Seduza-me outra vez
seduza-me outra vez
- Que DEUS possa te perdoar. Porque eu não perdôo.
Foi a sentença cruel que dona Maria Margarida deu ao marido. Estava falando da filha Estela e de seu casamento infeliz. Casamento que levantava muitos questionamentos, como o que Daira fazia á melhor amiga nesse momento.
- Estelinha, o que está acontecendo entre você e seu marido?
- Nada. Não está acontecendo absolutamente nada.
- Não sei não! Sempre que estou perto de vocês eu sinto um clima...
- Que clima?
- Algo muito tenso. Quando não é o desejo, é o ódio que eu sempre vejo brilhar nos olhos dele. Parece até que vai explodir.
- Acha que ele me deseja?
- Claro. Isso é normal entre todo o casal, não?
- Não! Não entre eu e o Dan , porque nosso casamento é uma farsa.
- Como assim? E você ainda me solta uma bomba dessas com essa cara de tranqüilidade?
- Você não queria saber a verdade?
A conversa entre amigas foi pausada pela entrada de Daniel que foi para o seu quarto sem dizer sequer um oi para a esposa , após cumprimentar brevemente a visita.
- Ele também não vai com a minha cara. E por falar em cara, você já viu a dele? Como está carrancuda! O que aconteceu?
- É como ele tem estado nos últimos dias.
- Mas amiga , me conta. Por que você deixou que esse relacionamento chegasse até aqui? Vocês têm uma filha!
- Pois é! Eu me casei graças a um boato da vizinhança. Comecei a paquerar com ele na escola , que me achava a menina mais linda da sala e como Dan passou a me levar em casa , os fuxiqueiros da rua inventaram para o pai que eu e o Dan estávamos tendo um caso e o pai , cabeça dura que é , me obrigou a casar com o Dan. Achou que eu estava grávida. Ele não teve forças para dizer que não queria casar e me culpa por tudo. Na frente da família , ele faz o papel de apaixonado, a mãe dele sempre pensou que ele era apaixonado por mim , mas a realidade é que ele nunca quis nada comigo.
- Como assim? Nada?
- Só fazer bonito , dar uma de machão para os amigos ao me conquistar.
- Ele não te amava! Não deveria ter permitido que o seu pai os obrigasse. Deveria ter impedido que o velho mandasse em suas vidas. E você ? Por que não deu um chute no traseiro dele?
- Porque eu estava apaixonada. Ainda estou. Quem mais sofre nessa história sou eu , porque nesse joguinho de casal perfeito , eu me encho de ilusões , cada dia mais.
- Coitadinha.
- Quero sonhar que um dia ele ainda vai me amar, como eu o amo.
- E Denise? Sua sogra? Sempre teve vontade de ser avó!
- A única privilegiada com o amor do meu marido é nossa filha. Ela é tudo na vida dele.
- Estou impressionada com essa história toda. Você é uma mulher tão linda! Tão sensual! Merece um amor de verdade! Larga esse homem amiga! Tenho certeza de que tem alguém louco por um carinho seu. Alguém que te ama de verdade! Alguém de te dê todo o amor que você merece e não tem. Ai, sua história daria uma novela.
- E qual seria o seu ibope? Pois eu estou louca para saber se esse capítulo vai se encerrar da melhor maneira possível , para que possamos viver outra página. Mas uma página de amor.
- Estou torcendo por isso.
- Obrigada.
Ela sorriu , tentando se mostrar feliz. Dan saiu do quarto na hora do jantar. Sentou-se á mesa em silêncio e depois de muito tempo , perguntou:
- O que você e Daira tanto conversavam?
- Coisas do dia a dia. Ela estava me contando da surpresa que o marido preparou para ela . Um jantar romântico. Presente de aniversário do casamento. Quinze anos.
- Jantar romântico , é?
Dan repetiu , erguendo uma sobrancelha. Foi até a geladeira e pegou uma cerveja.
- Sim. Você gostaria de um jantar assim?
Ela não obteve resposta.
- Fez sobremesa?
- A que você mais gosta. Doce de jabuticaba.
- Valeu. Mandou bem.
Dan estava prestes a fazer um carinho em seus cabelos , mas desistiu. Para ela , foi a renovação de suas esperanças. Seu coração batia em ritmo descompassado. Não era justo com ela. Amar durante anos e não ser correspondida. Não era justo que ele não sentisse o mesmo que ela.
- Como foi no futebol?
- Um camarada do time adversário me acertou um chute e não consegui continuar jogando. Depois me faz uma massagem?
- Claro que sim.
- Eu levei a pancada mas o nosso time ganhou. O Val entrou no meu lugar e fez o gol por mim.
- Que legal!
- E por aqui? Alguma novidade?
- A sua mãe veio aqui e a Paty quis ir junto , agora dona Denise ligou pedindo para alguém ir lá buscar. Paty quer vir embora.
- Eu vou.
- Então não passa no Mcdonalds na volta. Essa pirralhinha precisa aprender a comer de verdade.
- Pode deixar. Até mais.
Dan se despediu com um beijo. Um beijo longo, mas tão mecânico que a deixou desanimada. Pensou em nem corresponder mas mudou de idéia quando ele a apertou bem junto ao corpo e intensificou o beijo. A paixão momentânea se apagou tão rapidamente quanto se manifestara depois de anos! Dan se afastou , pegou a chave do carro e saiu batendo a porta, deixando-a perplexa com o que acabara de acontecer. Os beijos , gestos corriqueiros entre casais , ali era acontecimento raro que quando aconteciam , deveriam ser carregados de desejo , ternura , amor , paixão, não a frieza que eles sempre continham. Outra coisa que a intrigava era o comportamento de Daira. Estela começava a duvidar se fizera bem em contar toda a verdade. E tudo com riqueza de detalhes. O sorriso irônico que detectara em seu rosto em determinado momento do relato , agora lhe causava preocupações. Dona Maria Margarida , que lhe fez uma agradável visita surpresa ficou sabendo de toda a história e enquanto assistiam novela , comendo do bolo que a simpática senhora levou para a sobremesa , ela expôs seu ponto de vista.
- Ela quer seu marido.
Os dias se passaram. O casamento estava indo por água abaixo. Sete anos de farsa estavam por se findar. De forma muito tensa. Eles não paravam de discutir e a maioria das vezes , até na frente da criança. Ela estava no carro com a mão no rosto , olhando tristemente pela janela enquanto Dan abria o portão da garagem. Acabavam de voltar da casa da sogra , onde mais uma vez encenaram um teatro digno de troféu. O troféu de casalzinho mais do que perfeito e eternamente apaixonado. Vendo a troca de olhares e palavras carinhosas , ninguém nunca ousaria dizer que se tratava de um casamento de aparências. Aqueles eram os únicos momentos em que ela podia viver de verdade o amor que sentia pelo marido. A doce voz de Paty a trouxe de volta á realidade.
