AMOR DE MUITAS VIDAS

Um dia sua espera vai acabar. E seja lá o que for,virá ao seu encontro. Então seus olhos voltarão à vida,sorrirão.

…................

Desculpe filho, o que disse?

Esse seu silencio doloroso,sua tristeza ,são tão fortes, chega a ser palpável , quase consigo tocá-los. Tenho a impressão que ficas a contemplar o mar, à espera de algo ou alguém....e que a qualquer momento levantas dessa cadeira, e caminhas sobre as águas para resgatar sua vida.

És muito jovem filho, para filosofar ou entender sentimentos tão bem guardados.

Pode ser, papai....pode ser..

Olho para ele e o vejo ainda tão menino, mas seus olhos me passam maturidade e perspicácia. Quanta verdade há em suas palavras...Quatro anos , já se passaram...quatro longos anos, em que decidi enterrar meus sentimentos mais caros e mais verdadeiros, em meu peito. Esse amor que me consome. Bloquear meus lábios e deletar minhas lembranças, por mais puras que são. Mas o que!!

A uma simples menção a pessoa, esse velho e traiçoeiro coração dispara e tudo volta a doer

, a machucar me sem piedade.

Deus dê me forças. Não posso.! Não devo.! Recolho-me em orações , para acalmar me e pedir ajuda aos céus.

Tudo começou há uns dez anos atrás, quando cheguei a essa cidade. Com muito vigor dos meus 28 anos, cheio de ideias , encantei-me com a cidade, com as pessoas acolhedoras e a escolhi para fincar raízes e montar meus negócios. Foi muito duro no começo, mas trabalhava dia e noite, quase sem descanso e aos poucos , resultados positivos foram aparecendo e já podia me dar ao luxo de algumas noites sair a desfrutar das belezas do local.

Foi então que a conheci. Débora, uma mulher bonita, culta e inteligente, mais velha; o que não parecia e não importava muito. Tornamos grandes amigos e além disso, recebi grande ajuda nos negócios, Débora já pertencia a sociedade local, e com seu conhecimento alavancou minhas finanças. Após uma ano, resolvemos nos casar.

E assim foi feito.

Além de uma ótima esposa, com o casamento, recebi também seus dois filhos. Débora era viúva...

Renê, garoto inteligente , observador, no auge de seus 10 anos, recebeu-me a principio com desconfiança, mas por pouquíssimo tempo, pois, logo nos conquistamos. Renê, sentia muito a falta de uma presença masculina . Ele não chegou a conhecer seu pai.

Mylla, uma linda garota de 15 anos. Responsável, aluna exemplar, filha carinhosa, dona de uma beleza angelical. Alta, elegante como a mãe, lindos olhos azuis contrastando com seus cabelos negros como as asas da graúna. Delicada e meiga, gentil para com todos. Senti uma alegria especial em conhecê-la.....enfim filhos maravilhosos.

A convivência foi a melhor possível; formávamos uma bela família.

Após três anos, considerava me um homem vitorioso. Tudo em minha vida corria maravilhosamente bem....Os negócios prosperaram muito , o que me tornava muito conhecido e procurado pelos que estavam iniciando. Financeiramente não podia estar melhor.

No casamento também tudo no lugar. Débora e eu não éramos nenhum exemplo de casal apaixonados. Arriscaria dizer que nossa relação era ” morna.”....nos respeitávamos, nos amparávamos,resolvíamos todos os problemas da família e pessoais com educadas conversas em reuniões familiares.

Débora sempre envolvida com questões sociais, vivia em reuniões com as socialites da cidade. Eu em constantes viagens a negócios. Mas sempre havia nossos momentos para desfrutarmos com os filhos e estarmos sempre ao par de suas vidas, de suas questões pessoais.

Todos em férias, que maravilha...Todos em parte, porque Débora conseguiu, mesmo nos momentos de descanso familiar, providenciar reuniões ….que nós, eu e as crianças chamavam de “reunião das

assistentes assistidas financeiramente”. Mas independente disso, nos divertimos muito.

Pusemos todas as conversas de pais e filhos em dia , questões sobre namorados, amigos tudo foi conversado e em certo momento notei a Débora esquisita, olhos vermelhos e rindo muito,algo que descontrolada, nada normal nela .Mas ela me garantiu que tudo estava bem.

