escreve o que eu digo
Uma quinta sem graça
um tinto como companhia
o celular insiste em não tocar
na tv nada me interessa.
Como,algo para enganar a fome.
Visto,o necessário para não passar frio,
ando pelo apartamento para movimentar o cérebro.
No computador um livro inacabado
uma musa sem nome
um vilão atrás de uma capa.
As letras fogem de mim,
as palavras se escondem.
Frases desconexas,que não dizem nada
me assombram.
Pego um jornal com notícias de três dias
o tempo me pregando uma peça,
onde estava a três dias?
estava no meio de uns cabelos ruivos
um perfume,um batom,um vinho barato
uma mulher cara
um ar sem vergonha
uma transa,muito bem paga.
Ainda tenho discos
de pessoas que já morreram
uma aspirina,
um copo com água,
uma pomada,
um machucado,
um artigo,
um pronome para começar o assunto
um verbo pra dar ação,
um adjetivo pra ti ficar.
soletro s-a-u-d-a-d-e
as horas passam entre meus dedos
meus olhos secam,na frente do computador
enxugo o último pensamento
e nem uma mísera idéia
meu editor esta de campana
esperando um livro
que hoje não virá.
os personagens na minha cabeça
querem saber para onde vão
se tem de levar guarda chuva
roupa de banho,se vão a cavalo
de tapete voador,se conhecerão reis,rainhas,
vagabundos beberrões,prostitutas
em tavernas imundas.
A mente poluída inebria tudo,não quero que fujam,
os quero sempre perto de mim,até irem embora em capas duras e morrerem em sebos imundos.
Ainda arde os últimos que deixer ir.
não espero,carta,telefonemas
abraços,presentes de Natal
quero dinheiro...
por eles terem saído de mim
no silêncio de um quarto escuro
procuro o que está escondido.
Escabroso,tenro,temido,ingênuo
não importa,o pouco da minha
sanidade me guia na neblina
e pego pela mão os protagonistas
da minha história.
na verdade se pudesse teria a foto
de cada um de meus leitores
olhar para eles,encará-los.
Quem são vocês,por detrás
das letras que escrevo.