- Mamãe , você está triste?
- Não querida , Estou bem , não se preocupe comigo.
- É mentira, você estava chorando porque estava brigando com o papai . É feio os adultos mentirem. Uma vez falou para mim que não se pode mentir.
- Querida!
Dan voltou descontrolado , batendo a porta do carro com violência e despertando um grito de susto na filha que se agarrou nos braços da mãe.
- O que é isso?
- Sua amiga Daira. Está nos espionando e graças a quem? A você.
- E o senhor pode me dizer o que eu tenho a ver com as maluquices dessa mulher?
- Ela não estaria nos vigiando se você não estivesse espalhando para o quarteirão inteiro sobre nossos problemas , problemas que ninguém deveria estar sabendo e que a senhora faz questão de expor , para quê? Para posar de vitima e esposinha sofrida para a vizinhança que eu sei.
Ele apertou levemente seu nariz , num gesto descontraído que contrastava com a acidez que usava na voz. Com raiva , ela empurrou sua mão.
- Não é verdade! Você está me ofendendo! Como tem coragem?
- Papai , mamãe ! Por que estão gritando?
Dan ignorou a filha.
- É bom mesmo que não seja verdade. E de hoje em diante eu te proíbo de ficar jogando conversa fora com essa sua amiguinha fútil.
- Você é um grosso.
Estela estava prestes a abrir a porta do veículo , mas antes , ele a segurou pelo braço.
- Desculpe.
Em seguida deu um beijo suave em seu queixo , quando ia beijá-la na boca , ela desviou e desceu correndo do carro.
Depois de tanta humilhação e sofrimento Estela estava decidida a usar uma tática quase sempre infalível. Dar um gelo no marido. Oferecendo a Daniel um distanciamento talvez ele passasse a enxergar tudo o que ela era e valorizar seus sentimentos. Sentimentos que só faziam crescer. Estela só não esperava que tão rápido , ele reparasse em sua mudança.
Quando ele entrou a encontrou enrolada na toalha. Havia acabado de tomar uma ducha.
- Mamãe , papai me levou no supermercado e comprou um pacotão de pipoca.
Paty contou eufórica , sacudindo o saco da guloseima.
- É verdade meu amor? Que paizão legal esse que você tem.
- Vou dormir agora , está bom?
- Você ainda não fez a lição de casa , não é mocinha?
- Mais tarde mamãe.
- Não me enrola hein garota. Se não fizer a lição mais tarde... Vou comer todo o seu saco de pipocas.
A menina saiu correndo pelos corredores , soltando risadas travessas. Conseguiu escapar de um dos momentos que ela mais detestava.
Daniel e Estela ficaram sozinhos na sala. Ela segurava a toalha , constrangida.
- Ainda aborrecida comigo?
Dan questionou e enlaçou sua cintura , puxando-a para si.
- Por que deveria não estar?
- Porque uma esposa sempre deve viver em harmonia com o marido.
- Você nunca se importou com essas coisas. Sempre fez questão de me lembrar que o nosso casamento é só uma farsa e não foi somente uma vez que você manifestou sua vontade para que ele continue sendo por toda a vida. Portanto , me solta já. É bom para você acabar com esse papelzinho de enamorado. Estamos sozinhos, não se lembra?
Ela tentava se esquivar dos braços dele.
- Você fica tão sexy quando está assim , bravinha desse jeito , sabia? Que delicia!
Estela conseguiu se soltar com um safanão brusco.
- Me deixa em paz.
Ele conseguiu envolvê-la novamente em seus braços.
- Por que está assim , toda vermelha? É raiva?
- Não.
- Desejo?
- Não sei.
- Você está tímida! Isso me deixa muito excitado. Tira essa toalha. Vai!
- Não!
Dan acariciava os seios fartos cobertos pelo tecido felpudo.
- Seu corpo mexe comigo, sabia?
Ele a soltou de seus braços e se afastou friamente.
- Vou preparar o jantar.
E o jantar foi péssimo.
- Que jogo é esse que está fazendo?
Perguntou Daniel seco.
- Jogo? Não sei do que está falando. Se puder me explicar melhor...
- Você vivia por aí dizendo que adoraria me ver comportando-me como um marido de verdade e agora que está me deixando de quatro literalmente , apaixonado... Você fica fria , se afasta...não me deixa te tocar. Onde pensa que vai com isso?
- á lugar algum.
- E o que pensa conseguir agindo assim?
- Nada. Eu simplesmente cansei.
- Cansou de quê?
- De ouvir você dizendo que eu estava sendo ridícula , Não se lembra? Disse que eu estava sendo ridícula querendo ser sua mulher de verdade. Ainda me acusou de oportunista. Agora você quer que eu aceite seus carinhos? Seus beijos ? Essa sedução?
- Amor , eu não queria ter dito aquelas coisas.
- Você pensa que eu estou fazendo jogo? E você? O que está querendo ? Deve ser algo muito importante. Para fingir que me quer desse jeito!
- Eu não estou fingindo. Estou te desejando de verdade! Eu te descobri.
Revelou enchendo o pescoço feminino de beijos sensuais e demorados. Sua mão ágil já desabotoara alguns botões do top super arrojado e sexy que ela vestia.
- você me descobriu! É sério ? Tarde demais.
- Por favor preta , não me fala uma coisa dessas.
Estela , apesar de tremer da cabeça aos pés, se levantou e deixou o marido comendo sozinho. Tentou se controlar. Como não conseguiu , resolveu sair. Não gostaria que ele percebesse que ela estava nervosa.
Estela queria evitar ao máximo o contato com Dan , mas se esbarraram no banheiro por duas vezes , quando foram escovar dentes.
- Estela.
- Sim?
- Você está brincando de amar.
- Não. Meu amor não é brincadeira e se estivesse realmente apaixonado por mim , não pensaria desse jeito. E chega de falar sobre isso. Esse assunto já deu!
- Tudo bem. Não falo mais sobre isso.
Concordou ele aborrecido. Não estava digerindo bem aquela rejeição. Ele que sempre menosprezara a esposa. Dan queria a Estela apaixonada , que lhe enchia de carinhos e lhe dizia palavras de amor . Ele a queria de volta e não descansaria enquanto não a obtivesse. Tanto que lhe fez uma surpresa.
- O que está fazendo no meu quarto?
Perguntou seca.
Por determinação de Dan , eles não dormiam juntos. Na época ele alegara não ter condições de dividir a cama com uma mulher pela qual não sentia desejo.
- Vim te desejar boa noite.
- Boa noite.
Devolveu lacônica.
- Estava pensando em te chamar para a gente jantar naquele restaurante que inaugurou no centro esses dias. O que acha?
Ela ficou emocionada , mas preferiu não demonstrar.
