Isabelle

A tarde estava tão linda quando Isabelle deixou o escritório, o sol brilhava com sutileza e o vento estava um pouco morno, era uma sensação deliciosa, afinal era sexta-feira e ela estaria livre nesse final de semana relaxando como bem quisesse. As pessoas andavam muito apressadas, querendo atravessar a Champs-Élysées como se do outro lado estivesse uma mala cheia de dinheiro com milhões de euros, e ela até se perguntava o porquê disso tudo afinal de contas estava tão em paz naquela sexta que nada poderia estragar o seu dia, pensou até em passar em um lugar para tomar café antes de chegar em casa mas ela hesitou tanto que acabou não indo.

Isabelle estava bem consigo mesma, não tão bem como queria... mas dava para levar. Ela andava se sentindo muito mal nesses últimos meses, sentia dores no corpo, muita fraqueza, mal conseguia levantar para ir ao trabalho, mas mesmo assim ia para o escritório tendo que aguentar sua chefe jogando todos os problemas da empresa em suas mãos. Ela não tinha escolha, tinha que trabalhar. Morava sozinha em um apartamento próximo a rua Jean Lantier e tudo era por conta dela, se não trabalhasse quem iria trabalhar para pagar suas contas?... Ninguém. É. Ela era sozinha. Muitas vezes no serviço mal ia para o horário de almoço, não sentia fome como antes... mas isso deveria ser tudo culpa do stress. Houve uma vez que no meio de uma reunião muito importante ela se sentiu tão mal que seu nariz sangrava e até desmaiou. Era lamentável, mas Isabelle não estava ligando muito para isso, ela tinha coisas mais importantes para se preocupar.

Andando admirada com as vitrines de grandes marcas famosas, seu telefone toca e ela não reconhece o número, só percebeu que não era de Paris, era de algum outro lugar. Ela achou isso muito estranho, até pensou em não atender, mas ficou curiosa para saber quem era. Estranho. Mas atendeu. Seu “alô” era bem tímido e desconfiado. E quando aquela voz que lhe soava familiar respondeu, ela até se assustou, ficou surpresa, pasma e atônita. A outra voz que a respondia era do seu amigo que morava em Londres, o Dylan. Seu coração pulsara com muita rapidez, sentia até suas mãos soarem frio e o rosto ficara cálido e rosado. E era assim todas as vezes que ele ligava para ela, essa sensação que já se tornara muito comum . Dylan não ligava sempre, eram umas 3 vezes por mês e olhe lá, mas eles se falavam bastante pela bendita internet nos finais de semana.

Eles se conheceram em Paris mesmo, Dylan era um amante da Arte e para ele aquela cidade era o coração, a concentração de tudo aquilo que ele gostava... Principalmente Louvre, aquele museu era sua verdadeira paixão. Ele conheceu Isabelle em uma de suas viagens de trabalho há mais ou menos um ano. Ele estava admirando a tão famosa Gioconda, e ela...Isabelle o admirava sem ele perceber. Dylan chamava muita atenção dela, era uma pessoa marcante com seus compridos cabelos castanho, fisionomia séria e misteriosa, não chegando ao seu um metro e oitenta, ele era quase do tamanho dela.

Mas voltando ao que realmente importa, Isabelle estava falando com ele no celular com tanta alegria, que se ela pudesse se externar naquele momento daria um grito ensurdecedor na calçada. Ela gostava muito dele, Dylan era uma espécie de amigo diferente aos seus olhos. Ela o gostava de uma maneira inexplicável, o afeto que sentia era daquele tipo que ela nunca sentira por outro alguém. Na verdade, ela não o via apenas como um amigo e sim algo mais que isso. Algo que ela saberia que se ele estivesse perto, não seria o amor da amizade que iria sentir por ele. E isso a deixava triste, pois sabia que viviam em mundos completamente diferentes, cada um com a sua vida feita em seu país, com seus trabalhos, com seus romances aleatórios, com seus amigos... ou seja, Isabelle era só mais uma amiga que ele conhecera. Nada mais que isso.

No celular, eles se falaram um pouco, pois Dylan estava em um telefone público e estava com pressa porque havia marcado de se encontrar com seus amigos em um pub na Southwark. Ele perguntou à ela como as coisas estavam indo, se ela estava bem no trabalho e tudo mais.

Isabelle o respondeu enquanto atravessava a avenida, toda radiante sem dar muita atenção para o trânsito. Nesse descuido, ela não percebera o porsche vindo em sua direção. Dylan só pode escutar o barulho do freio do carro e logo em seguida a ligação foi cortada.

Isabelle foi atropelada, seus pertences voaram junto com o seu corpo para o alto. Foi lamentável. As pessoas fizeram um círculo em sua volta, o motorista do porsche saiu do carro apavorado e em lágrimas. Não sabia o que fazer e então ele agacha ao lado de Isabelle e nota que ela ainda respirava, e sem hesitar o homem chamou a ambulância. E até que essas ambulâncias não demoraram, chegaram em menos de 4 minutos.

A pobre moça foi colocada na maca, enquanto os paramédicos limpavam o sangue de seu corpo. Parecia que os ferimentos não eram tão graves, mas quem poderia dizer isso eram os médicos do pronto de socorro. A ambulância corria demasiadamente rápida pela Champs-Élysées cortando o crepúsculo das avenidas parisienses. Dava muita dó dela naquela maca, seu nariz sangrava, cabeça, e parecia que tinha fraturado algo. Isabelle não respirava sozinha, e estava lá debilitada, sem dar nenhum sinal de que estava consciente.

