Amor de outra vida...
E foi no silêncio que ouvi sua voz ecoar como um grito de socorro.
Pude notar a angústia nos gemidos de dor.
A aflição misturada ao medo.
O tremor nas palavras.
E parada ali, na escuridão em que nada podia ver, mais desesperador se tornavam seus gritos, os barulhos de coisas caindo e se quebrando.
Fui caminhando lentamente, tateando ao redor, indo de encontro aquela voz.
Toquei finalmente um corpo, molhado e gelado.
Ao sentir meu toque ela estendeu seus braços e me agarrou como quem encontra um anjo salvador.
Ela tremia em meus braços e chorava, um choro de alívio.
E foi deixando seu corpo relaxar em meu colo e foi se acalmando.
Tirei minha blusa e apertei-a contra meu peito no intuito de aquecê-la.
Embalando-a como um recém nascido, balançando meu corpo pra frente e pra trás cantarolando com meu rosto em sua testa.
Quando ela finalmente se acalmou, me levantei e ascendi velas por toda parte.
Peguei-a no colo e caminhei até o banheiro.
Liguei o aquecedor e fui despi-la.
Seus olhos tristes me encaravam enquanto arrancava do corpo gelado as vestes molhadas, sujas de terra.
Coloquei-a dentro da banheira e banhei-a com delicadeza e cuidado.
Depois de secar seu corpo a vesti, penteando seus cabelos ela já sorria levemente.
A peguei pela mão e caminhei até o quarto. Desfiz a cama arrumada e deitei chamando-a.
Ela deitou ao meu braço encaixando sua cabeça em meu pescoço.
Fiquei alisando seus cabelos e sua mão que pousara em cima do meu peito.
Ela com os olhos fechados, quase adormecendo em meus braços, falou baixinho:
_Obrigada por ser a luz na minha treva. Obrigada por me salvar, me libertar. Obrigada por você me amar. Que bom que você voltou. Agora posso voltar a viver.
E foi assim que nesta vida eu reencontrei o meu amor de outras vidas.
E foi assim que pude voltar a proteger a minha alma gêmea.
E agora eu ilumino todos os seus dias impedindo as trevas de se aproximarem.