- Estou sem roupa. E sem disposição.
- Amor ! Pensa com carinho vai!
- Pode deixar , vou pensar.
- Eu vou lavar o carro para a gente poder ir. Você me ajuda?
- Sim. Posso ajudar. Bom , e é só isso?
-É...
Respondeu hesitante.
Ela foi correndo até a porta do quarto que ele deixara entreaberta e a escancarou. Dan não teve outra alternativa além da de se retirar.
Estela sentiu que ele queria ficar , mas jamais permitiria que um homem invadisse sua privacidade , depois de revelar que não a queria em sua cama , mesmo que esse
Homem fosse seu marido.
No dia seguinte , recebeu uma visita surpreendente:
- Minha filha , eu vim te pedir perdão.
- Perdão papai?
- Sim Estela. Eu sou o responsável por tudo em que a sua vida se transformou e qualquer um que olhe para você , pode ver de longe que você não é feliz.
- Não, eu não sou feliz papai. Não tenho o amor do homem que eu amo!
- Se eu soubesse que esse rapaz não queria o casamento! Se eu soubesse que você não estava grávida!
- Mas eu te falei! O senhor é que não acreditou em mim porque sempre quis enxergar somente o que te é conveniente, não é mesmo? Quer saber? Vamos encerrar esse assunto. E a minha mãe?
- Quer saber noticias.
- Fala para ela não se preocupar. Estou bem.
- Quando é que vai aparecer lá em casa?
- Assim que a começarem as férias de Paty.
- Vou ficar esperando. Filha , eu estou querendo conversar com o Daniel para gente poder aparar essas arestas. Será que ele aceita um abraço meu?
- Mas é claro!
E eis que Daniel e o sogro se tornam grandes amigos e passam a manhã inteira conversando.
- Almoça com a gente senhor Juca.
- Não filho! Fica para uma próxima vez. A velha está me esperando lá em casa para uns consertos.
- Fala para ela que mandei lembranças.
- Pode deixar filho. Até a próxima.
- Até.
Daniel ficou sinceramente emocionado com a visita do sogro. Pediria a seu Juca ajuda para reconquistar a filha. Tudo sem que ela soubesse. Sua resistência a ele era grande. Nada ele podia fazer para evitar, por mais que tentasse.
Dan suava pelo sol forte e pelo que o shortinho que a esposa vestira para ajudar a lavar seu carro , provocava em seu corpo. O irônico é que Estela sempre fizera uso daquela peça minúscula do guarda-roupa , mas para ele era como se ela estivesse vestida como uma freira. Por que aquele short o excitava tanto agora?
- Daniel , esse seu porta luvas está um lixo!
- Não mexe no meu porta luvas.
- O que é que tem aqui?
Muito á vontade e segura , Estela começou a revirar o compartimento e enumerar os objetos encontrados.
- Estela , você ouviu o que eu te disse?
Esbravejou.
- Você não me pediu que o ajudasse a lavar o carro? Cuida desses tapetes enquanto eu organizo essa bagunça.
Algum tempo depois ela terminava de dar brilho na porta enquanto Daniel tirava o sabão do tapete. Enquanto isso , questionou:
- Amor , você está lembrada do compromisso que temos semana que vem?
- Daniel , eu não sou o seu amor! E estou lembrada do compromisso mas não sei se vou.
Era a festa de aniversário de um amigo em comum do casal.
- Vem cá, me diz por que você está assim, tão azeda? E sobre o meu convite? Já pensou?
- Ainda não.
- Está difícil , hein?
Daniel suspirou frustrado.
- Só gostaria de terminar com esse carro em paz e acabar com isso logo de uma vez , antes que eu desmaie de calor.
- Se esse é o seu problema , posso resolver.
- Como?
- Assim!
Daniel esticou a mangueira e esguichou água em Estela que correu gritando , para em seguida alcançar o marido e estapear suas costas e o braço. A situação o divertia para valer. Ela procurou fechar os ouvidos para aquela risada gostosa. De repente , a risada morreu. Os lábios cheios e rosados se ocuparam em beijar os dela e pela primeira vez encontrou resistência.
- Me larga Daniel! Não está vendo o quanto me deixou molhada?
- Não tem importância! Deixa eu te beijar , deixa! Não está vendo o quanto preciso? Eu te desejo!
- Não.
Ela se esquivou.
- Estela!
Assustada , Estela colocou as duas mãos sobre o peito ao perceber que o marido estava de olho nos seios expostos pela transparência adquirida com o banho de mangueira.
De repente tudo pareceu parar. Não se ouvia as respirações alteradas, não se via o movimento dos olhos de nenhum dos dois e não se sentia mais o calor escaldante . A magia tomou conta de ambos. Parecia ser a primeira vez que se viam e pareciam ter sido arrebatados pelo amor á primeira vista até que um grito cortou o ar.
- Paty!
Concluíram ao mesmo tempo e rumaram correndo para dentro. Ao chegarem no quarto da garotinha constataram, Paty tinha se assustado com uma barata. Sentindo uma frustração gigantesca dominar todo seu ser, Dan matou o inseto furiosamente.
O humor de Paty só fez piorar dessa hora em diante.
Daniel ligou para a mãe sugerindo que a menina passasse um tempinho por lá.
- Excelente idéia meu filho. Que bom que a minha netinha vai ficar comigo essa noite. Só vou tomar um banho e já estou indo correndo para buscar a minha princesinha. Já estava com saudades. Mas vem cá, a Estelinha não vai se aborrecer?
- Por que se aborreceria? Ela te adora.
- Sim, mas ultimamente eu estou achando ela tão nervosa! Triste... vocês brigaram?
- Claro que não! Que idéia!
- Isso está me cheirando a gravidez.
- Gravidez?
- Claro! A mulher costuma ficar muito sensível. Assim como ela está.
- Não. Ela não está grávida.
- Como é que pode ter tanta certeza? Fizeram o teste? Ela está tomando pílula?
Daniel suspirou irritado. Se não tivesse um plano de sedução para pôr em pratica , jamais teria ligado. A mãe não sabia da real situação entre ambos e era por isso que fazia aquelas suposições absurdas.
- Mamãe , vá tomar seu banho antes que fique muito tarde.
- Está bem meu filho. Até logo.
Dan desligou. A angústia tomando conta. Ele estava desesperado. Dan que até algum tempo atrás não sentia nada, Absolutamente nada pela esposa , foi tomado pela obsessão de ter aquela mulher nos braços , como sua de verdade. Numa noite apaixonada , delirante , onde escutaria gemidos roucos e declarações de amor. A noite que nunca tiveram. A noite que Estela sempre quis. A noite que ele sempre rejeitou.
A frustração era tão grande que socou a mesa. Ela o flagrou.
- Algum problema?
- Não. Nenhum.
Respondeu constrangido.
- Que bom. Com licença.
