Amor & Net

Já passavam das duas da manhã quando o telefone tocou. Estava com muito sono, pois havia me deitado muito tarde. Eu ouvia o toque, mas meus olhos lutavam para não serem abertos. Devido à insistência, achei por bem atender. Poderia ser alguém pedindo auxilio.

Não tenho o costume de atender telefone a essa hora da noite. Normalmente retiro do gancho sempre que vou me deitar. Mas naquela noite eu esqueci.

Sentei-me à beira da cama, o sono era grande, mas forte que eu, mas o danado do telefone não parava de tocar. “Devia ser algo urgente”, pensei. Ninguém ligaria uma hora dessas apenas para brincar. Sou vítima de trotes. “Não. Não podia ser um trote” – pensei novamente. Foi pelo motivo de tantos trotes, que tomei a decisão de tirar do ganho o danado do telefone após determinada hora.

Meus dias são longos e cansativos. Quando chego em casa, só quero tomar meu banho, comer algo leve, ver um pouco de tevê e descansar, a espera de um novo amanhecer.

Levantei-me lentamente e me dirigi até onde estava o telefone. Ele ficava na sala, num cantinho especial, sobre uma mesinha que havia sido presenteado por um amigo querido.

Estava fria aquela noite, muito frio. Notei que não havia fechado a janela da sala, por onde vinha um vento congelado. Aproveitei para dar uma olhada na rua, Um silêncio total. Nem os gatos e cachorros estavam com vontade de miar ou latir. A noite escura, e silenciosa me fez lembrar meus tempos de menino, mas isso é outra história.

O telefone estava silencioso. Achei que, quem quer que fosse, havia desistido. Já estava retornando para o quarto, quando ele voltou a tocar, atendi: “Alô!”.

Dou outro lado da linha, uma voz quase sussurrada me disse: “Alô, não pude dormir, fiquei pensando em tudo que falamos durante o dia. Meu corpo treme só em pensar na possibilidade de não mais tê-lo”.

Estava entorpecido, devido ao cansaço e o sono, mas pude sentir que ela estava sofrendo.

Não tivemos um dia muito bom, nosso relacionamento estava conturbado. A minha insegurança era notória.

Eu a amava e como amava!!!

Tínhamos vidas diferentes, pensamentos diferentes, atitudes diferentes. Até nosso modo de amar era diferente e isso me causava muita insegurança.

Não queria me separar dela, não queria que ela sofresse também. Mas pelo o andar da carruagem, vi que isso seria inevitável.

- Sei que fomos duros um com o outro, mas você precisa entender que eu te amo e isso que importa.

Sentia que suas palavras eram sinceras, como sempre foi em tudo que me dizia.

- Não sei mais o que fazer para que você acredite em mim.

- Eu acredito... eu acredito...

-... meu amor! Não fique assim. Não pense que eu quero me afastar de você. Se não atendo às vezes sua ligação, é porque naquele momento realmente eu não posso e você abe muito bem os motivos. Mas assim que dou eu retorno, não é?

Eu sabia que ela estava certa. Eu estava exigindo mais que ela podia fazer e sei que isso não era certo. Eu precisava me controlar, precisava entender que o nosso amor era diferente de todos que já tivemos, Mas aceitamos nos amar dessa forma. Não era justo eu tentar virar o jogo.

- Sim, eu sei. Não falei nada, Não estou me queixando disso.

Eu estava mentindo pra mim. Eu esperava mais sim e não estava me contentando com o pouco que recebia, mas não tinha coragem de falar isso e nem podia.

Por um momento me passou um filme. Lembrei-me detalhadamente de como eu a conheci.

“Cheguei cansado aquela noite em casa”. O dia tinha sido exaustivamente longo e para completar, estava chovendo muito. Não demorou para que a luz acabasse. Parecia um filme de terror. Dia cansativo, aborrecimentos no trabalho, chuva intensa e agora, sem luz. Tudo que um ser normal como eu adorara (risos).