Resolvemos então , passearmos pelos arredores, que haviam campos lindíssimos, muitas flores. Débora então tirou as chaves da minha mão e disse que gostaria de dirigir. Tentei argumentar, mas

ela já estava correndo em direção ao carro. Todos acomodados lá fomos nós pela estrada afora, observando as belezas naturais da região. Débora brincava com o carro dirigindo em zigue zague.

As crianças riam de suas brincadeiras, e eu pedia mais atenção, que parasse com aquilo.

Em dado momento, surge um caminhão, de frente, e Débora rindo e acredito apavorada joga o carro para o acostamento, chocando violentamente contra o barranco e atingindo meu lado em cheio.

Acordei no hospital, assustado e perguntando pelas crianças e por Débora. Todos estavam lá. Todos bem, Graças a Deus. No acidente somente eu saí machucado. Perna e braço esquerdos quebrados,com duas costelas avariadas e alguns arranhões na testa e no peito.- Menos mal ….pensei.

Débora com olhos vermelhos e muito assustada, segurava minha mão pedindo desculpas, sem parar.

Era uma Débora patética; sem a altivez e a segurança costumeira. Pensei em gritar com ela, acusá-la,mas de nada adiantaria e também haviam as crianças ao meu lado. Fechei os olhos e adormeci.

A meu pedido recebi alta mais cedo e fui para casa com a condição de ter alguém que tomasse conta de mim...exigência médica.

Débora foi essa pessoa por uns dias. Mas sem jeito para lidar com doente e necessitando voltar as suas reuniões; Mylla se ofereceu e Débora respirou aliviada. Minha esposa não ficava a vontade ao lado de pessoas doentes, mesmo essa pessoa sendo seu marido .

Eu não poderia estar em melhores mãos. Mylla agia com delicadeza e presteza, sempre disposta e risonha. Quando entrava em meu quarto (estava no quarto de hospedes, para não incomodar Débora),sorria deliciosamente linda , sentia que aquecia meu coração. Cuidava de mim com tamanha naturalidade, que parecia sempre ter agido assim.

Eu não sei como tudo aconteceu. De repente, estava eu olhando para minha filha e admirando-a como pela primeira vez, mas não como filha e sim como uma mulher.

Por mais que tentava me lembrar que aquela menina desabrochando para a vida, menina-mulher; era minha filha, não conseguia. Tínhamos uma afinidade impressionante; mesmos gostos literários,mesma maneira de ver a vida, simplicidade, mesma crença religiosa.

Passei a depender dos momentos deliciosos que passávamos juntos. Acordava mais cedo, para estar bem quando ela entrasse no quarto trazendo os raios de sol e beleza, perfume de uma manhã linda, mesmo que lá fora chovesse torrencialmente.

Deus! Somente Ele, presenciava minha luta de sentimentos desconexos, contraditórios em minha alma. E numa manhã descobri que Mylla também me olhava diferente. Algumas vezes a flagrei com olhares amorosos e um frio percorreu minha espinha. Fiquei aterrorizado com o meu pensamento.

Pedia a Débora para ficar comigo, as noites, para afastar aqueles pensamentos horrorosos , mas ela se negava, delicadamente, esquivava se alegando que poderia me machucar.

Então os sonhos começaram...sonhava com Mylla, num passado distante, lugares estranhos, roupas antigas . Nós dois vivíamos em épocas distantes algo muito forte. Acordava no meio da noite suando e as vezes chorando.

Uma cochilada que eu desse, lembranças passadas vinham aos borbotões. Comecei a temer as noites e evitava descansar. Mas durante o dia, tudo era maravilhoso com a presença de Mylla.

Um dia comentei que havia sonhado com ela num campo florido, que corríamos de mãos dadas e que tropecei indo ao chão e levando a comigo,(claro que não mencionei que caídos, eu a beijei delicadamente). Ela corou , abaixou os olhos e me respondeu – Eu sei, estava lá.

Como assim? perguntei assustado.... Mas Débora entrou com um amigo, que veio me visitar e aproveitando esse momento, Mylla saiu do quarto, deixando me sem chão.

Cheguei a conversar com Débora o que estava me acontecendo (deixando obvio, de mencionar alguns fatos). Ela achou muito interessante e disse ter certeza que eu estava relembrando minhas vidas passadas e que Mylla de alguma forma fez parte dessas vidas. Inclusive, me deu alguns livros a respeito .