Estela rumava para o quarto quando duas mãos fortes a seguraram.
- Espera. Onde estava?
- Desde quando onde eu vou é do seu interesse?
- Estela , eu quero saber. Tenho o direito. Sou seu marido.
- Já jantou?
- Ainda não. Ou não se lembra? Não respondeu se aceita o meu pedido de irmos naquele restaurante.
- Você se lembra?
- Por que não lembraria?
- Você nunca deu importância a esse tipo de coisa.
- Agora dou e adoraria ouvir sua resposta.
- Daniel , melhor deixar para outra oportunidade.
- É a primeira vez que recusa um convite meu.
- É a primeira vez que me faz um convite.
Dan corou.
- Fiquei magoado.
- Coitadinho!
Estela zombou morrendo de vontade de ser doce com ele , encher de beijos e de carinho.
- Terá de se desculpar.
- Como quer que eu me desculpe?
- Que tal com um beijo?
Sorrindo com doçura ela o puxou pela gola da camisa e o beijou. Parou quando sentiu as mãos enormes escorregando pelo seu corpo.
- Espertinho. Pará! Era só um beijo.
- Me deixou com um gostinho de quero mais.
- Que tal me ajudar no jantar? Faço aquela omelete que você tanto adora.
- Com queijo?
- Sim e pedacinhos de gengibre.
- Perfeito!
Foram ambos para a cozinha. Em silêncio , de costas para Dan , Estela selecionava os ingredientes para fazer a omelete e tinha a sensação de que ele não tirava o olho das pernas expostas pela saia jeans. Ela sorriu consigo mesma. Dan podia olhar. Só olhar não arrancava pedaço algum.
Daniel não queria só olhar. As pernas femininas nunca lhe pareceram tão atrativas. Eram grossas e morenas. Os pêlos loiros davam um charme a mais.
- Paty. Dormiu?
- Saiu.
- Como?
- Mamãe veio buscar. Vai passar essa noite lá.
- Daniel , sabe que eu não gosto quando Paty durme fora de casa.
- Ela vai estar bem! Mamãe é muito cuidadosa com a neta.
- Eu sei mas queria tanto colocar minha pimpolha no meu quarto hoje! Não estava muito afim de dormir sozinha.
Dan se aproximou abraçando-a . Sentiu que todo o corpo dela ficou tenso imediatamente.
- Posso te abrigar lá no meu quarto. O que acha?
- Não há necessidade.
Quando se virou tentando livrar-se dos braços do marido, ele percebeu que ela chorava.
- O que aconteceu? Por que está chorando?
Questionou secando as lagrimas com carinho.
- Me larga Dan! Me solta ! É a cebola!
Informando nervosa, ela apontou com a faca afiadíssima , o tempero que cortava. Daniel se afastou temeroso.
Um silêncio pesado se abateu sobre o ambiente até que surpresa , Estela emitiu um leve gritinho quando foi erguida por Dan , que a sentou no balcão. Apaixonado, Daniel beijava o pescoço macio e perfumado, mordia o queixo e os lábios bem devagarzinho. Os gemidos que ela emitia o incendiavam.
- Já pensou em algo para a sobremesa?
- Não tenho idéia.
Declarou desinteressada. O que importava era só o que ele fazia. Sem que pudesse evitar, Estela prendeu o corpo do marido com as duas pernas. No momento nada mais havia que pudesse fazer, apenas apreciar as caricias que recebia. Com carinho ela acariciava os cabelos pretos e sedosos.
- Não precisa se preocupar amor , quem é que está pensando em sobremesa?
Estela lutava desesperada para não ceder á paixão por aquele homem. Se isso acontecesse ela o arrastaria direto para a sua cama . Por isso, quando as mãos enormes que deslizavam por suas coxas foram parar embaixo de sua blusa , Estela tentou detê-lo.
- Não Dan! Você não pode fazer isso!
- Não Vou conseguir parar. Você é tão linda , tão doce , cheirosa! Relaxa amor! Deixa eu te dar carinho!
Ele sussurrava .
- E o nosso jantar?
- Eu não quero jantar.
- E o que quer?
- Você.
Estela sentiu a respiração em suspenso.
Antes que Dan fosse adiante , ela desceu do balcão. Deu um rápido beijo e sorrindo disse:
- Boa noite.
- Espera aí, onde pensa que vai?
- Para o meu quarto. Não quer jantar!
- E vai me deixar assim?
Rápida , Estela sumiu de seu campo de visão.
Ela deitou-se na cama sorrindo satisfeita. Não cabia em si de felicidade. O marido disse que a queria. Tudo corria como esperado. Sua tática era um sucesso. No dia seguinte ela se divertiu muito quando Daniel sentou-se á mesa para tomar café.
- Dan! Que olheiras são essas?
- Estou assim por sua culpa, sabia? Você não me deixou dormir á noite.
- Eu? Mas por quê?
- Tudo o que consegui foi revirar naquela cama , pensando em você a madrugada inteira e te querendo ao meu lado. Não foi justa comigo ontem.
- Mesmo?
- Quero você de volta. Te quero apaixonada como era antes.
- Não sei se isso ainda é possível Dan.
Ela via pavor nos belos olhos azuis.
- Não diga isso. O que tenho que fazer? Estou disposto a tudo!
A campainha tocou interrompendo a conversa que teriam. De cara amarrada Daniel foi atender a porta. Estela o acompanhou. Ambos ficaram boquiabertos diante de Denise segurando a neta no colo com inúmeras malas no chão. Estela não previa coisas boas. Não queria nem imaginar o que aquelas malas significavam.
- Não vão me convidar para entrar?
- Mamãe , por favor! Entre.
- Dona Denise , algum problema?
A senhora , sem cerimônias , se jogou no sofá , fazendo drama.
- Oh queridos! Vocês não vão acreditar no que aconteceu! Estou apavorada! Minha casa! Foi invadida por ratos.
- Ratos? Como é que é?
Estela , tremendo dos pés á cabeça pendurou-se no pescoço do marido que se aproveitou da situação. Beijando-a e apertando-a bem junto a si.
- Calma meu amor! Você não ouviu o que a mamãe disse? Eles estão lá! Não há o que temer. Fica calma.
- Eles estão por toda a parte. Na lareira , no fogão, saindo dos telhados , no banheiro , na pia e até na minha cama!
- Oh meu Deus!
Estela compartilhava o pavor da sogra e mal podia acreditar no relato. Quando sentiu que suas costas eram lascivamente acariciadas , imediatamente se desvencilhou pegando Paty no colo.
- O que pensa fazer agora mamãe?
Daniel nem precisava fazer aquela pergunta. Desamparada a esposa olhou para as malas ainda na porta.
- Pensei em passar um tempinho aqui. Não vou dividir a minha casa com aqueles monstros.
