Eternamente...juntos

Recém-formado, Roberto precisava mudar-se da cidade grande para uma cidadezinha do interior. Dias antes a visitara na procura de assentar-se em sua estada. Por dois anos iria trabalhar como médico naquela cidade.

Tinha acabado de completar trinta anos. Nunca casara ou tivera algum envolvimento amoroso que tenha durado ou causado alguma significação para ele.

No caminho a casa onde ficaria, algo lhe chamou a atenção: uma senhora aparentemente meio mística, estava diante de um lindo jardim, tratando das plantas.

Parou seu carro e ficou a mirá-la por alguns instantes.

A senhora se aproximou, olhando fixamente para ele pronunciou:

- Meu Deus! Você voltou!?

Roberto saiu espantado. Devia ser alguma louca. Pensou.

A casa onde ficara era muito bonita. Antiga, os móveis também antigos e bem conservados, estilo colonial.

Reservou os dois primeiros dias para organizar suas coisas na casa.

Teve dificuldades para retirar algumas coisas e as jogar fora. Tudo parecia muito bem apropriado. De repente um retrato, guardado numa velha caixa que estava no sótão, fez-lhe observar com atento: era um jovem casal, sentados num banco, de costas, virados para um lindo lago. Parecia uma cena viva.

Jogou o retrato no lixo, onde estava armazenando outras coisas.

Passou o dia pensando naquela imagem. Como era bonita aquela cena. Quem eram eles? Pensou.

Inquieto, no final da tarde, foi até à caixa e resgatou o retrato.

Afixou-o na parede da sala.

A noite foi agitada para Roberto. Não conseguia dormir profundamente.

Acordou várias vezes com uma voz que dizia: - Meu amor, você voltou.

Iniciou seus trabalhos no único hospital da cidade, junto a um outro médico e duas enfermeiras.

Não perdia a oportunidade para perguntar sobre a cidade, as pessoas e principalmente sobre a casa onde estava morando. Porém seus colegas também haviam chegados a poucos anos.

Sobre a casa sabia pouco. Havia alugado de um senhor, que apenas dizia tê-la comprado a alguns anos e tê-la conservado da mesma forma que a encontrou. Não era interesse alugá-la. Estava fazendo isso para facilitar a vida do médico, porque na cidade haviam poucas

casas disponíveis.

Na medida do possível e do conhecimento, o jovem médico trabalhava em todas as áreas. Seu colega havia lhe dito: - aqui não adianta especialização, temos que atender qualquer doente.

Nas suas poucas horas vagas, passeava pela cidade. Nunca deixara de passar em frente a casa da senhora mística.

Um certo dia de folga, saiu mais uma vez a passear. Surpreendeu-se com um lindo lago, muitas árvores e flores. Igualzinho a paisagem da foto daquele casal. Tudo ali o deixava encantado.

Depois desse dia sempre que ia àquele local, ficava horas a admirá-lo.

Suas noites eram muito movimentadas por sonhos que quase pareciam reais. Uma mulher o chamava sempre: Volta, não me deixe só!

Certa vez estava saindo do hospital e percebeu estar sendo seguido por uma mulher. Logo a reconheceu. Era a senhora da casa com jardim, a mística.

Andou apressadamente, mas ainda ouviu ela chamando-o: - Pare Fernando, quero falar com você!

Essas coisas estavam deixando Roberto muito angustiado, até o seu trabalho estava sendo prejudicado, não parava de pensar naquilo tudo. Era tão estranho! Pensava.

Um dia resolveu visitar a mulher mística.

Meio temeroso, pois podia ser uma louca, alguma coisa assim, foi até à casa dela.

A mulher o recebeu, olhando bem fixamente para ele.

- Até que enfim, Fernando, você veio. Disse ela.

- Minha senhora, meu nome não é Fernando, chamo-me Roberto. Respondeu.

- Sente, vou preparar um chá para você.

Naquele momento, ele percebeu que a mulher não tinha nada de louca. Falava muito lucidamente.

Inquieto, olhava tudo ao seu redor.

Tomando o chá, a mulher inicia a conversa com ele.

- O que você quer, afinal?

- Eu é que pergunto à senhora, vive sempre me cercando. Vi outro dia rodeando minha casa.

- Bom! Vou chamá-lo de Roberto.

- Conheço a casa onde você está morando. Continuou a falar.

- Conheci desde crianças o casal que morava nela.

- Nossa, eu não tenho dúvida do que vejo. Disse a mulher.

- Eu vou embora, outro dia nós conversamos. Disse Roberto indoi embora.

Vinte anos atrás. Fernando e Rebeca casaram-se, após namorarem desde mocinhos.