Já passavam da meia noite quando a luz retornou. A chuva já não era tão intensa como mais cedo, mas ainda chovia um pouco. Meu sono estava comprometido, pois com a falta de energia, fiquei a ler um livro à luz de velas. Tenho um péssimo costume de dormir com o ventilador ligado, mesmo que ele não fique diretamente em mim, mas o barulhinho que ele faz, soa bem em meus ouvidos e acabo dormindo. A leitura é a minha companheira nas horas em que me encontro sem sono. O dia havia sido rude comigo, mas mesmo assim, não conseguia dormir.

Mas aquela noite foi diferente. Tinha que ser diferente. Tudo foi diferente desde o meu levantar pela manhã. Era como um aviso, mas eu não sabia o que, como e quando. Mas aprendi uma coisa, nunca brigar com o destino. Sei que o meu dia não foi lá muito maravilhoso, mas cheguei em casa com vida, com saúde, então devo agradecer a Deus por isso.

Sou separado, já em fase de divórcio. Tenho três filhas desse casamento, duas casadas e a mais nova de 11 anos mora comigo.

Desde a minha separação, não me envolvi de forma direta com outra mulher, tive apenas pequenos flertes e algumas “ficadas”, como dizem os jovens de hoje. Mas aquela noite minha vida sentimental iria mudar.

Acostumado a baladas nos fins de semana, churrasco em casa de amigos, festas, enfim, uma vida social bem agitada. Não me sentia preso a nada. Quando precisava sair, deixava minha filha menor aos cuidados da mais velha, assim eu saia sem preocupação, tranquilo, pois sabia que minha pequena seria bem cuidada.

De repente me vi quieto em meu canto. Meus pensamentos estavam agora direcionados a alguém. Não um alguém qualquer, mas alguém especial.

Eu nunca acreditei muito nesse negócio de sites de relacionamento. Achava que isso era apenas uma forma das pessoas fazerem sexo seguro e por outro lado, economizarem com motéis, bebidas, etc.

Naquela noite, após o retorno da energia, resolvi entrar num desses sites. Minha filha havia me falado de um deles. Então pensei: “O que tenho a perder”?

Eu não podia imaginar que um pequeno bate papo, daria no que deu. Um amor louco. Cheio de paixão e desejos.

Eu adoro estar com ela, e creio q era reciproco. Foram momentos inesquecíveis, não foram muitos, mais intensos.

Senti que o sangue novamente voltava a circular com força total em minhas veias... meu coração, que outrora se calara, agora sente a necessidade de gritar ao mundo que o AMOR existe.

Esse foi meu erro. Esqueci que não era mais um adolescente, que não tinha mais o direito de sentir ciúmes, de sentir saudades, de dizer mil vezes “EU TE AMO”.

Esqueci que as coisas mudaram e não me avisaram. Esqueci que o romantismo virou tralha do passado, engavetado em gavetas velhas e empoeiradas.

Às vezes gostaria de não ser ator, nem poeta, nem escritor. Nada que tivesse relação com as artes.

Queria ser apenas um mortal. Mas como não sou, uso as minhas armas para poder conseguir o que mais desejo: ALGUEM PARA AMAR!

Mas não é qualquer alguém... é alguém especial. Alguém como ela.

Existe em cada um de nós, um corte profundo, um buraco no meio da alma. Nessa fenda não há sinais de sangue, apenas uma grande abertura em forma de círculo...

Há dor... mas não uma dor física como aquela provocada pelo vidro que penetra a carne...É uma dor forte, forte como a vergonha e funda como um amor recusado ...

O círculo aberto é a crença de que os pássaros são capazes de voar para fora dos rumos dos ventos. De que somos capazes de amar uns aos outros por uma simples entrega. Os pássaros são determinados por sua própria natureza... não têm opção, as pessoas porém, estão condenadas a serem livres, e a serem livres numa só direção...

Assim como o voo se faz de Luz, de Vento, de Espaço... o Amor e a Vida se fazem em meditações concretas.

- Eu preciso desligar o telefone, amanhã falamos com mais calma. Tente dormir e não pensar nisso mais. Eu te amo. Boa noite!

Desliguei o telefone, sentei no chão e percebi que aquele alô era um adeus, então Chorei!

George DAlmeida
Enviado por George DAlmeida em 14/11/2011
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