A chegada da sogra empurrava um para os braços do outro irremediavelmente. Agora Estela não poderia mais deter o assédio do marido. Tinham que manter a farsa que os unia.
- A casa é sua mamãe.
Sem remédio , Estela emendou.
- Sinta-se a vontade , seja bem vinda. Dan , Acomoda as malas da sua mãe. Naquele quarto...
Constrangida ela não sabia o que fazer. Qualquer deslize a sogra descobriria que eles dormiam separados. Daniel parecendo compartilhar de sua preocupação propôs á mãe.
- A senhora tem mais alguma que queira trazer? Não se esqueceu de nada?
- Sim meu amor! Me esqueci do meu livro de auto-ajuda o qual não vivo sem , dos meus remédios e ... Deixa eu ver do que mais. Ah! A bonequinha da Paty! Ficou lá.
- Se quiser a gente pode ir buscar.
- Oh querido! Não sei o que fazer porque só de pensar em colocar novamente os meus pezinhos naquele reduto de monstros, eu...
- Calma! Vamos fazer o seguinte. Eu te levo e a senhora me fala onde fica tudo para eu poder pegar.
- Está bem.
- Vamos agora?
- Ah querido! Não precisa pressa.
Daniel e Estela se entreolharam desesperados.
- Vamos agora . Vai ser mais confortável para a senhora.
- Está bem então. Está vendo Estelinha? Que filho maravilhoso esse que tenho.
- Sim. O Dan é um anjo.
Concordou emocionada. Despediram-se com um beijo apaixonado que deixou a expectadora especial nas nuvens. Dona Denise era uma romântica incurável.
- Até mais meu amor.
Estela imediatamente voou para o quarto de Dan tirando tudo que pertencia ao marido de lá. Malditos ratos! Tremores e arrepios de ansiedade dominavam seu corpo quando ela pensava que a partir daquela noite ela e Dan estariam dividindo a mesma cama. O que tanto desejara durante aqueles anos finalmente aconteceria mas não do jeito que ela queria. Assim que esvaziou as gavetas, transportando as peças para o seu guarda-roupas , Estela foi para o banheiro da suíte que Dan ocupava , tirando do armário , xampu, aparelho de barbear , gel para o cabelo e tudo o mais. Aproveitou para admirar o ambiente. Raramente entrava ali. Na verdade ela não se lembrava qual foi a ultima vez. Tudo era lindo. Tudo muito masculino. Tudo combinava com o homem que era o amor de sua vida. Suspirou sonhadora.
O cansaço emocional somado á tarefa cansativa de esvaziar o quarto de Dan , fez com que ela caísse em um sono profundo. Após ter tomado um banho , rumou para o terraço e deitou-se na espreguiçadeira. Esquecendo-se do mundo, dormiu. Dan , estranhando o silêncio e sua ausência , chegou até o terraço após procurá-la por toda a casa. O que encontrou não foi uma mulher. Dan encontrou uma mistura de Deusa e menina inocente. Extremamente sexy dormindo naquela cadeira , relaxada . Incapaz de suportar tanto desejo ele sentou-se acariciando e beijando suavemente a face de seda e os cabelos. Daria tudo para ter aquela mulher para si. Ele se recusava a perder aquela ninfa que de tão maravilhosa parecia irreal.
Estela tinha que acordar. Ele pensava. Assim decidido, Começou a agir para vê-la desperta . Queria que ela correspondesse aos seus beijos.
Ela acordou assustada com um copo gelado deslizando por sua perna. Ainda meio zonza , pensando estar dormindo, emitia pequenos gemidos provocados pela boca quente e macia de Dan sugando seu pescoço.
- E o que é isso?
- Uma vitamina de banana ,está deliciosa .
- Fez para mim?
- claro.
- Obrigada!
Murmurou tímida ,feliz , emocionada e louca por um beijo dele.
- Não quer me agradecer de outro jeito?
Estela aceitava os beijos . Não tinha como resistir , seu corpo clamava pelo de Dan , mas as dúvidas faziam com que ela se retraísse. Faziam com que ela se privasse de seu maior desejo. Ter aquele homem inteirinho só para si.
- Você não precisa fingir dan, sua mãe não esta aqui.
-Você está sendo muito cruel , já disse que não quero mais fingir .Quero ser seu marido de verdade.
- Com amor? Ou com desejo?
Como ele não dissesse nada ela concluiu.
- Com desejo. Eu não quero. Quero seu amor . Sou só um capricho para você Dan , nunca vai me amar de verdade.
Saiu correndo e chorando. Daniel foi atrás. Doeu o coração vê-la sofrendo.
- Espera, vamos conversar!
- Para quê? Não há nada o que conversar! Já entendi tudo!
- Vamos voltar para o terraço! Lá estava tão gostoso! Um lugar excelente para namorar , você não acha?
- Não! Quero ficar sozinha.
- Toma pelo menos a vitamina, amor.
Pediu Dan delicadamente. Ela fez o que o marido pedia.
As palavras de Estela não saiam de sua cabeça. O que sentia por ela? Amor ou desejo? Como identificar? Seu coração nunca fora ocupado e pela primeira vez ele tinha a necessidade de que alguém preenchesse o espaço. Mais especificamente Estela.
A tensão dominava a ambos. Vestiu seu pijama e preparou-se para dormir.
- Sua mãe, já se instalou?
- Sim.
- Dan, gostaria de pedir que não tente nenhuma gracinha enquanto estiver aqui, ouviu? Se comporte!
Ele ria divertido e apaixonado.
- Que tipo de gracinha?
- Como me namorar.
Esclareceu tímida , deliciando-o por completo.
Estela parecia calcular todos os gestos e Dan não tirava o olho dela um instante sequer , louco para romper a distancia que os separava e dar tudo o que aquela mulher sonhava , desejava e merecia.
Apoiando uma das pernas na cama , Estela espalhava suavemente por elas , um creme hidratante. O perfume invadiu todo o ambiente. Daniel estava inebriado. Enfeitiçado não conseguia desviar o olhar daquelas mãos delicadas que subiam e desciam nas coxas grossas e nuas para depois espalhar o creme em movimentos circulares. Ele gemeu , torturado. A camisola de seda expôs a parte interna das coxas quando Estela trocou de posição.
- Como quer que eu me comporte com você se portando desse jeito?
Ela mostrou careta.
- Não estou fazendo nada para te provocar. Faço isso todas as noites.
- E eu posso ajudar?
- Não, obrigada. Me viro sozinha.
- Isso demora?
- Já termino! Por quê?
Virou-se perguntando sedutora.
- Porque quero sentir o cheirinho desse creme em você.
Irritada , ela jogou um travesseiro sobre ele.
- Você está impossível essa noite! Não sei o que vou fazer com você, sabia?
- Você pode fazer tudo meu amor! Tudo o que quiser.