Namoraram a adolescência toda. Só se afastaram quando Fernando foi para a capital estudar.

Quando voltou, casaram. Era um amor apaixonante.

Fernando era recém-formado em medicina. Único médico da cidade. Era muito apaixonado pelo que fazia e por Rebeca.

Mais uma noite no hospital, Roberto estava exausto. Chegou em casa, tomou um bom banho, nem jantou e foi dormir.

Agitado na cama, não conseguia dormir, tinha a impressão que estava acordado quando a mulher se aproximou dele, bem devagarinho, sentou na cama e pronunciou apenas uma frase: meu amor.

Não deixou Roberto falar nada. Apenas se amaram a noite inteirinha.

Pela manhã, o rapaz estava meio atordoado, não sabia ao certo o que tinha acontecido. Seria um sonho? Se perguntara.

O que mais impressionava Roberto, é que a mulher com quem ficou a noite inteira era a mulher com quem ele sonhara sempre e que por coincidência ainda maior, tinha certeza era a mesma do quadro, sentada com o rapaz, em frente ao lago.

Que confusão. Pensava ele. Esta cidade não está me fazendo bem. Dizia.

O trabalho não estava lhe bastando, para diminuir a ansiedade, quanto a seus pensamentos. Não conseguia esquecer "aquela" mulher.

Quase todas as noites ela fazia-lhe uma visita. E se amava muito.

Os colegas do hospital dizia-lhe que andava muito estranho.

Certo dia ao chegar em casa. Estava à porta, esperando-o, a mulher mística.

- Precisamos conversar. Disse ela.

- Entre.

A mulher sentou-se e começou a observar cada detalhe da casa.

- Não mudou quase nada. Falou baixinho.

- Preciso lhe falar sobre Fernando e Rebeca. Eles eram um casal muito bonito, viviam sorrindo, todos viam o quanto eram felizes.

Roberto escutava a mulher atentamente. Até perguntar:

- Mas afinal, o que tenho a ver com ele?

- Tudo! Respondeu a mulher.

- Você sabia que por muito tempo, ninguém alugava esta casa?

- Sabia. O senhor que me vendeu me disse que a casa estava conservada desde a moradia dos primeiros donos.

- Fernando projetou esta casa para eles dois. Do jeito deles.

- Depois falaremos mais. Estou cansada. A mulher falou insinuando levantar.

- Não, a senhora começou, agora me conte tudo!

- Bom se quer mesmo saber.

- Dez anos atrás, Fernando e Rebeca vinham de uma festa da cidade, quando numa curva, o carro derrapou e tombou por várias vezes.

- Então eles morreram?

- Sim, Fernando morreu no local do acidente. Quem viu conta que Rebeca gritava muito agarrada a ele. Ficou hospitalizada por vários dias, morrendo logo depois.

- Até hoje há quem escute Rebeca,, eu mesma a vejo sempre gritando:- Fernando! Volta meu amor!

- E o que eu tenho a ver com isso?! Insistia o rapaz.

- Você é igualzinho a ele. Foi ela que me avisou que você voltou.

Depois desse dia Roberto ficou mais assustado ainda.

Estava resolvido a ir embora da cidade. Não queria mais saber daquela história. Conversou no hospital e aguardava apenas a papelada ser pronta, para ir embora.

Foi até o lago, sentou no banco. Ficou pensativo. Não ia voltar atrás. Não parava de pensar em Rebeca.

- Meu Deus! O que está acontecendo? Num instante seus pensamentos foram interrompidos. Gritou assustado.

Rebeca estava ao seu lado. Ali pegando nele, com muito carinho.

- Não vai me deixar, não é meu amor?

- Rebeca, por que faz isso comigo? Não sou Fernando!

- Você consegue viver sem mim? Como pode, sabe que eu não posso ficar sem você!

- Não posso mais ficar aqui. Disse ele retirando as mãos dela de cima de suas pernas.

Roberto saiu quase correndo.

Em casa, não conseguiu dormir. A imagem da mulher não saía de seus pensamentos.

Mal amanheceu, Roberto arrumou suas coisas, foi até o hospital acertar tudo e pegou a estrada.

Alheio à tempestade que caia, foi embora, passando em frente da casa da mulher mística, pensou: Graças a Deus estarei livre desse tormento.

De repente, um cachorro atravessa a estrada e...Roberto perde a direção do carro.

Acorda ao lado do carro, ainda ouve o som da ambulância, o barulho de algumas pessoas e... Rebeca ao segurar suas mãos, dizendo-lhe: Meu amor, ficaremos eternamente juntos.

Gecildamaria
Enviado por Gecildamaria em 28/10/2011
Código do texto: T3303723
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