A Viagem!!!

O tempo estava estranho. Fazia calor naquela tarde, mas o céu estava carregado de nuvens pesadas, era um anúncio de chuva, mesmo assim, Van não quis arriscar em levar um guarda-chuva – chato ficar carregando aquilo (risos).

Era um domingo e como todo domingo, Van gostava de ficar em casa. Não tinha o costume de sair nesse dia. Gostava de levantar cedo, caminhar pela praia, tomar seu primeiro café na padaria da praça, bater um papo com amigos, comprar jornal e retornar para casa.

Aquele domingo era especial, mais especial não podia ser.

Após o almoço, ele se se deitou numa rede e ficou a pensar em como é bom o sabor da liberdade, sentir o vento no rosto, ver os pássaros a voar e cantar, o brilho do sol, o amanhecer, entardecer, o anoitecer!

Ele não entendia como algumas pessoas trocavam sua liberdade, por grilhões, não os grilhões da escravidão, onde os negros eram tratados como lixo humano, mas , os grilhões da sociedade.

Porque estenderia seus braços para serem algemados deixando-se aprisionar em calabouços, construídos pela imposição de uma sociedade, machista, chovinismo, hipócrita. Mas como já disse: são escolhas feitas por alguns.

Van não sabia o porque pensava nisso. Mas pensou!

Ele amava a liberdade. Amava o ir e o vir. Gostava de se sentir como um pássaro, que voa sem direção, mas sabe para onde quere ir...e vão...e chegam a seu destino.

Não tinha o poder de voar, mas sua mente voa por ele..

Van não percebeu que já estava há bastante tempo ali na rede e que precisava sair, tinha um compromisso.

Foi para seu quarto, se trocou. Passou pela cozinha, abriu a geladeira e pegou uma jarra de suco de morango, seu predileto, encheu um copo e bebeu. Antes de sair, beijou sua filhota.

- Filha, papy não vai demorar, se der tempo vamos ao cinema ainda hoje, se não der, prometo que amanha nós iremos, ok?

Com seu jeitinho de mocinha, mas sabendo que ele não chegaria a tempo falou: “ Se preocupe não papy. Faça o que você tem que fazer, cinema tem todos os dias. Eu te amo”.

- Também te amo, minha filha amada!

Cris é uma linda menina. Meiga, carinhosa e amiga. Van Sentiu que a pequena criança havia ficado triste, mas ele precisava ir, era um compromisso agendado.

Já na rua, enquanto se encaminhava para pegar uma condução, que o levaria para a cidade vizinha, onde ele pegaria outra condução para chegar ao seu destino, Van lembrou dos dias tensos que passou na semana anterior. Sua ex- mulher queria entrar com o pedido da guarda da filha. Nada poderia ser pior que isso para ele.

Foram dias ruins, noites sem dormir. Ele precisava achar uma solução para o problema e não conseguia.

Mas aquele domingo não era dia para pensar nisso. Como diz o ditado popular: “Quem morre de véspera é Peru”, Van não queria ficar se martirizando.

A viagem até a cidade vizinha é curta, durou uns 15 minutos. Eram 15h quando ele chegou ao ponto do ônibus que o levaria ao seu destino.

Ficou sabendo que o mesmo só sairia as 16hs. Pensou: “ Que droga! Se eu soubesse ficaria um pouco mais com minha filhota”.

Como não tinha outro jeito, resolveu beber um suco. Van não era muito adepto a refrigerantes.

Foi ai que ele viu algo que lhe chamou-lhe muito a sua atenção.

Uma jovem muito bela estava parada no ponto. Me parecia que também viajaria naquele mesmo ônibus que eu.

Uma beleza jamais vista por seus olhos.

Ele não se referia a beleza sexual, mas uma beleza angelical.

Um sorriso encantador. Pode perceber isso ao vê-la cumprimentando alguém. Mesmo de longe, pode perceber a doçura de seu sorriso.

Ela não aparentava mais do que 18 ou 19 anos. Sua pele parecia aveludada, mesmo sem tocá-la, sentiu isso. Seus olhos pequenos, porém brilhantes, davam um tom maior aquela tarde já quase sem sol.

Por algum tempo ele a observou de longe, não tinha o porque se aproximar. Que motivos teria?

