A HISTÓRIA (AGRIDOCE) DE (OUTRA) LILY BRAUN!
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Luiz Fernando Veríssimo
Lily! Esse era o nome dela, singela. Carregava consigo 35 anos de vida. Nunca teve sonhos grandes. Era fermentada pela época da juventude. Só pensava no amor, queria um amor de cinema, ou em último caso, um amor estilo novela das nove. Sim, embriagou-se duma paixão fervorosamente recheada de ilusões. Apaixonou-se por Teodoro Silva, diante da cegueira, largou a faculdade, e virou uma exemplar dona de casa. Ele não! Continuou o estudo de direito e não deixou de lado nenhum momento suas ideias, mesmo quando ela engravidou, de gêmeos. Casaram-se, os dois pombos e tola acreditou no juramento do amor eterno, para sempre, mesmo sabendo que o para sempre encerra. Foi vivendo, entre louças e cuecas sujas, de lá para cá, ele tornou-se um grande advogado, daqueles nomeados com grandes causas polêmicas, como assassinatos de artistas, barriga de aluguel, etc.
Lily. A desgraçada pensou que teria uma vida típica de subúrbio, não sofreria, entretanto, como o destino gosta de brincar com as vidas dos outros... Num dia desses, foi visitar a sua querida mãe. Pretendia rever seus familiares, e permanecer duas semanas por lá, disse ela ao seu amado. A casa livre para quaisquer negócios. Sem os filhos, que, aliás, eram dois moços muito bem estruturados dentro de casa, contudo, corria nas veias somente vandalismo. Enfim, isso não interessa. Ela ficou apenas oito dias, não avisou nada sobre o retorno para ele. Queria fazer uma surpresa. De fato, ela que foi surpreendida. Coitada da Lily, gente! Ou não! Dizem por aí que cada um tem o que merece. Não vou questionar isso agora, seguindo adiante com a história...
Lily. Chegou! Entrou! Em total silêncio. Somente o barulho do seu cansaço era ouvido na sala, porém, indo com direção ao quarto, que, aliás, como ela chama o quarto... Ah, lembrei-me. O ninho do casal. Ouviu algo além da sua respiração, era som de gemidos afiados de uma mulher e acompanhado por respiração ofegante. Lily! Fique isso entre a gente, “Ninho do casal” soaria engraçado agora...
Lily viu o que nunca pensaria ver. Algo contraditório às juras de amores. Abriu a porta e sua visão quase lagrimejada não pode acreditar. O seu amor de faculdade, que um dia virou o seu marido, e com quem tivera dois filhos muito bem estruturados dentro de casa, lá fora corria nas veias somente vandalismo... Um resumo rápido de sua vidinha. Coitada da Lily! Bom. O marido estava com uma moça muito mais jovem que sua mulher. Ora, típico de traição de homens de 40 anos, loucos por peles novas com muitos hormônios para dar e vender... Enlaçados um ao outro, tanto renovador que o livro Kama Sutra não conseguiria distinguir tal posição, algo nunca feito durante o casamento. É melhor nem entrar em detalhe, senão, Lily pira.
Lily olhou o seu marido, ele sem reação parou! Ela não sabia o que fazer, pensou em pegar uma faca da cozinha e ir para o ataque da sobrevivência do relacionamento. Não fez isso. Pensou em gritar, somente perguntou:
- Amor, onde foi que eu errei? – Ela esperou uma resposta. Dele não saiu nada. A menina estava assustada, mas nem sequer um pingo de vergonha da sua nudez e continuou na cama, nem pensou em resguardar seu corpo no cobertor, sem sentimento de culpa. E Lily repetiu novamente a tal questão, porém, com firmeza agora – Onde foi que eu errei Teodoro? Por que isso? Diga-me! – Ele disse – Não sei, não sei...
Querida Lily, é mentira, ele sabe muito bem. O efeito de inquieta, tonta e encantada já foi embora há muito tempo, a monotonia matou o amor. O relacionamento para ele não atingiu enormes expectativas. Coitada da Lily! No que parece, você não estava oferecendo qualidade. Essa traição para ele era sem remorso e sem dor. Nunca percebeu isso, pois, criou uma imagem tão forte e romântica sobre esse homem, nem se quer, passou na mente essa possibilidade. Não pode acreditar. Medrosa, Lily! Recomeça. Renovação! Talvez, essa garota não seja a primeira... E agora? Cadê um ombro amigo, alguém em que confia. Não tem? Não lembra ninguém da faculdade? Poxa, está na pior. Não se preocupe, a tendência é sempre piorar. Ninguém te avisou da importância de outras pessoas. Estava ligada, totalmente, nele. Esquece-se dos outros, deixou de lado o companheirismo feminino. Uma notificação, você traiu a si própria.
Em conclusão, Lily saiu correndo na direção de uma saída. Iludida, Lily. Quando estava preste a sair, ele segurou a sua mão, ela virou-se diante da nudez exposta do marido, ex-marido ou sei lá o que será. De repente, mais do que isso, ela saiu dos sonhos e viu a triste realidade. Lily, estranhamente, cantarolou, suavemente, a canção de Chico Buarque: “Nunca mais romance, nunca mais cinema, nunca mais drinque no dancing, nunca mais cheese, nunca uma espelunca, nunca rosa, nunca mais feliz”.