Os sonhos agora eram uma constante. Se dormisse profundamente ou se só cochilasse, não importava...Era Mylla em meus braços, de mãos dadas, jogando beijos de uma janela, ou simplesmente olhando me com carinho e devoção ou chorando desesperadamente. Acordava sempre apavorado e suado.

Um dia aproveitando que estávamos sós, relatei a Mylla o que estava me acontecendo....Para minha surpresa ela entendeu, e me disse passar pelos mesmos momentos.

_ E você não esta assustada? Está entendendo o que se passa?- perguntei.

_ Não. Não estou assustada, apenas triste. Estou entendendo, porque há muito venho lendo livros sobre esses assuntos. Estou convicta que em vidas anteriores estivemos juntos, nos amamos, mas que por não merecermos, fomos separados e voltamos agora talvez para repararmos nossos erros.

_ Estou chocado, boquiaberto mesmo. Li os livros que sua mãe me deu, entendo o que você diz, mas não esperava que você entendesse. Mas a vejo tranquila, não parece perturbada como eu.

_ É porque aceitei como verdade e porque descobri que meus sentimentos por você não é amor filial, mas sim amor de mulher para com seu homem.

Se eu não estivesse deitado, teria caído, me esborrachado .

_ E você me disse estar apenas triste?- perguntei.

_ Sim, afinal você é marido de minha mãe. Não podemos esquecer disso.

Então , agora sim cai em minha dolorosa realidade.

Voltando a vida normal, curado do corpo, mas doente d'alma. Achei que me jogando de cabeça ao trabalho, tudo voltaria como antes....mas ledo engano.

Mylla continuou sua vida, só que agora um pouco distante de mim. Seus olhares não mudaram, continuaram amorosos e brilhantes, apenas um pouco triste.

Minha vida com Débora, se antes era “morna” , agora estava mais para “fria”. Ela continuou sua vida normalmente,suas amigas, reuniões e agora eu via certa futilidade no que ela fazia.

Nunca cheguei a comentar com minha mulher, que soube que no dia do acidente, ela estava “esquisita” porque junto as amigas havia feito uso de drogas. Talvez ela desconfie que eu saiba,e acho que isso também esteja nos afastando.

Uma noite, após um sonho com Mylla, meu amor do passado, ao acordar descobri entre horrorizado e feliz que eu a amava . Notei então que os suores, tremores e todos os sintomas ruins pós sonhos sumiram.

Chocado e feliz, dolorido e pisando em ovos como todo apaixonado, entendi que minha menina tão lindo era meu grande amor. Agora é que começaria meu calvário.

Num dia desses, Débora me ligou preocupada que haviam ligado da escola avisando que Mylla, não estava bem e que chamava por ela. Pediu me que fosse até nossa filha, pois, estava no meio de uma reunião e não poderia sair. Pela primeira vez, eu me alterei com minha esposa.

_ Sua filha, Débora, é mais importante que suas reuniões levianas. Você deveria ter vergonha de me pedir isso. Mas eu irei, fique sossegada, se é que consegue. Batendo o telefone sai correndo para a escola.

Realmente a minha menina havia passado mal, mas atendida na enfermaria da escola, sentia se melhor. Amparei Mylla em meus braços e lutei terrivelmente contra a vontade de beijá-la , de abraçá-la,e dizer dos meus reais sentimentos. Ao contrário, só pude ajudá-la a sentar se no banco do carro.

Durante o caminho de casa, perguntei o que havia acontecido. Ela disse que foi só um mal estar passageiro, nada demais. Não havia se alimentado direito. No fim descobri que sua mãe cancelou um almoço que teria com ela, depois de tê-la feito esperar muito e não havia mais como almoçar, pois chegaria atrasada para as aulas.. E como também não havia tomado o café da manhã....sentiu-se mal.

Aproveitei esse momento, peguei em sua mão , apertando com carinho. Ela me olhava e mesmo olhando para frente senti seu olhar amoroso e suspirei.

_ Você tinha razão, eu só precisava aceitar. - disse a ela.

_ E como se sente, e o que sente?- ela respondeu.

_ As reações aos sonhos sumiram, isso foi bom. O que sinto agora é um sentimento lindo e doloroso ao mesmo tempo. Achei meu grande amor, mas devo ignorá-lo. Talvez seja esse o meu castigo, de vidas passadas.

Ela apertou minha mão, depois levou-a aos lábios e disse: – Acredito que seja o nosso castigo.