- Tudo o que eu quero é dormir. Devia pensar em fazer o mesmo!
Estela encolheu-se na cama quando Dan se deitou e aproveitou para se cobrir com os lençóis até o queixo.
- Esses olhos cor de mel, eu adoro sabia? Você vai dormir assim?
- Assim como?
- Toda coberta.
- Estou sentindo frio.
Mentiu. Estava se sentindo insegura com o marido ao seu lado e não sabia como agir.
- Mas esse tecido é muito fino , amor! Acho que ele não vai ajudar. Que tal o calor do meu corpo?
- Não quero o calor do seu corpo. Quero o calor do seu coração.
- Mas você tem.
- Não. Eu tenho certeza que não tenho. Você só fala isso para conseguir uma noite comigo, não é?
- Estela , ouça...
- Não quero! Não quero ouvir nada Dan. Por favor vai dormir.
Virou-se irritada e sentiu que duas mãos enormes agarravam sua cintura. Ele beijava seus ombros e a nuca.
- Não pode me escutar? Nem por um minuto? Não seja má.
- Está bem, fala logo! O que você quer?
- O que aconteceu com você?
- Comigo? Nada!
- Você era uma mulher tão apaixonada! Toda carinhosa! Adorava me fazer carinho...
- E você o que você fazia?
- Eu...
- Você rejeitava.Cansei Dan. Não imploro mais pelo seu amor. Você me humilhou demais. Até quando achou que eu poderia suportar suas ofensas? Eu te amo demais Dan, mas acabou. Não mereço tanto sofrimento.
- Você me perdoa amor? Fui um burro , um cego e completo idiota. Não pensei que pudesse estar te machucando desse jeito.
- Mas você me magoou muito.
- eu te quero de volta , estou apaixonado. O que eu faço?
- ME seduz. Seduza-me outra vez.
Eram sete horas da manhã. Estela calçou suas pantufas e saiu do quarto bufando. Recusava-se passar um minuto a mais ali. Foi até a cozinha e encontrou a sogra parada lá.
- Bom dia meu amorzinho.
- Bom dia dona Denise , como a senhora passou á noite?
- Muito bem , confortável! O quarto de Dan é um espetáculo não é menina? Parece até coisa de novela!
- Como?
- Meu anjo , estou muito condoída , de verdade. Não precisava ter se sacrificado por minha causa querida. Me arrumava em qualquer canto. Imagino como deve ter custado a pegar no sono essa noite com Dan do seu lado.
- Dona Denise , me desculpe mas eu não estou te entendendo.
Ela interrompeu a Sogra desesperada . Com as mãos trêmulas , tratou de encher um copo com leite , mas não teve tanto sucesso na tarefa.
- Pode deixar que eu te sirvo querida. Vai derramar todo esse leite. Seria uma pena que manchasse essa linda camisola.
Estela corou.
- Muito obrigada!
- Ah , agora eu me lembro! Inclusive foi esse o presente que te dei de casamento , não foi?
- Foi sim.
- O Dan gosta?
- Ele...
Ela não saberia dizer.
- Gostaria de te pedir uma coisa.
- Peça sogrinha. O que quiser.
- Querida , não desista do Daniel! Você não pode perder o homem da sua vida. Se depender de mim... Considere esse casamento salvo.
- Dona Denise!
- Calma filha!
- O que a senhora sabe a respeito do meu relacionamento com o Dan? Ele te contou alguma coisa?
- Nada ! Mas não precisava!
- Eu...
Estela passou a soluçar de desespero e constrangimento. Jamais imaginou ter aquela conversa com a sogra.
- É melhor voltar para o quarto. Descansa. Dorme. O que você não fez essa noite. Você é uma mulher linda meu amor . Confie em si mesma! Sei que as coisas ainda não são como deseja mas vá em frente. Em breve conseguirá o quer. Meu filho está se apaixonando.
- Será?
- Acredita querida! Agora vai para o quarto. Vai.
Estela achou melhor seguir o conselho pensando que as surpresas haviam acabado. Enganou-se completamente. Dan a esperava com o café da manhã completo. Encantada, ela deslizou para a cama!
- Bom dia amor!
- Dan!
O seu olhar era de interrogação.
- Seu café da manhã.
- Que delicia! Seu cachorro ! Eu estava na cozinha, como...?
- Sem perguntas! Aproveita o seu café.
- Ah amor! Não precisava!
- Deixa eu te servir.
Emocionada , Estela só sentia vontade de encher aquele homem de beijos. Fez de tudo para evitar encontrar com o marido de manhã no seu quarto.Sabia que ia ficar mexida ao ver o quanto ele acordava ainda mais irresistível com os olhos cheios de sono e cabelo despenteado. Tentava mentalizar todos os defeitos que Dan tinha e se concentrar neles , mas estava impossível com o marido lhe enchendo de mimos.
- Dan , preciso te falar uma coisa.
- Não. Fica quietinha. Não fala nada.
- É importante.
- Depois. Primeiro toma esse suco. Está uma delicia.
Ela sorria deliciada.
- Hum! Nunca pensei que meu maridinho fosse me dar café na boca.
- Você merece mais! O que quer agora? Queijinho , geléia , gelatina...
- Deixa eu ver... Gelatina.
Estela se divertia com o joguinho.
- É para já.
Dan empenhava-se na tarefa de proporcionar para a esposa tudo o que havia negado durante sete anos , de uma forma bastante especial , de modo que fosse perdoado por ter sido um péssimo marido e por ter magoado o coração daquela mulher pela qual acabara de descobrir que havia enfim , se apaixonado.
- Foi você quem fez isso tudo, amor?
- Sim.
- Juro , eu não sabia que estava tão ligado em meus gostos.
Era melhor ele omitir os detalhes da produção.
- E então , me conta. Como foi passar a sua primeira noite ao lado do maridinho?
- Primeira noite Dan? Você não se lembra , não é? Há quatro anos atrás...
- Quando Paty foi concebida! Claro que lembro.
- Mas aquela não conta. Você estava bêbado. Mas enfim, não passei muito bem essa noite. Eu tenho que ser sincera. Estava acostumada a dormir sozinha. Foi desconfortável. E a sua? Como foi?
A acidez contida na voz da amada o incomodava.
- A minha não foi como eu esperava mas pretendo mudar isso com o passar dos dias.
- O quê Dan?
Ela o olhava confusa.
- Esquece.
Na manhã seguinte, saíram abraçados do aposento. Dona Denise bateu á porta pedindo orientação sobre o uso do microondas. Dan e Estela se levantaram e ao abrirem a porta viram que Paty acompanhava a avó. Ela analisava tudo muito silenciosamente , com cara de travessura e Dan se preparou para alguma artimanha da menininha. Paty imediatamente questionou , deixando o pai vermelho feito um pimentão:
- O que é que o senhor está fazendo aqui? Esse é o quarto da mamãe.
