"O primeiro beijo"

Ela tinha recém feito quinze anos, acabara de desabrochar como mulher. De uma hora para outra passou a ser notada pelos amigos dos tios e pelos meninos da escola. Ela se sentia radiante às vezes, mas tinha medo de tudo. Medo de ficar solteira, medo de se casar, medo de ser beijada e não saber corresponder...

Ainda não estava pronta para passar para a fase adulta.

As amigas já tinham beijado, pelo menos diziam que sim. Mas ela não tinha coragem. Ela se sentia tão imatura. Não tinha nem pêlos, nem espinhas. Nas conversas com as colegas da escola ficava só ouvindo-as falarem: sobre depilação, salão, limpeza de pele, beijo, namorados... e ela nada. Sua pele era lisa como a de um bebê, até chegou a comprar um creme para tentar se depilar, mas a pele sensível se esfolou, ganhou uma queimadura, ficou envergonhada, jamais contaria isso para ninguém. Está certo que na verdade ela tinha aquilo com a qual as meninas sonhavam. Pele de porcelana, pernas lisinhas e macias e que nunca teriam pêlos para depilar, isso era uma dádiva. Mas naquela época ela não sabia disso. Achava que pêlos eram um sinal de maturidade e ela estava atrasada.

Os rapazes a assediavam, vinham até sua casa, quase imploravam sua atenção, eles a intimidavam, ela se fechava e isso os atraia mais. Até quando ela se sentiria assim tão apavorada? Já estava com quase 17 anos, nada de pêlos ainda; mas também, isso não a preocupava tanto mais. Não era mas um problema tão grande, isso ela até podia disfarçar. Podiam até pensar que ela se depilava, quem iria desconfiar que na verdade ela era despelada?

Uma preocupação maior tomava seus pensamentos: ela nunca tinha beijado ninguém. Alguns rapazes mais atrevidos tinham até tentado, chegado bem próximo, mas ela afastara o rosto, morria de medo que eles percebessem que ela não sabia beijar. Ela estava desesperada, se sentia velha e ao mesmo tempo infantil. E eles não despertavam nela a vontade de beijá-los. Não mesmo.

Até que uma manhã, voltando da escola, ela resolveu trocar de caminho, iria sair do centro, iria pela periferia, foi caminhando sem pressa. Desanimada, nada acontecia! Em sua classe na escola tinha uma menina, (que se duvidar era até mais nova que ela)que tinha pêlos enormes pelo corpo, tinha até bigode, linda! E tinha namorado, namorado firme, e já fazia vários meses. Ela a invejava, não tinha vergonha de pensar isso, invejava mesmo; porque ela tinha tudo. Pêlos e namorado.

Estava pensando sobre isso, quando viu ele, lavando um carro velho amarelo, um corcel talvez.

Nem era bonito, era magrinho, moreninho, cabelos com cachinhos miúdos. Ele como que atraído, virou-se e a encarou, eles se miraram nos olhos. Um frio estremeceu seu corpo. Ela ainda não tinha ouvido falar de química entre duas pessoas, mas aquilo era uma tremenda química. Quem seria ele? Porque ela nunca o vira por ali? Com certeza ele era fruto de sua imaginação, ou era de outro país. Ele parecia mesmo meio estrangeiro, árabe; sim ele era da Arábia, por isso ela nunca tinha visto ele. Nunca mais o veria. Que pena, ela queria beijá-lo. Ele, ela beijaria com certeza, sem medo, nunca sentira aquilo. O que acontecera?

Chegou em casa mal vendo a hora de contar para sua melhor amiga e confidente. Ela vira um homem, um homem que a impressionara, misterioso, diferente de todos. Mas não sabia quem era. E talvez não o visse nunca mais. Mas descreveu-o, e a amiga começou a rir. Você não sabe quem é ele?

Ele não sai daqui da frente da sua casa. Ele é amigo do seu melhor amigo, eles cresceram juntos, vivem juntos. Ele é o filho do pastor da minha igreja. Não acredito que você nunca tenha notado ele por aqui.

Será? Ela ficou radiante, torcendo para a amiga estar certa, temia que ela tivesse se enganado. Estavam lá falando dele, sentadas na varanda da casa dela, quando a amiga tocou em seu braço: _ Olha! Ele não é aquele ali? Era. Era ele mesmo. Em carne e osso. Uma incrível felicidade tomou conta dela. A amiga chamou o amigo delas e pediu que ele se aproximasse, e disse que ela queria conhecer o amigo dele. Ela ficara muda, não conseguia falar nada. Ele atravessou a rua, sorrindo, um sorriso lindo perfeito brilhante, contrastando com sua pele morena, quase negra. Um príncipe árabe. Perfeito!

Eles começaram a conversar, ele conversava tão bem, era maduro, inteligente, nobre. Antes quis saber se ela não namorava o amigo dele, pois ficara sabendo que os dois tinham algo. Que viviam conversando, estavam sempre juntos, mas ela o tranqüilizou. Somos amigos, ele é apenas meu amigo, nunca me disse nada com relação a namoro. Ficaram ali conversando, e o tempo foi passando, escureceu. Eles nem perceberam, uma amiga convidou para irem comprar chocolate no barzinho da esquina. Eles se levantaram foram andando devagar, a amiga na frente com o namorado dela. Eles se distanciaram, o coração dela parecia um tambor. Ele estaria ouvindo as batidas? Ele parou, ela se voltou, ele a olhava nos olhos. Ela sentiu um estremecimento, seu coração disparou, como uma manada de elefantes. Ela mal conseguia respirar. Ele foi se aproximando devagar, os olhos fixos nos dela. Ele teria percebido seu desespero, sua fadiga? Ele não demonstrou, apenas segurou seu rosto com as duas mãos. E tocou seus lábios, suavemente, delicadamente, ela entreabriu os lábios involuntariamente, e ele a apertou com mais força. Ela se apoiou nele, não sentia mais as pernas. Foi quase como ser transportada ao espaço, estava flutuando. Não existia mais o mundo em torno deles. Ele a soltou depois de um tempo, ele sorria. Ela estava sentindo uma leve e gostosa tontura, como quando bebia champanhe. Estava feliz, era a mais feliz das criaturas. Valera a pena a espera!

Rosahoney
Enviado por Rosahoney em 21/10/2011
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