Estranha Impressão
Eu tinha a estranha certeza de que aquela seria a ultima vez que iria vê-la. O meu semblante se fazia irresoluto, e por dentro a tristeza já deixava as cicatrizes. Mal podia eu acreditar que, aquele corpo que jazia frio na minha frente, estava a pouco tempo tão possuído de vida e tão embebecido de sonhos. No primeiro momento, minha voz cortou o silencio da cidade, como se ela pudesse ainda escutar minha voz e retornar, depois minha alma mergulhou na escuridão da noite, e se perdeu na busca pelo conforto de seus braços.
As minhas lágrimas eram como o balsamo a perfumar a minha face ainda tão jovem, porém tão sofrida. O brilho da lua repousava sob seu corpo em um ato furtivo tal qual o primeiro toque de dois enamorados. Pensei de repente ouvir seu choro, mas era apenas o passado que se retornava com as lembranças recheadas de risos, beijos e palavras de carinho. De nada mais adiantava todas aquelas coisas, pois nos seus olhos agora cerrados findavam todas essas coisas. Mal a perdi e já percebo que lembrança alguma poderá sustentar o meu coração, e sendo assim, é preferível o fim a ter conhecido a liberdade dos teus carinhos.
Eu agora solitário, desiludido e golpeado pela vida, peço em desespero que esse frio cortante que agora me toca venha a cortar também o meu corpo em dois, tal qual o destino fez com a minha alma: uma parte dela sempre esteve contigo, e agora, a parte que me pertencia me foi tomada pelo desconsolo. Sem alma, sentido que meu coração está sempre vertendo sangue e a sensação de que a imensidão de todas as coisas que me cercam repousa sobre minha cabeça, eu vou tentando viver. Quem dera tudo fosse sofrimento, no entanto, essa tua ausência é como uma nova morte a cada dia.