"O Patinho Feio".

           Naquela época eu era um moleque espinhento entrando para a puberdade.
Sei que era um cara chato, sempre me arrependia após fazer um comentário infeliz, ou uma piada sem graça.
Cheguei ao ponto de ter vergonha de falar e até de sair de casa.
Era escola casa, casa escola e por este fato minhas notas eram acima da média.
O fato de trocar as amizades e os namoricos pela leitura me transformou no que chama de C.D.F.
Quando passei esta fase a minha pele limpou, já era observado por algumas menininhas, mas os estudos me deixaram ninja, principalmente em matemática.
Os colegas queriam minha amizade porque eu seria a salvação de suas notas.
AS meninas arriscavam até um flerte, na pior das hipóteses eu seria um professor particular.
Minha vida mudou de sofrível para maravilhosa.
Era procurado, paquerado, convidado para festas e nelas era a bola da vez, a vida estava muito boa.
Na minha fase ruim tinha uma garotinha que sempre conversou comigo.
Curiosamente agora ela se afastava, sempre arrumava uma desculpa e praticamente corria.
Achava aquilo esquisito, mas como paquerava com todas não sentia sua falta.
Um dia um colega me falou:
- Minha irmã te adora desde pequeno.
-Ela também é C.D.F. é bamba em matemática, mas é ninja em todas as matérias.
Coincidentemente, sua irmã era aquela menininha que sempre me apoiou, até me libertar.
Percebi que fazia falta àquela amizade e resolvi reconquistá-la.
Parei-a na rua e comecei a conversar.
Ela evasivamente não me olhava na cara e só olhou quando pedi sua ajuda.
Sua mudança foi instantânea.
-Pode falar Roberto em que posso ajudá-lo?
Vou até minha casa pegar a apostila, você viria comigo?
Meio sem jeito ela falou.
-Sim e caminhamos em direção a minha casa que não era longe.
Sabe Jane estava com saudades de você, antes conversávamos bastante.
-Mas você cresceu e esqueceu os amigos?
Ela ficou rubra.
-Não fala isto.
-Então não é verdade?
-Lógico que não, é que você virou um galinha, ela estava nervosa abria e fechava as mãos.
Naquela hora me bateu um sentimento de culpa, fui eu que a afastei.
Olhei seu rosto e vi, ela era linda, aquelas pintinhas em seu rosto a deixavam mais linda ainda.
Falei:
-Jane eu te amo, ela deu um soco em meu peito e chorando dizia:
-Não fala isto, não fala isto.
Abracei-a forte e dei o beijo mais gostoso de minha vida.
Foi só um choquinho, nada cinematográfico.
Mas foi muito bom, andamos de mãos dadas por toda cidade e a cada dois ou três minutos roubava-lhe um beijo.
Este amor foi num crescendo louco, que quando nos formamos na faculdade já estávamos noivos.
Ela arrumou emprego rapidamente, eu demorei  um pouco mais.
Não demorou muito e nos casamos.
Acho que Jane é a mulher mais bonita da cidade.
Tanto é que já desfilou várias vezes e tem inúmeros convites para viajar, mas eu quero exclusividade.
Na cidade fundou-se uma repetidora de T.V., ela foi contratada como apresentadora.
Nossa vida está de vento em popa.
Montei uma escola onde temos uma clientela enorme.
Também dou assessoria à algumas empresas.
Jane me deu uma filha lourinha e pintadinha idêntica à mãe.
Com certeza será artista, diz que será cantora, mas adora uma passarela.
O futuro dirá.


OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 23/11/2011
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