107 - MEU PRIMEIRO AMOR....
Sábado, uma fila enorme no guichê do caixa do supermercado, pacientemente aguardava a minha vez de ser atendido quando instintivamente olhei para trás e defrontei com uma pessoa que era muito, mas muito parecida com uma outra que um dia povoou inteiramente os meus sonhos, que foi a dona do meu coração, a dona da minha vida.
Assustado voltei os olhos para o caixa, mas aqui dentro de mim um turbilhão de imagens e sons desfilava tal qual um caleidoscópio maluco projetando em cada canto do meu pensamento aquele rosto tão lindo, aquele olhar tão puro, um verde profundo que me acorrentou, e aquele corpo tão desejado que eu não cansava de abraçar nos meus sonhos, desejos que me atormentavam dia e noite sem cessar, sonhos meus porque revivem agora?
Não resisti, me virei, mas destas vez olhei mais atentamente para aquela pessoa que não tirava seus olhos dos meus, meu coração descompassava, comecei a transpirar acentuadamente, uma agonia esquisita, aquele perfume me envolvia, me sufocava, me recolhi, amofinei, fui empurrando meu carrinho com as compras sem atinar no que estava fazendo, abobadamente, tudo em mim, toda a minha atenção, toda a minha sensibilidade me dizia que aquela pessoa já fora alguém muito, mas muito desejada em minha vida.
Esta pessoa já me fizera suspirar apaixonadamente, alguém que me atraia, eu passava constantemente em frente à sua casa na esperança de vê-la, longas noites rolando na cama, abraçando-a, beijando-a, abraçava, beijava, tudo era tão real que das vezes pensava que estava enlouquecendo.
Quantas coisas desfilaram pelo meu pensamento neste ínfimo espaço de tempo! Certa vez passando em frente a sua casa eu vi o seu marido beijando-a ternamente, que tristeza, fiquei arrasado e sem rumo, desejei a morte daquele homem, desejei que ele arrumasse uma outra mulher, que a abandonasse, eu a queria somente para mim, toda minha, eternamente minha, tinha ciúmes dela aos montes, fico encabulado em me perguntar se ela desconfiava daquele amor amalucado e desmedido.
No fim daquele ano ela deu uma festinha em sua casa, coloquei a minha melhor roupa, e lá chegando me acomodei em um canto da varanda com alguns amigos e amigas, bem distante dela, na penumbra, de lá fiquei a observá-la, e eu a amava de todo o meu coração, era uma festa de despedida, eles estavam mudando para outra cidade, seu marido que era engenheiro e iria gerênciar a construção de um prédio nesta nova cidade.
Ela abraçou a todos no despedir e ao me abraçar, apertou-me com carinho e ternura, e no meu ouvido sussurrou:
- Vou sentir saudades de você!
Na rua os amigos me convidavam para irmos para os barzinhos da avenida, eu estava surdo pra tudo e pra todos, estava completamente perdido, completamente fora de si...
Ah! Se eu pudesse implorar para que ela não fosse, se eu pudesse dizer pra ela que abandonasse o seu marido, que ele fosse sozinho para a outra cidade, mas nada disso eu pude dizer, estava mudo, completamente mudo, olhei mais uma vez para a casa dela, e ela ainda estava no portão acenando pra todos nós indistintamente, eu acenei e murmurei:
- Adeus...
Inesperadamente aquela pessoa que estava logo atrás de mim, que em tudo se parecia com aquela que um dia eu amei perdidamente tocou no meu ombro, foi como que me despertasse de um profundo sono, de um devaneio e ao me virar na surpresa ela perguntou:
- Do you speak English??
Reconheci, era a mesma voz, o mesmo olhar, era a pessoa que outrora eu tanto amei, abracei-a como se abraça uma saudade da qual se sente muita, mas muita saudade, beijei o seu rosto e ela também me beijou, que felicidade e que alegria em revê-la, ela nos meus braços e não cansava de me abraçar...
Minha professora de inglês do tempo do colegial, agora já tão velhinha...
Meu primeiro amor...