Roads.

Tocava Roads do Portishead no notebook de Anderson e ali estavam eles. Entre crises de ciúme e sexo no corredor do apartamento, emails de despedida e encontros no metrô com ele ajoelhado fazendo corações com seus dreads, envergonhando-a de uma forma que ela adorava.

Ela deixou claro que prezava sua liberdade enquanto ele procurava apartamentos pensando nos cinco: ele, ela, dois filhos e um cachorro.

Ela, pseudo-desiludida, tentava manter o controle e cumprir a promessa feita a si mesma de que viveria bem sozinha: promessa quebrada há exatos dois meses e oito dias.

"Dois meses e oito dias!", ela dizia tentando fazer ele entender que era cedo demais pra cobranças (se é que existe um momento adequado pra elas), tentando fazê-lo acreditar que estar ali discutindo sobre isso é demais pra alguém que já não acredita no amor.

Enquanto ela fumava um cigarro na varanda do apartamento de Anderson, ele a olhava, sentado na cama, ambos pensando no que e como dizer. E escolher como dizer é importantíssimo pra eles, pois todas as vezes que se vêem ou se lêem, só há duas saídas: Adeus ou "Vamos viver juntos?".

Ela já não conseguia se ver distante, estava viciada na instabilidade dos dois.

Anderson foi até ela, e daquele jeito que só ele fazia a abraçou por traz e beijou sua nuca. "Mais uma vez?", ela pensou, com uma lágrima querendo escorrer em seu olho direito e, antes que essa se formasse para vir a cair, seu cigarro estava no chão.

Assim como seu vestido.

Não era a primeira vez que uma discussão terminava com um orgasmo, mas sempre parecia que era a última.

nes_ste
Enviado por nes_ste em 16/10/2011
Reeditado em 16/10/2011
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