TODO AMOR AINDA EXISTENTE

As árvores curvaram-se ao peso do vento, que, efusivamente

insistia em soprar sorrateiro. Os bosques, ainda floridos, exibiam belas

flores e o verão dourava a pele.

Haviam caminhos únicos a serem percorridos, caminhos que

nos levavam ao toque sutil do bálsamo extremo. Haviam campos

ilimitados, bosques de uma beleza sem igual, sonhos pulsantes no

coração, um mundo repleto de todo amor ainda existente.

Na bela tarde de minha vida, havia densas violetas e meu

peito clamava o toque dos teus lábios nos meus. Meus olhos buscavam

o teu rosto, o teu corpo, o teu amor. Meus pensamentos viajavam ao

sabor do vento derradeiro, minha vida retratava o magnânimo momento

do encontro, de todo amor ainda pulsante.

Lembrava, ainda, no horizonte a vislumbrar o afago e o beijo

roubado, as juras de amor eterno. O sol daquela rubra tarde de fevereiro

e os dias que deixavam-me uma extrema saudade. Lembrava do teu jeito

de mulher, dos teus cabelos longos e perfumados, do teu sorriso

cativante, dos afagos de suas mãos, em meu rosto um pouco triste.

Estava eu sentado no banco da praça, as horas doidas

passavam tão rápidas, tão insustentáveis, são difusas, tão meigamente e

plasmante. Na rua, meninos corriam leves como pássaros e no toque do

sino da catedral, em meu coração renovava-se a esperança.

O vento tocava meu rosto e meu corpo, já com uma flagrante

sutileza. Homens e mulheres apressados caminhavam largamente em

direções contrárias. E eu na quietude do meu pensamento, clamava pela

tua presença.

As ruas, estampavam a magnitude de todo verão que varria a

cidade bucólica. Meu coração palpitava, te buscando nos arredores

pássaros cantavam um belo soneto, um suave gorjeio que ao balançar do

vento, trazia-me uma nova e fervorosa esperança. O horizonte pleno e

azul, compilava os ternos momentos de nossas vidas, na ausência ainda

cruel.

Ao longe as passarelas, os carros, o frenesi intenso e

envolvente. A tarde esvaia-se por entre meus dedos como um sonho

findando-se e desintegrando-se ao solo. E eu não via o teu rosto entre a

intensa multidão, nem mesmo o teu sorriso inigualável e sincero, nem

mesmo o teu perfume embriagador, nem teus lindos olhos e seus cabelos

longos e lisos.

A espera já se tornava angustiante e insegura, a tarde morria aos

poucos, a esperança do encontro esgotava-se a cada minuto, a desolação

já fazia-se presente em meu semblante, os pássaros calavam seus

cânticos magistrais, o vento tornava-se suave, e o horizonte azul

começava a adormecer. Vesti minha jaqueta e me pus a levantar do

banco da praça, já tão sem graça e quase isolada. Meu peito apertado e

meus olhos contendo o pranto prestes a rolar em meu rosto um tanto

pálido, um tanto descolorido.

A noite anunciava-se. A brisa leve fazia-me lembrar. A estrada

já quase abandonada levava-me sem demora. Meu peito apertado,

matando-me ao longo do caminho. Sentia-me frustrado, abandonado,

desprezado e quase sem vida, sem forças, sem esperança.

O sono veio, a lembrança furta roubou-me a quietude, o silêncio

da noite rompeu a última e única saudade, meu pranto rolou sobre a

epiderme, abracei-me a todo amor existente. E depois, só o vento,

só a noite, só o silêncio, se apossou de mim...

Castro Antares
Enviado por Castro Antares em 09/10/2011
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T3266092
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