“Cordélia e Tonico”.

Se existia mulher bonita, era Cordélia. Morena jambo, cabelos pretos compridos, era alta, mas não exagerado, devia ter um metro e setenta por aí. O curioso é que parece que Cordélia, não era chegada, não gostava de homem. Sapatão? Não, negativo. É que com aquele corpão todo, aquela beleza natural ainda era bebê. Tinha bonecas e brincava de casinha escondido (lógico). Quando ia buscar água, eram várias viagens por dia. Tinha uma porção de admiradores, mas cupido estava ruim de flechas, ou ela ainda não havia encontrado sua cara metade. Cordélia estava apanhando água e a fila estava grande. Enquanto aguardava chegou um estranho, estava acompanhado por mais dois. Pararam junto daquele povo e começaram a alisar a seda (preparar cigarro de droga). Quando Cordélia passou em direção ao beco do sossego. Ouviu elogios que não se faz a uma mulher direita. Colocou o balde no chão, pegou o que estava em sua cabeça e descansou também, falou. –Repete, o malandro repetiu e ela lascou-lhe um sonoro tapa na cara. Sentado em uma pedra, próximo estava um rapaz sem camisa, com uma calça de algodão branca de capoeirista. Quando viu isto se levantou. O malandro iria partir para a agressão, aí ouviu. Menino, você falou o que quis e já tomou o troco. Aprenda a lição e vai-te daqui. Agora a coisa mudou e os três se atiraram sobre o rapaz que era Tonico.
Tonico.
Tonico, sem pais, logo cedo começou a brincar na feira, ajudava a todos ganhava alguns trocados, mas independente de ganhar ou não, ninguém iria carregar peso perto dele sozinho. No mínimo carregariam os dois. Era conhecido de todos principalmente das vovós, e das criancinhas. Parece que nesse time de admiradores, Não estavam Cordélia, e os três rapazes. Bem se acercando o que parecia líder falou. – Parece que o amigo não gostou a quenga é sua? Agora você forçou, irmão antes eram só desculpas, agora não dá mais. Os três pareciam ser bons de briga. Mas Tonico tinha até fã clube. Corre Tonico vai brigar, O Cordão de prata vai brigar. Seu apelido era “cordão de prata”, logo pequena multidão, fazia uma roda em volta dos quatro. Foi um verdadeiro show, por mais que se tentassem, os três, mesmo conhecedores da arte, não conseguiram acertá-lo. Ele não batia, só encostava o pé no peito, na cara, na barriga. Era aplaudido a cada golpe desviado. Até que falou. – Parem, não vou repetir, vão embora. Quando o chefe dos malandros pensando estar ele distraído, quis atingi-lo com um soco no rosto. Praticamente ficou deitado, de costas, só apoiando os pés no chão. Em seguida saltou com o pé no rosto do rapaz, que mesmo antes de cair tomou mais dois golpes, em seguida atacou os outros que em menos de dois minutos estavam com o rabo entre as pernas, se desculpando e fugiram dali. Com um sorriso, ele pegou a camisa e saiu dali. Ficaram quase seis meses sem se ver.
A grande festa.
Chegou o dia da grande festa a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Todos com sua melhor roupa e com vasos de água de cheiro. É a maior festa do ano. Tonico, após as festividades saiu e desceu uma viela, depois pegaria uma escadaria grande e depois atravessaria a avenida para entrar no barzinho que tomava conta. No meio da escada um vulto o seguiu. Ele nunca tivera inimigos, mas só podia ser, se estiverem em muitos eu corro. Ele havia tomado algumas batidas e estava feliz. Escondeu-se em um portal. Quando o vulto o passou pulou pronto para golpear, você! ? . Quando reconheceu Cordélia, falou: - Ficou louca mulher?, quase agrido você. Fique sabendo Nego, que não seria a primeira vez que apanho. Meu corpo é batizado, já apanhei de vara que fiz xixi nas calças. Esse foi minha mãe. Depois meu padrasto de tapas e pontapé, e agora você ia bater de que? Eu vi que você é violento, mas foi para me defender e eu não agradeci. – Não precisa está tudo bem. –Mas eu quero. – Você é família e eu respeito isto. Se você quer saber eu nunca tive amor na vida, mas por um pedaço de pão eu dei minha virgindade. Ela foi agarrando ele que falava eu quero te respeitar. Você é família, mas Cupido também tem suas flechas envenenadas e os infectados perdem a razão e perderam. Nunca se houve amor mais puro, gemido e chorado. Os melhores amantes do mundo perderiam feio para estas almas carentes que pouco se conheciam e tanto se amavam. Noutro dia após almoço os familiares de Cordélia foram visitados. A madrinha aceitou a união dos dois, mas pediu para ficarem com ela. Estava muito velha para ficar sozinha e Cordélia sempre ajudava a fazer seus doces e salgados, que vendiam numa praça. Tudo acertado para casar foram passear na orla. De repente ouviu-se um estampido,-Você se lembra de mim? Mesmo baleado Tonico voou e acertou o atacante que caiu. Seguranças que estavam pelo local chegaram e houve reação, pelos outros, troca de tiros e os três morreram. Após os exames no hospital, a trágica notícia. A bala lesionou a cervical, comprometendo movimentos . O senhor não poderá andar, só com ajuda de aparelhos. Tonico falou para a agora esposa. Demoramos Tanto para encontrar a felicidade, agora ela se esvai. Não você está vivo, eu quero você de qualquer jeito. Deus me fez forte para isto eu vou carregá-lo vamos vender doces juntos seremos felizes você verá. Noutro dia no sétimo andar do hospital, burlando a vigilância das enfermeiras Tonico Cordão de Prata pulou para a morte. Em sua mão fechada encontraram um bilhete amassado. “Princesa, na minha vida, o que mais gostei foi você. Sei que também gostou de mim, sinto isto. Terminamos agora enquanto isto existe e é real. No futuro seria caridade e meu orgulho não aceitaria. Seja feliz. Tonico. Ela chorou muito, mas a vida continuou. Na praça uma baiana, junto com outra de cabelos grisalhos, vendiam doces. Um negrinho peralta, tenta fazer acrobacias de capoeira, e parece que leva jeito. Tonico para com isto você quase suja o vestido de madame. – Vai um docinho madame? – O menino me lembra um capoeirista que se apresentava ali na praça. - Como era o nome dele? Cordélia começou a chorar. Ele é a cara do pai. O pandeiro e o berimbau rasgaram o silencio da tarde, e o rapaz gritava aqui é o Tonico “Cordão de Prata”. A negra velha bonita ainda sorriu. Isto meu filho mostra para eles. Só que esta fala não era da mãe. Era do alto das nuvens, onde um rapaz que parecia ser gêmeo dele sorria maravilhado ao ver o jovem brincar. E a capoeira continuou...

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/11/2011
Reeditado em 30/11/2011
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