- Sim meu bem. É o quarto do papai e da mamãe.
- Não é! Você nunca entrou aí!
A menina teimou.
- Paty!
Estela começou a advertir , mas foi ignorada.
- É verdade. Mentiroso!
Desafiou.
- Paty! Não fala assim com o seu pai! Anda Dan! Vai ajudar sua mãe com o microondas. Vou conversar com a Paty!
Á noite , durante uma sessão de cinema em casa , ele lamentou:
- Paty estragou tudo.
- Eu não acho Dan.
- Como não? Por acaso a senhorita se esqueceu do que ela disse?
- Não me esqueci , mas que relevância tem isso? Sua mãe já sabia que não somos um casal apaixonado , Sabe que sempre me odiou por não ter tido coragem de dizer não á ordem do meu pai , para que se casasse comigo.
- Como é que é?
- Deixa eu assistir o filme. Depois conversamos.
Não conversaram. Para completo desespero de Dan , Estela não deu margem para que ele abordasse o assunto novamente e ainda exigiu que voltassem a dormir separados , já que não fazia sentido dividir o mesmo quarto a partir do momento em que a sogra já sabia de tudo. Daniel estava desesperado. Seria o fim? O que fazer para seduzir a esposa novamente?
Por duas noites ele a surpreendeu , batendo na porta de seu quarto oferecendo um copo de leite. Rendida , Estela o deixava entrar e conversavam por alguns minutos. Daniel então aproveitava para descobrir o que era importante para a esposa , o que ela gostava , o que não gostava, seu modo de agir e etc. coisas cruciais que antes lhe eram tão insignificantes. Daniel estava desorientado. Tão acostumado a ser seduzido pela esposa , não sabia exatamente o que fazer e que palavras usar para seduzir. O ciúme de Paty era outro empecilho para que investisse mais profundamente como era desejado. Eles brigavam por um lugar na cama perto de Estela.
- Dá para você arredar um pouco para lá baixinha?
- Você não vai dormir aqui!
- E você vai?
Estela protestou:
- Daniel , que feio você ficar competindo com uma criança! Deixa ela aqui , a Paty já está acostumada, vem todo dia aqui no meu quarto e deita um pouquinho comigo.
- Mas já está na hora da avó dessa menina vir aqui pegar ela para dormir.
- Sua mãe sabe a hora de fazer isso. E você? Também não vai para o seu quarto?
- Estou sem sono , sabe?
- Eu estou morrendo de sono.
Na manhã seguinte , ela cobrou:
- Daniel , ainda precisa tirar alguns objetos seus que ficaram no meu quarto.
Após conversarem , Estela acabou convencendo dona Denise a devolver o quarto para o filho. A sogra agora dormia com a netinha. Os Cômodos eram todos amplos, ela não estava desconfortável. Dan rebateu:
- Depois a gente vê isso amor , não é preciso pressa.
- Como não? Daniel , eu não vou ficar com as suas coisas no meu guarda-roupa. Preciso de espaço. Tenho muitos acessórios.
- Me chama de Dan , vai.
- Dan , Daniel... Que diferença faz?
- Você só me chamava de Dan.
- E você odiava.
- Daniel é muito impessoal.
- Vai dizer que não se lembra? Sempre que eu dizia : Dan , meu amorzinho...
Você me cortava e corrigia dizendo: Dan não. Daniel. Não se lembra?
- Sim, posso ter dito isso, mas não pode esquecer? Vamos começar do zero , fazer tudo diferente.
- Não sei se vai dar certo Dan.
- Vai dar! Eu vou te mostrar. Não pediu que eu te seduzisse novamente? É isso o que vou fazer.
E assim foi por dias até que chegasse o dia da festa.
Ajeitando a sua gravata borboleta , sua mãe questionou:
- E o seu namoro com a minha norinha linda? Como vai?
- Que namoro mamãe? Acho que perdi minha mulher. Estela não me dá à mínima.
- Ela te ama! E você? Sempre foi um péssimo marido.
- Mamãe , como a senhora pode dizer uma coisa dessas? Estou precisando de força.
- E vai precisar de muita força mesmo. Depois de tudo o que fez , ainda ter a coragem de falar para a Estelinha que teve um caso com a melhor amiga dela! Você foi um canalha querido!
- Mamãe!
- Não adianta tapar os ouvidos para a verdade. Se esse casamento acabar , você será o único responsável. Nunca fez um movimento sequer para que fossem uma família de verdade meu filho , com essas duas princesas que você tem em casa. Coitada da minha norinha.
- Não me fale no nome dessa Daira. Se eu pudesse , a estrangulava com as minhas próprias mãos. Não ia falar nada mas não deu para esconder a verdade. Estela flagrou a perua tentando me beijar.
- Ainda vou ter uma conversinha com essa ordinária.
- Nada disso mamãe. Vamos esquecer que essa mulher existe.
- Mas ela feriu a minha nora profundamente!
- Eu tanto tentei avisar que Daira não prestava para nada mas Estela nunca quis me ouvir! E por favor , não gostaria de tocar mais nesse assunto.
- Tudo bem filhinho. Você está pronto?
- Estou sim, vou chamar Estelinha. E Paty? Tem certeza que a senhora fica bem com ela?
- Mas é claro que sim! Podem ir tranqüilos. Divirtam-se. A nossa noite vai ser ótima. Espero que a de vocês também. Alguma recomendação especial?
- Não nenhuma.
- Pois eu tenho.
- E qual?
- Trate de reconquistar a sua esposa essa noite. Entendeu? Amanhã eu quero todos os detalhes.
- Pode deixar comigo mamãe.
- Até amanhã então querido. Boa noite.
- Boa noite.
Despediram-se com um suave beijo e Dan rumou para o quarto de Estela, suando feito um adolescente. A palavra segurança corria á kilometros de seu dicionário. Chamando-a carinhosamente de amor por duas vezes , não obteve resposta. Decidiu entrar.
- Estelinha , está pronta?
Ouviu então o barulho do chuveiro.
- Dan , me dá mais cinco minutos.
- Cinco minutos? Estamos atrasados!
- Tenho certeza de que o Mauro vai entender. E você por acaso sabe quanto tempo uma mulher leva para se arrumar? Não. Então seja bonzinho.
- Serei.
- Obrigada.
Sorrindo , o marido apaixonado tentou imaginar quanto ainda duraria esse banho. Resignado , sentou-se na cadeira que a mulher usara para amamentar Paty e que ainda conservava no quarto. Suas expectativas que já eram grandes para aquela noite , aumentaram quando ele visualizou sobre a cama, a roupa que a esposa vestiria para o evento.
Vestido preto, justo e rendado. Lingerie também preta de renda e com motivos vermelhos, chamando fogo , paixão. Sua respiração ficou em suspenso.