Finalmente chega ao hospital, e ela é levada para a sala de exames. Todos os procedimentos foram feitos para salvá-la, os médicos eram em grande massa ali. Foram tiradas muitas radiografias, exames de sangue, suturaram dos ferimentos e colocaram gesso na sua perna e mobilizaram seu pescoço. E Isabelle ainda continuava inconsciente. Ela foi levada ao apartamento do hospital e lá ficou, os médicos procuraram no meio de seus pertences algo que a identifica-se e contatasse à sua família. E assim foi feito, descobriram que seu nome era Isabelle Loire e que não tinha família em Paris, mas sim em Lyon.

Logo pela manhã do dia seguinte, sua mãe já havia chegado ao quarto onde se encontrava sua filha, ela chorou bastante pelo estado que a encontrara. O médico responsável por Isabelle chegou ao quarto para conversar com sua mãe. E ele não trazia boas notícias, disse a ela que o menos grave era os ferimentos e a fratura na perna. Recebendo a notícia com profunda tristeza, a mãe de Isabelle não tinha mais chão, pois o médico lhe disse que a sua filha estava com leucemia no último estágio e que nem a quimioterapia iria resolver, a única coisa que era a ser feito era esperar que sua filha acordasse e aproveitasse seus últimos momentos com ela. Isabelle estava fraquíssima, pálida e aparentava já estar falecida.

Quando era por volta das 9 da noite do nublado domingo, Isabelle abre os olhos, tenta se mexer mas percebe que está presa por aquelas finas mangueiras de plástico que levava oxigênio aos seus pulmões, pelo fino silicone que estava dentro de sua veia. E vê que sua mãe estava lá do seu lado. Com lágrimas ela pergunta para sua mãe o que havia acontecido, pois ela só se lembrara que estava falando com o Dylan no celular atravessando a avenida e de repente não se lembrava de mais nada. Ela também pergunta o porquê se encontrava naquela situação. Sua mãe a responde com lágrimas grossas escorrendo pelo rosto que ela, a sua filha estava com leucemia e que mais nada poderia ser feito.

Isabelle cai em si, calada e com os olhos parados olhando para a janela, contemplando ao fundo a exuberante torre Eiffel. Pensava no Dylan, somente nele, que de nada valeu em sua vida, a não ser o ter conhecido. E então ela pede a sua mãe, com a voz fraca e baixa:

- Mãe, se tudo acabar em pouco tempo... quero um último favor seu... Eu tenho um amigo que mora em Londres, e quero que você ligue para ele e fale do que aconteceu.... Peça à ele para vir... eu quero muito vê-lo, eu preciso disso. Por favor... você pode fazer isso por mim? O número dele está na minha agenda... ele se chama...D...Dyla...Dylan.

Acabando de dizer esse nome, Isabelle fecha os olhos e dorme. Sua mãe consegue realizar o último pedido de sua filha. Liga para o Dylan, explicando toda a situação que ocorrera até aquele momento, e sem hesitar Dylan nem pensou para responder a pergunta da mãe de Isabelle. Ele já pegara as chaves do carro para ir ao aeroporto e pegar o próximo voo a Paris.

Amanheceu segunda-feira, e Isabelle acorda e a primeira coisa que vê é a torre. Respira fundo e fecha os olhos, com o seu coração pulsando lentamente, percebe que já estava pensando no Dylan. E quando sua cabeça vira para o lado da porta percebe que alguém estava entrando. Era ele, Dylan estava lá. Isabelle ficou surpresa, seu coração agora batia com vida, com toda a força que se possa imaginar.

- Você... aqui... Dylan!!!... – com as lágrimas caindo pela sua face fria, Isabelle abre com dificuldade um sorriso, daquele que ele tanto admirava.

- Isa... por quê?! Por que isso foi acontecer? – falava com uma entonação amorosa enquanto alisava os negros cabelos dela.

- Não diga nada... apenas... apenas quero que você... escu... escute o que eu tenho para lhe dizerr...

Mal respirando e com o coração acelerado, Isabelle fala tudo aquilo que ela sempre quis dizer:

- Por todos esses meses, eu pensava como você estava... se estava bem... se quando você chegasse do trabalho alguém estaria lhe esperando em casa... Se você estava amando alguém novamente... Se... Se você ainda pensava em mim... Me preocupava quando você estava triste, e sabia que eu nada poderia fazer...afinal olha como estava longe de você!

Dylan olhava para ela com as lágrimas querendo escapar de seus olhos. E ela continua:

- Mas mesmo assim levei minha vida, pois sabia que era difícil estarmos juntos. Era como se o seu lugar estivesse reservado para sempre aqui dentro... apenas esperando você chegar... – E chorando Isabelle termina - ... Conheci muitos amores, pessoas que entrar... que entram... e saíram efemeramente da minha vida... Mas de você eu nunca consegui esq... esquecer.

Dylan, já não conseguira conter suas lágrimas de tristeza. Estava profundamente surpreso com o que acabara de ouvir, triste ele diz à ela:

- Isa... mas eu também nunca....

- Shhhh !!!! – ela fez - ... Escuta... consegue ouvir o Bem-ti-vi?...Nossa... não é lindo?! – com dificuldade para falar e fechando os olhos complementa - ...Eles fazem me sentir mais próx...mais...mais próxima de onde nascemos...

Ele seca as lágrimas dela e enxuga as dele com a manga da jaqueta. Isabelle já estava fria, pálida e definitivamente morta. Dylan deita na cama ao lado dela e sussurra em seus ouvidos:

- Saiba que mesmo longe, eu gostava muito de você. Nunca consegui te esquecer... Vá em paz querida...

Lola von Mork
Enviado por Lola von Mork em 02/11/2011
Código do texto: T3313144
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.