cabeça ouvindo-o.
- Hum... É um bom pedido João. Vamos ver o que Elisa quer. – Elisa arranhou a garganta e se postou ainda mais ereta. Olhou para Deus e sorriu.
- Bem, vejo que muitos aqui têm o que pedir senhor. Cada qual com sua necessidade especial. Mas meu pedido é que eu possa ouvir novamente, queria acordar e ouvir o som dos pássaros, ouvir a voz de minha filhinha, e junto dela eu poderia voltar a ouvir teus hinos de louvor, tantas coisas eu queria ouvir e assim compreender melhor o mundo.
- Também é um bom pedido Elisa, ouvir a voz de tua filha, como seria bom isso. Sei a angustia que passa. E você Hugo o que quer?
- Bem senhor, queria que nós três tivéssemos nossas deficiências curadas. Que eu pudesse andar, jogar bola com meu pai, que Elisa pudesse ouvir e que João pudesse ver. E assim seriamos todos felizes. – Disse Hugo. Deus sorriu ao ouvir o pedido do garoto.
- Muito bem Hugo, seu pedido é muito bom. Vejo que se preocupou com seus amigos, agora vamos ouvir a Joyce e analisarei todos os quatro pedidos. – Joyce olhou para os três, viu a luz de Deus trabalhar com eles, mas ela não via nada nela. Nada de diferente. Virou-se para imagem resplandecente e divina de Deus e disse:
- Ora senhor, o que eu poderia querer se não a felicidade de todos, e a única forma de consegui-la seria continuando na sua presença. Vejo que estando com o senhor nossos desejos podem se realizar, então acredito que continuando na tua presença logo verei mamãe e papai. Se eu fosse egoísta diria que só quero eles de volta, mas vejo que cada um aqui tem sua família, e este é o único tesouro que eu queria ter. O que posso fazer é agradecer ao senhor por ainda assim ter me dado outro lar.
Uma lágrima incandescente desceu dos olhos e escorreu pela face divina de Deus, e tal qual uma estrela cadente em órbita circular, os rondou deixando que seu brilho adornasse-os. A voz de Deus soou alta e clara, paternal e onipotente.
- Muito bem, João, a sua maior cegueira não era a carnal e sim a espiritual, que te impossibilitava de ver o que estava á sua frente. Você abandonou sua família, mesmo eles te dando apoio, se entregou quando o que deveria ter feito era ter tido fé. Não enxergou a bondade, o interior do ser humano. Se visse isso entenderia a riqueza que tinha em seu coração. – Ele disse e voltou-se para empresária. – Elisa... Sua filha fala com você o tempo todo, através de gestos, olhares, e principalmente por esse amor maravilhoso que ela tem por você, no entanto você sempre está ocupada demais para ela, isso tudo porque quer provar para você mesma que não é inútil e dependente. Depender do amor dos outros, da ajuda de outros não é humilhação e sim humildade, um dos maiores dons, assim como o da caridade. Precisamos também aceitar nossas fraquezas. Só assim descobrimos o quanto somos fortes. Vocês dois apenas pensaram em vocês, mesmo sendo os mais experientes. Mas Hugo enxergou um pouco além, com sua pureza de criança. Pediu por vocês três. Mas como João ele também não enxergava, pois olhava apenas para o físico de vocês. E quanto ao espiritual? Será que só vocês precisavam de algo? E a Joyce? Só porque era uma garota saudável, ela tinha tudo? – Ele então se abaixou para falar mais próximo da garotinha que o olhava com seus dois grandes e belos olhos. – Se faltava-lhes uma perna, a visão ou a audição, dei-lhes colo, amparo, entreguei vocês ás suas famílias para que elas lhes acolhessem. Enquanto Joyce perdera tudo que tinha, e agora estava em um orfanato, ainda assim não perdeu a fé. E mesmo a testando, como fiz agora ao realizar o desejo de vocês três e simplesmente não deixar que ela visse seus pais, ela foi humilde. Fazendo o que nenhum de vocês fez, agradeceu pela dádiva da vida. Portanto o pedido mais nobre dessa noite de Natal é o dessa garotinha que me fez pensar no porquê daquela estatua de Jesus. De que adianta Jesus estar de braços abertos se a humanidade da as costas para ele? De que adianta ele estar sobre o monte para que todos o vejam, se poucos tem coragem de escalar esse caminho? De que adianta pedirem algo a mim, se não sabem o que realmente querem? Hoje no pedido dessa garotinha eu enxerguei esperança, portanto que seja feita a sua vontade. – Dizendo isso a lágrima em forma de estrela brilhou ainda mais forte, e de acordo com o pedido de Joyce todos tiveram suas vidas restauradas. Mas antes de irem embora duas luzes chegaram trazidas nas mãos de dois dos quatro anjos. As luzes cresceram de repente e formaram dois corpos, Joyce sorriu em meio a seu choro e as lágrimas molharam seus jovens lábios. A ternura em seu olhar também estava explicita no olhar de seus pais que á abraçaram fortemente, num aperto de saudade, num carinho de família. Aquele natal eles passaram juntos. João voltou para sua família, revigorado, cheio de fé enquanto a imagem de Deus disseminava-se e desaparecia. Hugo chegou até seus pais correndo e os abraçou, ambos perdidos em um choro incontido. Elisa ouviu pela primeira vez a voz doce de sua filha e decidiu que não mais iria viajar naquele natal para fechar aquele negócio milionário. Ela enxergou a verdadeira riqueza que tinha em sua casa. No orfanato Joyce se despediu de seus pais, com uma certeza.
Ela os veria novamente.
Fim.
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“O Amigo Oculto”
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Á todos um excelente Natal e um ano novo repleto de realizações.