Como controlar os instintos de um homem que de repente se vê completamente apaixonado pela esposa que menosprezara durante toda a vida de casados e que agora só sabia desejar essa mulher para si 24 horas? Como não sucumbir á vontade que tinha de dar um bolo no amigo e trancar Estela no quarto para dar vazão a tudo o que sentia e proporcionar a ambos a melhor noite de suas vidas? Abandonou o quarto. Se visse Estela só de toalha , com certeza absoluta , não iriam a parte alguma.
Mauro foi totalmente monopolizado na sua própria reunião de aniversário. Todas as atenções foram voltadas para Estela , seu modelito e principalmente a sua simpatia. Estela distribuía beijos e abraços para todos. As crianças se aglomeravam em volta dela , pedindo colo. Admirado, Dan assistia tudo de longe. Sua mulher estava parecendo celebridade curtindo a noite como ninguém. E quando a pista de dança exclusiva foi liberada, a convite do aniversariante , Estela se transformou em uma D’J, fazendo com que todos os convidados que ali se encontravam , de jovens a quarentões, se esbaldassem no Psy.
Toda vez que o marido tentava se aproximar , era repelido. Ele aproveitou a oportunidade , pegando uma bebida e conseguiu chegar onde ela estava. Ainda mais encantadora , ainda mais irresistível. Ficaram perto mas pouco se falavam até que a um dado momento da festa ele pediu:
- Me dá um beijo.
A esposa prontamente atendeu seu pedido com um leve selinho.
- Pô! Somos casados , se esqueceu?
- Não. Eu não esqueci! Somos casados mas não há nada que me ligue sentimentalmente a você. Você quis assim , se esqueceu?
- Não. Eu não esqueci.
- Que bom.
Dan não desistia de investir e passou a beijar o pulso delicado.
- Que perfume delicioso! É novo?
- Dan , por favor! foi o perfume que você me deu de aniversário. Eu sempre uso. Red jeans.
- Puxa vida...
- É melhor você não falar mais nada. O que acha de ficar quieto?
- Excelente idéia , mesmo porque tenho uma coisa em mente que também vai adorar.
- O quê?
- Advinha.
Sussurrou para em seguida envolver o corpo feminino sensualmente em seus braços e derreter a esposa completamente com seus beijos.
Entusiasmado ele sentia a resposta aos carinhos. Resposta positiva. Isso fazia com que seus pensamentos e seu coração soltassem toneladas de fogos de artifício. Estela alternava os beijos com leves mordidas, entre respirações entrecortadas , o casal apaixonado trocava declarações de amor.
- Saudade! Que saudade de você meu amor!
Ela murmurava emocionada.
- Calada! Se eu não me engano , me pediu para que não falasse nada. Agora faça o mesmo!Fica calada e só me beija.
Ordenou já se apoderando dos lábios da amada. Os quais lhe fizeram tanta falta.
Aquele beijo não terminaria nem tão cedo. Ele tinha certeza. A cada segundo só se intensificava , variando entre faminto e suave. Delicioso. Poderiam se beijar mais 10.000 vezes como todos os amantes , os mais apaixonados,mas nenhum beijo seria igual ao que trocavam no momento. Era único, inesquecível. Um marco.
Os gemidos de Estela provocavam fogo nas veias do marido que passou a acariciar todas as curvas do corpo tentador como se aquela fosse a primeira vez. Beijavam e não conseguiam parar. Se tocavam e não conseguiam parar. A intervenção do aniversariante fez com que o clima esfriasse um pouco.
- Pelo visto vou ter que chamar os bombeiros!
- Pode até chamar amigo, mas quando se tem uma mulher tão linda como a minha sempre fica uma chama acesa.
Estela sorriu lisonjeada.
- Vamos até a mesa de coquetéis. Quero que brindem comigo. Á nossa amizade e ao amor de vocês , que ambos durem para sempre.
Felizes , abraçados e flutuantes , seguiram a sugestão do amigo. E mais tarde a fim de ficarem novamente sozinhos , foram para a beira da piscina. Dan sentou-se em uma espreguiçadeira e puxou a esposa para seu colo.
- O que deu em você essa noite?
Ela perguntou ainda sorrindo.
- Tem certeza de que não sabe?
- Nem faço idéia!
Brincou.
- Então eu vou te falar.
Alguns segundos se passaram e Dan continuava em silêncio, visivelmente emocionado. A esposa em expectativa.
- Dan?
Cobrou.
- Estelinha, por quê?
- Por que o quê? Você está bem?
- Estou sim. Só não entendo por que levei tanto tempo para perceber que eu te amo e que você é a mulher da minha vida.
- Você me ama?
- Mais do que a mim mesmo.
- Dan !
- Esses meses foram os mais difíceis que eu vivi, meu amor! Você fez com que eu sofresse feito um condenado , sabia?
Rindo , Estela o abraçou, enternecida.
- Coitadinho! Judiei muito de você amor?
- Demais.
- Eu fui uma burra ! Uma completa idiota , mas você tem que me entender! Eu estava desesperada. Tinha que fazer alguma coisa para conquistar o seu amor. Tentei de tudo , já não sabia mais o que fazer. Quanto mais eu te amava , quanto mais te desejava. Mais você me desprezava.
- Você me perdoa?
Suplicou beijando todo o rosto que tanto amava.
- Esquece.
- Jura que está tudo bem?
- Agora , acho que sim. Não?
- Meu Deus! Pensei que tudo estivesse perdido entre nós. Essa sua tática de sedução...
- Alguma coisa contra a minha tática de sedução?
Ela brincou.
- Claro! E ainda pergunta?
- Mas ela foi infalível. Minha mãe sempre me disse que enquanto eu implorasse pelo seu amor, eu jamais o teria. Então resolvi fazer o contrário e aconteceu exatamente o que eu previa.
- Fiquei louco. Completamente louco por você meu amor!
- Eu segui os conselhos da mamãe , só não esperava que os efeitos surtissem tão rápido. Foi uma surpresa deliciosa!
Estela ria muito divertida. Apreciando as caricias do marido.
- Deliciosa é você. Meu amor , eu não via a hora de poder te abraçar , te beijar e te dar aquele amasso... Do jeito que você gosta, sabe?
Ele pontuava cada palavra com os gestos.
- Sei! Como não?
- Eu te amo meu amor! Você é linda ! Te quero tanto!
- Eu também te amo Dan! E te quero! Feito louca! Louca!
Mais beijos e de repente ele se levantou, erguendo-a no ar. Estela soltou um gritinho de surpresa.
- Nesse caso, o que estamos esperando hein amor? Vamos logo para a casa. Vamos encomendar um irmãozinho para a Paty.
Risos de felicidade cortaram a noite e marcavam o inicio de uma nova vida.
Vida cheia de amor. Amor de Dan e Estela.