Instintos Que Não Cessam

Para começar,Alice nem queria ter ido àquele coquetel porque achava um pé no saco.Festas sociais são repletas de pessoas chatas.Foi obrigada a comparecer.Era necessário.

De repente um reencontro inesperado com o primo Augusto e Ulisses,uma velha paixão da juventude.Não os via desde de que foram morar no exterior há dez anos.

Olhou mais fixamente em direção a eles.Nesse instante Ulisses também a percebeu.Deu um leve sorriso de alegria.Os olhares dos dois se encontraram.

Augusto virou-se.Surpreendeu-se ao ver a prima.Percebeu o olhar perdido dos dois. Segurou o ombro do amigo,trocaram algumas palavras e ele foi ao encontro de Alice.

Depois das saudações formais entre eles,Augusto disse :

- O Ulisses está ai,quer falar com você.

-Já vi - respondeu evaziva.

-Precisam conversar.

-Deve ser algum engano ,Augusto.Não há nenhum assunto a tratarmos.

Impaciente,Augusto a pegou pelo braço e a conduziu até Ulisses.

-Aqui está a sua Alice,Ulisses.

Os dois pareciam não querer aquela cena,aquele momento.Mas estavam ali,um diante do outro.

-Vou deixá-los a sós.Acho que os dois têm algo pendente a tratar.Por favor,resolvam!

Saiu em silêncio e deixou-os sozinhos.

Foi Ulisses quem quebrou o gelo.Deu uma risada tímida.Enquanto Alice o olhava, sem encontrar nada para dizer.

Ele segurou o braço dela e disse :

-Vamos sair daqui.Não podemos conversar aqui.

Saíram andando feito dois adolescentes,atravessando o salão principal do evento segurando um a mão do outro.Pararam numa esquina.Ele mostrou um táxi parado no sinal.Correram até lá sem medo do depois...

O motorista parou em frente a casa dela.Desceram.Alice abriu a porta.Entraram em silêncio.Ele correu os olhos pela casa,e sentou-se encarando-a.Ainda era tão bonita quanto na adolescência.Mas parecia assustada ao vê-lo sentado na sua sala de estar, depois de tê-la abandonado havia dez anos.

Ela sentou-se diante dele sem nenhuma certeza do que viria.Não sabiam como começaram,mas conversaram bastante.Sem tocar nas feridas do passado.Depois de algum tempo veio o primeiro beijo.Igual ao que fora um dia.Tão cheio de amor...

Então ele foi embora com a certeza de que voltaria mais vezes para vê-la.

Semanas viraram meses sem que nenhum deles conseguissem trabalhar direito,desmarcando compromissos,dando bolos nos outros,correndo para ficar juntos os minutinhos que davam.

Ás vezes Alice o percebia preocupado.Sabia que o motivo da preocupação era Adélia,sua esposa.Foi então que resolveu fazer alguma coisa e começou a sair com outro cara.Terminou com Ulisses.

Daí,num dia qualquer,Alice assustou-se quando Adélia telefonou para ela.

-É a Adélia.Quero conversar com você.

" E ainda mais essa agora",pensou Alice.

-Claro.Vou até sua casa...-se era emoçao que ela queria,pois ela iria ter.E na casa dele!!!

Alice foi sem medo.Deparou-se com ela sentada a sua espera.Era uma mulher razoavelmente simpática.Mas não servia muito para acompanhar a beleza rústica de Ulisses.

- É sobre seu caso com o Ulisses -foi logo dizendo a mulher.

"Só faltava essa agora",pensou Alice.

-Não existe caso meu com o Ulisses.Faz muito tempo que não nos vemos.

-Bem,eu chamei você aqui para pedir que volte a se encontrar com meu marido.Ele não anda nada bem.Está doente,nao trabalha e já nao é o bom marido que era antes, quando me traia com você.

Alice ficou estupefata com o que acabara de ouvir.Impossivel de nao admirar uma mulher que fazia um convite daqueles.

- Você está batendo no endereço errado,me desculpe.Mas nao tenho mais nada a ver com isso.

- Tem sim! - Devolveu Adélia -Ele está sofrendo muito,e acho que foi bom você ter reaparecido na vida dele.

-Adélia,eu não me meto.Melhor conversarem.É coisa sua e dele.

Ali estavam duas mulheres no meio da tarde conversando sobre como decidirem a vida de um homem,como se ele não tivesse vontade própria.E ela que achava que vinha encontrar uma mulher traída...

- Olha,tenho de ir.Fica tranquila.É só uma fase do Ulisses.Depois passa.

Alice se sentia nauseada.Saiu para o ar livre.Precisava de espaço.Resolveu caminhar à beira do mar, frente a casa de Ulisses.Tirou os sapatos,pisou na areia,andou um pouco e sentou a contemplar o mar.

De repente ouviu um som de sapato se chocar com violência contra a areia.Sabia que era Ulisses.

- Também senti saudades -disse ele por detrás dela irônico.

Alice fechou os olhos e tentou não virar-se.

- Não vim ver você.

-Eu sei.A Adélia me contou tudo.

Alice encorajou-se e o encarrou com raiva.

-Já ouvi de mais por hoje -uma lágrima rolou de seus olhos -Preciso ir. - Disse levantando-se.

- Fica ,Alice -ele a segurou firme - Não me deixa!

- Foi você quem me deixou,Ulisses.Iamos nos casar...

Silêncio.

- Alice,você disse que eu podia ir,nao esqueça disso!!!

- Você teria ido de qualquer maneira.Tava louco para ir mesmo,admite!!!

- Mas metade de mim ficou com você!

Sim,havia ficado.Interrado,cravado dento do peito.Agonizando.

Matando os dois aos poucos.

Ele a soltou...Quando a olhou fixamente nos olhos.

- Não podemos acabar assim,Alice.

- Se continuarmos vamos quebrar a cara...

- Pois que quebremos.Maior que tudo,o amor que sentimos um pelo outro.

Não adiantava fugir.O negócio era ir em frente.

Escureceu e os dois se dispuseram a caminhar pela praia de mãos dadas afim de contemplarem o pôr-do-sol...

Obra : Alice e Ulisses

Adaptação : Ana Maria Machado

Marciela Taylor
Enviado por Marciela Taylor em 09/12/2011
Reeditado em 09/12/2011
Código do texto: T3379361
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