O Fim do Mundo…- Versão longa-
“Uma sirene anuncia um bombardeamento atómico, do ataque separam-nos apenas breves instantes e nós sabemos que nada há a fazer, nada podemos fazer…não temos tempo sequer para sentir quase nada…De repente a alguns quilómetros um enorme cogumelo de fumo começa a crescer e a sua luz ofusca tudo…Segundos antes de tudo acontecer olho para o lado e reparo que estás lá…e sinto-me feliz ignorando esse fim, porque Tu estás lá…”
Todos temos ou tivemos uma vez uma ideia do que seria ou poderia ser o fim do mundo, mas tal passa por ser imensamente subjectivo e personalizado, porque muito possivelmente cada pessoa tem não uma ideia mas diversas sobre o fim do mundo, pois por exemplo basta uma variação de humor para essa ideia ser alterada…Algo que exemplifica o que acabei de dizer é a forma como por vezes estamos perante o amor…: No fim de uma relação por vezes sentimo-nos tão magoados que imaginamos o fim do mundo connosco a sós, sem ninguém, sem a capacidade afectiva de ter alguém…cenário que muda radicalmente quando voltamos a encontrar alguém…altura em que além das habituais borboletas na barriga se imaginarmos o fim do mundo será ao lado de quem amamos…
Mas a subjectividade é o que de facto caracteriza esta imagem em nós, a subjectividade e o nosso carácter, porque a forma como encaramos em termos globais a vida e os seus acontecimentos é que muito possivelmente ditarão a imagem delicada que temos do fim do mundo…
Não sendo diferente das outras pessoas, o meu “fim do mundo” assemelha-se ao delas, nada de especial, tenho diversos e variados “fins do mundo” consoante o meu estado de espírito num dado momento…Mas no entanto entre tantos cenários há um que prevalece imutável ao longo do tempo…:
Desde a adolescência quando apareceu na minha mente este tipo de pensamentos sobre o fim, que imagino o fim literal do mundo, uma catástrofe global que elimina a espécie humana ou pelo menos parte dela, comigo a desaparecer mas com o meu amor a meu lado…Este pensamento é recorrente, assim como os sonhos…Desaparecer com amor a meu lado…
Tudo na vida tem uma razão de ser, e sendo que considerando o amor o sentimento mais belo, mas também mais problemático que os seres humanos possuem, o fim efectivo com o amor ao lado é uma imagem tão dramática e ao mesmo tempo tão bela que a acho irresistível, se bem que se calhar um pouco para o tétrica e sombria…Mas morrer com o amor e com amor é de facto para mim demasiado sedutor ao ponto do próprio subconsciente ser tocado por tal e o tal subconsciente gerar os tais sonhos recorrentes…
Porque toda a nossa existência acaba por ser uma paleta variada de sentires, de sentimentos, nela experienciamos tudo, nela sentimos tudo, estados tão dicotómicos como e ambivalentes como o ódio, desprezo, nojo, amor, amizade, camaradagem, todos estes e mais estados convivem em nós, mas o que interessa é qual o sentir que prevalece, pois o que prevalece define quem realmente somos…
E muitas vezes o subconsciente passa por ser a voz da razão que não reconhecemos existir, o subconsciente e o que ele pode eventualmente gerar pode ser a verdade que nos recusamos a ver ou a reconhecer…
Nem de propósito um dia, há muitos, imensos anos atrás li uma entrevista a um qualquer escritor, em que às tantas lhe fizeram a pergunta banal e trivial de “O que gostaria de estar a fazer quando o mundo acabasse…?”
Ele respondeu:
“Gostava de estar a fazer amor…”
Com o tempo perdi o jornal com a entrevista e esqueci-me quem era o escritor, mas a pergunta mas sobretudo a resposta ficou…
E a paixão por essa resposta, a paixão pelo pensamento, a paixão pela intensidade deste estado ficou…
E sim, eu também gostaria de fazer o que ele disse…
O fim do mundo de facto acontece, o fim do mundo acontece quando chegamos ao fim da nossa vida, um fim de facto e que é incontornável, o fim do mundo porque de facto ele acabou quando morrermos…
Não será pois a visão mais bela de todas, será uma visão que é natural não querermos ter e muito menos pensar nela, mas tal é de facto inevitável…
Também não gosto de tal, prefiro usar tal em cenários de ficção devido ao potencial dramático e de acção extremos que vejo nele, e talvez por isso aprendi a domar e a moldar este pensamento quando ele aparece de forma inesperada…
E assim quando esse momento chegasse para mim como naturalmente irá chegar eu gostaria de estar com quem mais amo a fazer o que temos de mais humano, porque partiria naquilo que se calhar é o pico da humanidade, é o seu auge, é o seu sublimar…
Porque não há para mim nada mais sublime do que me despedir de tudo, me despedir da nossa espécie tão única a fazer o que a torna mais única…
E visto por este prisma o Fim do Mundo até pode ser belo…mesmo divino…