Amor entre Guerras

Max teve dois grandes sonhos na vida: servir sua Pátria e conquistar o coração da bela Hannah. Não foi muito fácil conciliar as duas coisas. Ele finalmente se tornou soldado com o início da Segunda Grande Guerra, e Hannah era judia. Os pais de Max nunca foram simpatizantes de qualquer tipo de discriminação e não puseram reparo quando perceberam a paquera dos dois. Ele ainda era um menino quando a família de Hannah montou um comércio na vizinhança. De tempos em tempos a linda garotinha de cabelos cacheados aparecia na loja. Quando a mãe faleceu, Hannah tinha 18 anos e veio trabalhar para ajudar o pai. Sempre que podia, o rapaz ia comprar lá alguma coisa, só para estar perto dela. Bastava que seus olhares se cruzassem, para sair faísca! Max adorava quando ela usava uma certa saia rodada, que acompanhada por meias brancas até os joelhos, deixava a moça muito sexy. Podia contar que a noite teria insônia. Passava horas fantasiando com Hannah, imaginando-se a beijar a boca carnuda, aquelas lindas mãos lhe percorrendo todo o corpo. Com o tempo o ódio aos judeus foi acentuando-se e o pai de Max aconselhou o filho a esquecer a moça. Como se fosse possível! O aviso só fez dar-lhe coragem para ir pedir a mão de Hannah em casamento. Mas o pai dela tomou o pedido como piada. “Garoto louco. Hannah vai casar com homem judeu prometido.” Em seguida veio a Guerra e Max finalmente tornou-se soldado. Quando as prisões de judeus começaram, tudo em que ele sempre acreditara foi posto à prova. Não concordava com toda aquela monstruosidade, mas não podia questionar, eram ordens! Desobedecer seria corte marcial. Certo dia Max fazia guarda com outros soldados da SS numa estação de trem próximo ao Campo de Concentração de Dachau. Um trem cheio de presos políticos havia parado para abastecer. Vindo do outro lado da estrada, um carro com dois oficiais se aproximou. Um deles saltou e dirigiu-se à locomotiva. Havia informações que um preso perigoso estava a bordo, mas depois de uma rápida inspeção acabaram foi encontrando duas jovens judias escondidas no vagão dos religiosos. Foram escoltadas para fora. Bocas amordaçadas, olhares assustados. Max que acompanhava tudo não pôde acreditar quando reconheceu uma delas: Hannah! O oficial levou as duas para o carro e saíram dando gargalhadas. Max segui-os com o olhar até dobrarem uma curva na estrada e pararem. Só quem havia acompanhado a trajetória poderia notar a traseira do velho mercedes despontando entre as árvores. Olhando a volta via-se que ninguém prestava atenção. Em uma fração de segundos, que pareceu uma eternidade, o jovem soldado da SS viu toda a sua vida passar como um filme. Os sonhos de servir à Pátria com louvor, os ensinamentos cristãos de seus pais, Hannah... Hannah!-Max aproveitou um momento oportuno e foi distanciando-se discreto do grupo. Entrou na mata próximo à estrada sumindo de circulação. Foi andando rapidamente por entre a folhagem na direção do carro dos oficiais. Mas quando chegou ao local, não havia ninguém no veículo. O coração do soldado batia tão forte que parecia que ia sair pela boca. Procurou se concentrar. A vida de Hannah estava em perigo. Acalmou-se e ficou a escuta. Ouviu gemidos abafados vindos da mata. Deu alguns passos naquela direção quando foi interrompido por um estampido surdo. Um tiro! Mais alguns paços e avistou o corpo de uma das mulheres inerte e sem vida. Não era Hannah! Bem próximo estava um dos oficiais, que erguia as próprias calças. Não pensou duas vezes. Aproveitando que ele estava vulnerável, alcançou-o por trás sufocando-o numa gravata fatal. Escutou mais sons vindos de trás de um arbusto. Esgueirou-se rapidamente procurando não fazer barulho. O outro oficial estava sobre Hanna. O vestido levantado até a cintura, os joelhos erguidos e separados, era bem claro o que acontecia e o que estava para acontecer. Mas ela não estava estática. Lutava ferozmente contra o agressor que soltava longas gargalhadas. “Filho da puta!” Max deu-lhe um tiro no meio dos cornos. Hannah olhou para ele. Um longo e estanho olhar. Olhar de gratidão, ao mesmo tempo, olhar de acusação. Ela estava quieta agora. Sabia que ainda corriam risco. Max foi rápido. Tirou o oficial de cima dela, carregou-a e correu o mais depressa que pôde para longe dali. Conhecia o local e sabia que mais para dentro da mata havia uma cabana abandonada próxima a um lago. Hannah desmaiara. Max deixou-a em segurança e voltou ao local dos crimes. Enterrou os corpos e escondeu bem o carro. Retornou cansado. Encontrou Hannah ainda desacordada. Cuidou dela por toda uma semana. Das feridas na carne e na alma. Os dias passavam em quase total silêncio. A moça sequer o olhava. Apenas aceitava os cuidados muda, os olhos fixados no vazio. A noite ele a cobria e ia dormir no outro canto da cabana. Certa noite, quando a cobria, Hannah olhou para ele e o segurou pelo braço. “Fica comigo Max, me abraça.” Max assim o fez e finalmente Hannah chorou um longo e sentido choro. “Obrigada por cuidar de mim.” Ele olhou nos olhos de sua amada. Que linda era ela. Tão forte e tão frágil. Acariciou-lhe o rosto com delicadeza, e seus olhos se encontraram. Como ela não se esquivasse, tomou o ato como encorajamento e finalmente, depois de tantos anos, beijou-a. O beijo começou doce, suave, mas as línguas se encontraram e junto veio toda a paixão contida. De repente Hannah contraiu o cenho e protestou! “Não ainda Max. Não se esqueça que posso estar grávida. Temos que esperar para saber, e seu eu estiver.... eu mesma irei mata-lo, pode ter certeza!” “Chhhhhhh.” Max colocou um dedo sobre os lábios dela. “Mais um motivo então para que seja agora. Se vier uma criança, não importa de quem seja Hannah. Um inocente que tem o direito de nascer. Não vamos nos igualar a eles. Pois te amarei agora e nós nunca saberemos.” Era mesmo época de quebrar antigas crenças, tanto para Max, quanto para Hannah.