Sequestro Relâmpago (reflexão)
Quando o executivo Mário despertou da pontada no coração, estava num cemitério rodeado de homens mal encarados. A noite escura de sons macabros. Tentou relembrar o que havia feito naquela segunda-feira macabra.
Naquela manhã de segunda-feira, despertou com uma sensação diferente. Sentiu um aperto no peito seguido de uma inquietação incomum. Lavou o rosto e sentiu-se melhor. "São os negócios e as preocupações. Preciso viajar um pouco."- concluiu, enquanto escovava os dentes.
Chegou à sua empresa com meia hora de atraso. Os funcionários estavam à sua espera. Pareciam ansiosos e tensos.
O empresário desculpou-se. Sentou-se à cabeceira da mesa e começou a reunião. De repente, uma dor repentina atravessou seu peito como se fosse um punhal arrancando suas entranhas. O suor escorreu pela camisa branca de linho. Desmaiou.
Quando acordou, estava naquele cemitério.
"Deve ser um sequestro relâmpago!"- pensou, enquanto olhava à sua volta.
" Que cativeiro mais singular! Será que vão me apagar ou pedir resgate? Cadê meu celular?- pensou aflito. O celular havia desaparecido. E,também, o maço de cigarros, vício de mais de quarenta anos.
- O que vocês querem de mim? É um sequestro relâmpago, não é? - perguntou , enquanto olhava para os lados.
- Está preocupado com sua fortuna e a empresa?- perguntou um homem encapuzado que surgiu naquele instante.
O empresário recuou assustado e gritou:
- Cadê meu celular? Avisaram minha família? Estão querendo resgate, não é? Vocês estão muito enganados! Estou praticamente falido! - arriscou , enquanto baixava os olhos. A dor no peito não dava trégua.
- Queremos sua alma!- respondeu outro homem encapuzado. Surgiram muitos homens encapuzados à sua volta. O ambiente sinistro, aterrorizante. O empresário estava com a camisa ensopada de suor.
- Esses homens devem estar drogados.- pensou, disfarçando o pavor que o acometia. O que seria dele nas mãos daqueles bandidos?
Sentiu um soco no rosto. Os homens deram gostosas gargalhadas. Talvez quisessem apenas sua morte por algum motivo torpe: vingança.
O empresário começou a enfileirar mentalmente os seus inúmeros e incontáveis inimigos.
Era muito dinheiro em jogo. Sua fortuna construída através de operações desonestas e muita corrupção. Não era querido na empresa. Sua fama era de um patrão déspota e exigente. Tratava os funcionários com autoritarismo. Falavam mal dele pelas costas. Se os sequestradores o matassem, o seu genro ficaria com toda a fortuna.
- Saia da nossa frente, homem estúpido.- ordenou um encapuzado.- Nós vamos nos encontrar mais tarde.- ameaçou com voz cavernosa. Os outros o seguiram.
O empresário ficou sozinho encostado a um dos túmulos. Tentou se recompor a muito custo. O corpo doía muito. A cabeça latejava.
Mário certificou-se de que os bandidos haviam fugido e saiu correndo. Pensou aliviado: " O que deu neles? Fugiram sem pedir dinheiro?"
Pulou o muro do cemitério. Não acreditou quando chegou à sua casa. Era uma bela mansão incrustada num condomínio de luxo onde morava sua filha interesseira, a espôsa adúltera e seu genro mau caráter.
O pastor alemão Bóris o saudou alegremente abanando o rabo. O homem observou um movimento incomum no portão de entrada. A casa estava cheia de gente.
Entrou em casa. A sala cheia. Estariam preocupados com sua ausência? Por que ninguém o notara?
Falou com a espôsa. Ela não respondeu. Estava sentada no sofá e um homem segurava sua mão.
"Já sei! Deve ser o salafrário do amante. O que faz aqui? Ah, vou acabar com ele! Será que chamaram a polícia?"- pensou o empresário.
Seu genro conversava com um senhor calvo. O empresário ouviu cada uma de suas palavras:
- Pois é, Miguel. Agora, a empresa vai tomar jeito! O pão duro do meu sogro bateu com às dez. O coração dele parou! Enfarte fulminante! O homem fumava 3 maços de cigarro por dia! Fique tranquilo, Miguel, porque você será meu assessor. - afirmou com orgulho.
O empresário empalideceu. E, se a gente pudesse morrer duas vezes, o homem infartado e devidamente morto caiu duro no chão!
Um vulto de luz se aproximou daquele espírito recém- desencarnado e entorpecido pelo choque. O empresário abriu os olhos e murmurou, enquanto a sombra iluminada o amparava:
- O que aconteceu comigo? Quem é você?- perguntou , enquanto uma dor aguda atravessava seu peito.
- Sou o seu protetor. Você morreu hoje, meu filho. Exatamente às 10 da noite, depois de algumas horas na U.T.I de um hospital. Estão preparando seu corpo para o velório. Fique tranquilo!
- O que? Você é louco? Está falando do meu suposto funeral e pede que eu fique tranquilo?- berrou com estranheza.- Está conspirando contra mim e ajudando meu genro, não? Estão querendo me enlouquecer?!! Vocês fingiram me sequestrar, fugiram e agora querem me enlouquecer.- o empresário estava com os olhos arregalados.
- Você desencarnou, Mário! Seu corpo morreu, mas seu espírito é eterno. Foi atraído para o cemitério por conta dos seus inimigos espirituais. Vamos para outro lugar, porque vai precisar de tratamento. Mereceu esse privilégio, porque apesar de todas as falcatruas, foi um bom filho. Sua mãezinha deseja ajudá-lo, Mário! Ela está num plano de luz!- tentou explicar aquela sombra iluminada.
Mário enxugou o suor com as mãos crispadas de medo.
Aquele homem era louco! Não podia ser! Quantos anos de sacrifícios, ligações torpes e arriscadas, para juntar fortuna e agora? Morto?!! Não , era um complô para enlouquecê-lo. Precisava procurar um advogado imediatamente.
O empresário afastou-se do seu mentor espiritual, enquanto uma sombra escura apareceu na sua frente. Era um dos espíritos encapuzados do cemitério que estava devidamente disfarçado. Vestia terno e gravata. Olhou para o executivo com ar circunspecto e quase ordenou:
- Vamos , doutor! Venha comigo! Minha equipe de profissionais vai ajudá-lo a colocar todos esses salafrários na cadeia e livrá-lo do hospício.
- O que? Estão querendo me internar num hospício? Mas esse homem de branco afirma que eu morri...- falou, com ar confuso.
- O senhor é muito ingênuo!- afirmou o obsessor meneando a cabeça. - Venha logo com a gente! Se não vier , vão lhe surrupiar a fortuna e interná-lo num hospício.
Mário pensou nos seus dólares, na fortuna e seguiu os obsessores. Traçara o próprio destino baseado no apêgo e no egoísmo. Mesmo os apelos maternos não foram ouvidos. Cada um vive a realidade que merece!
O seu mentor espiritual meneou a cabeça com tristeza e desapareceu!
Quando a morte chega "ninguém leva o que tem , mas o que é !"
Mário traçou seu próprio destino.
(http://www.relaxmental.com.br/main/materia_one.php?controle=49035&categ=Ca)