Por um momento sua vida deu uma grande volta em torno de si. Muitas coisas passaram por sua cabeça. A beleza daquela jovem era algo que jamais havia visto, nem mesmo em filmes ou novelas, nem mesmo em revistas especializadas.

Mas porque ele pensava isso? Porque aquela jovem que sabia nunca te-la visto mexeu tanto assim com ele?

O que ela tinha que as outras não tinham?

Eram tantas perguntas, que ele achou melhor tentar uma aproximação. Algo que ele pudesse entender o que estava ocorrendo. Isso não era normal. Não era um conto de fadas, não estava num filme de Fred Astaire, Dick Powell e Bing Crosby, e nem estava em nenhum espetáculo da Broadway. Ele estava ali...parado...olhando sem piscar.

O olhar daquela jovem era petrificante!!!

Seus cabelos, mesmo presos, pareciam ao longe, sedosos...

Enfim, ele tomou a atitude que achou que devia. Atravessou a rua e ficou ao seu lado no ponto de ônibus. Por um segundo, ele achou que não conseguiria falar nada. Era uma menina.

Faltavam ainda uns 20 minutos para a partida do ônibus. O tempo passava e ele tentava falar mas as palavras não saiam.

Ele não sabia como começar. Estranho! Mas Van era assim. “Você vai pegar esse ônibus também?” – Caramba! Ele conseguiu! Falou. Sentiu que suas pernas estavam bambas. Algo estranho acontecera com ele e somente ele podia dizer. “Sim, mas o motorista me disse que só vai sair as 16h.Bem que ele podia nos deixar entrar e esperar lá dentro”.

Nossa! Só faltava ele ouvir a voz dela. Ele se encantou. Voz macia, como se estivesse espalhando gotas de orvalho numa noite de luar intenso. Algo inexplicável, inexplicável!!!

Ficaram papeando por algum tempo. Se apresentaram. Ela se chamava Latasha e tinha 29 anos.

Ele levou um susto. 29 anos? Mas ela parecia uma menina. Ele não dava mais do que 19 anos. O encanto foi maior ainda. Seu coração parecia que ia explodir. Uma mistura de alegria e medo.

Continuaram conversando até que chegou o momento do embarque. Como verdadeiro cavalheiro que é, Van deixou que ela adentrasse primeiro no ônibus. Mas ele não queria parar ali. Queria conhecer mais aquela menina. Ao passar pela roleta ele perguntou: “Posso sentar-me ao seu lado para podermos conversar um pouco mais”?

Ele sentiu um medo terrível de que ela dissesse não. Sabemos que isso era uma bobagem, mas para Van seria uma derrota. Ele havia se encantado de forma mágica e intensa: “Claro!” – Ela falou.

No percurso, foram tecendo inúmeras conversas. Puderam se conhecer um pouco, Trocaram telefones, e-mails, essas coisas que amigos fazem ao se conhecerem.

A viagem não era longa e Van pode perceber naquele momento, o quanto a vida, a liberdade e os sonhos, são importantes para cada um de nós.

A liberdade e os sonhos, são coisas que para Van, eram imprescindíveis. Elas andam praticamente juntas. Ter a liberdade para sonhar e sonhar em liberdade, faz com que o ser humano possa buscar dentro dele as resposta de perguntas ainda não formuladas.

Era isso que Van buscava entender enquanto falavam. Por mais que ele procurasse uma resposta naquele momento, para o que estava sentindo, ele não conseguia.

Era tudo muito mágico. Mágico e lindo. De certa forma, um caso nomal como qualquer outro. Um homem que conhece uma mulher e nada mais.

Para Van, não era tão normal assim. Aquele rosto angelical, aquele sorriso de boneca e aquela voz macia, jamais sairão de sua mente, mesmo que nunca mais a veja novamente.

A viagem chegou ao fim para Van, ele precisava descer naquele ponto. Um aperto no coração, era como se ele estivesse se despedindo para sempre. Um sentimento de perda tomou conta dele. Mas ele precisava ser forte. Ela não podia perceber tal coisa, até porque, era apenas alguém que ele havia acabado de conhecer e não havia motivos para esse alarde. Mas Van não era como os outros homens, ele levava muito a sério essas coisas de sentimento.

Quando o ônibus parou, e Van desceu, ainda pode vê-la na janela lhe acenando. Então ele disse: “ Será que um dia voltarei a ver esse rosto?”

George DAlmeida
Enviado por George DAlmeida em 15/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
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