Alguém sem tanta doçura

Hoje encontrei os meninos do ensino médio. Talvez estivessem livrementes mais cruéis. Na mesma época ouvi de um professor bem próximo, que com a velhice vem à brutalidade. Não discordo, não poderia ver doutra forma. Quando entrei pela primeira vez naquele prédio pré-cambriano, algumas fases se deterioravam, já não permaneciam tantas características. Mas se consumir por algo quase irregular nos torna particularmente patético. A última vez em que estive aqui ouvi falar em melhorias no sistema escolar – ah...! Como se não fosse um sonho. As perversidades dos meninos do segundo ano ainda permanecem de pé nas suas características do senso comum. Chega até ser difícil distinguir uma personalidade que não seja coletiva.

Então, quando entrei aqui pela primeira vez, minhas características que me distinguiam de todos caia por terra. Acho que nunca fui tão bem aceito num meio coletivo. Talvez pela minha perspicaz compreensão... Mas que seja! Cada semestre aqui me foi dado características novas dignas de lamento. Ouvi falar sobre “O livro do Desassossego”, um manual instruído por ninguém mais que um ser. Aprendi que na adolescência o cérebro muda e a sensação de segurança que nos ergue é só uma mudança no hipocampo, ou qualquer coisa do tipo, isto é, não há coragem no ser humano, apenas uma confusão neurológica.

Sobre a vivissecção:

Era para ter sido uma viagem sem vinda. Não há mais espaço no meu coração para alguém que não seja a mim mesmo. Não pude se quer não pensar durante quinze horas num ônibus. Então, ele disse: Ninguém quis nossa felicidade que não fosse apenas você. Vivissecção tornou-se uma prática monótona para me atingir. Me tornei sapatos fora de moda, porque um complemento moderno não me adquiri. Talvez todas as razões práticas formuladas pelo homem que eu amo tenha sido catastrófico em larga escala. Porque é difícil de eu ser compreendido na plena era do desassossego.

Não pude me conter, então fui até a prateleira do canto esquerdo da sala e tirei da caixa de madeira maciça todas as cartas de cinco anos. E todas elas poderiam começar por gestos angelicais se não houvesse seu nome de cabeçalho, porque um gesto assim lhe pareceria terno? Formidavelmente minha alma tem crescido de forma solidária – Contribuindo com o mundo das às sensações deixadas por você, sem acesso a você. Não consigo ler mais que dez cartas, porque você escreve aborrecedoramente, torço para que seu modo de escrita tenha melhorado, no entanto, há sempre formas de começar de uma maneira melhor uma noticia ruim que não seja dizendo seu nome. Talvez eu citasse algumas formas de amenizar todas as minhas perspectivas sobre você, mas as paredes não se comportam de maneira reflorestada. Não há mais barulhos durante o café e todos os seus amigos nos fins de semana, não há mais você. Embora eu pudesse mudar todas essas características adolescentes que perante seus olhos são abomináveis eu ainda seria doce. Porque uma emoção assim reaviva a minha praticidade em perdoar as pessoas. Talvez seja engraçado o modo como eu posso amar e perdoar, mas não qualquer pessoa que esteja dentro de mim. Tenho lido sobre muros e portas, mas não consigo formular uma pergunta em que eu não esperasse uma resposta de mim mesmo. Às vezes posso entender quando Anaïs Nin disse que Simone de Beauvoir não a preenche de forma em necessidade. Porque apesar das citações ela sempre formula perguntas existencialistas em que meus irmãos menos conhecedores do mundo poderia explicar de forma mais clara que eu.

Talvez o objetivo aqui não é sobre cometer erros, mas eu não poderia permanecer aqui sentado nesse sofá fusco com tanta convicção de que não somos destinados um ao outro sem se quer me questionar do que seria uma pré designação.

Posso ainda sentir quando fecho os meus olhos antes de dormir e penso na forma desassossegada em que você se meche na cama. Eu penso bem sobre as coisas que aconteceram e como aconteceram e eu de forma como uma experiência, não teria sido melhor de outra forma se não essa. Mas se eu quiser te amar eu não posso permanecer dentro de mim. Às vezes acho engraçado como o modo em que eu recuso toda a sabedoria que me foi dada, e até mesmo julgo se sou capaz de compreender essa sabedoria. Porque um dom assim não seria meu.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 16/12/2011
Código do texto: T3392439
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.