Voltamos para casa em silencio, somente as mãos não se separaram até chegarmos em casa.

Somente nos olhamos e foi tão intenso e tão doloroso, um misto de uma noite de amor com um momento de morte.

Entramos em casa e me sentia gelado, sem sangue nas veias. Como se estivesse morrendo ou quem sabe já morto.

No aeroporto, todos demonstrando alegria acompanhavam os preparativos para o embarque de Mylla. Débora entre lágrimas , despedia se da filha fazendo inúmeras recomendações, Renê dividido entre despedidas e lembranças a irmã sobre seus pedidos de presentes. As amigas fazendo festa, brincadeiras.... Mylla partia para a Inglaterra para estudar.

Eu a tudo acompanhava como que anestesiado pela dor, pela tristeza , de vê-la partir. Eu, ali sem poder manifestar meu pesar , ainda deveria sorrir e demonstrar algo que nem de longe sentia...Alegria.

Percebendo o quanto sofríamos, Mylla decidiu sair de casa, ir para longe, com a desculpa de estudar. Já que nos estudos saia-se tão bem, pleiteou uma bolsa de estudos na melhor escola da Inglaterra e foi aceita com louvor. Para meu desespero, ela nos comunicou a decisão, a resposta da escola, a data da partida quando tudo já estava consumado.

Foi durante um jantar em comemoração ao aniversário de Débora. Ao término do jantar, ela pediu nossa atenção e nos pôs a par do que havia preparado. Ao ouvi-la , senti uma dor profunda estourar em meu peito, a boca secou e parecia que o chão aos meus pés se abria. A taça que segurava com a intenção de virar o último gole despencou de minha mão. Débora, apesar de surpresa, aplaudiu a decisão. Meus olhos , desesperados procuraram os de Mylla, que me olhavam entre lágrimas, com uma dor igual ou maior que a minha. Pareciam pedir perdão e.....dizer adeus.

A partir desse dia, foi tudo tão corrido, que não tivemos um momento sequer juntos. Entregues aos preparativos, Débora não percebia o que se passava comigo, ainda bem. Não notou que me entreguei ao silêncio; que chegava em casa me trancava na biblioteca e de lá saia de madrugada, após ingerir quase uma garrafa de uma bebida qualquer . Não notou que algumas noites não estava ao seu lado, mas fora, no jardim , sentado ao pé de uma arvore frondosa de onde poderia olhar a janela de Mylla.

Ela partiria no dia seguinte cedo e eu ali sentado aos pés daquela arvore, rezava, pedia para que mudasse de ideia. Deixei que as lágrimas escorressem livres, pois sabia que ela estava certa.

Fui arrancado dos meus pensamentos, pelo alvoroço de todos em se despedir. Pois, já haviam feito a chamada. Mylla despediu se de todos e veio ao meu encontro, abraçou- me com ternura , beijou-me e delicadamente, em meu ouvido disse: - Força!! Lembre-se, nosso amor é maior que a vida.

Apertei -a em meus braços, e o calor que senti vindo do seu corpo, jamais saiu de mim, jamais deixei de sentir, jamais esqueci. Ela foi sem olhar para traz.

Passei por momentos terríveis. Ora pensava em viajar atras dela, ora em telefonar, escrever.

Houve momentos em que quase disse tudo a Débora, para acabar com minha agonia. Enquanto estava a trabalhar ainda sentia-me melhor. O dia passava mais rápido, mas eu temia mesmo eram as noites. Por noites a fio, eu passava a caminhar pela casa como alma penada. Seu quarto passou a ser o meu ,nas noites vazias, eu deitava em sua cama procurando seu cheiro ou algo que a tornasse mais perto de mim. Nesses momentos , sentia novamente o calor do seu corpo, no seu último abraço; seu perfume feria minhas narinas...Então, aos poucos eu adormecia assim , com seu corpo em meus braços ,pensando sentir seu perfume, que às lágrimas se misturavam.

Levantava bem cedo , arrumava sua cama, para que ninguém percebesse que lá estive. E sorrateiramente voltava ao meu quarto.

Um ano se passara e somente eu sofria pela distância de Mylla. Chegavam cartões postais , mas as mensagens eram em geral, perguntava se todos estavam bem, mandava beijos a todos e dizia estar estudando muito e pouco tempo tinha para desfrutar as belezas da cidade.

Débora, durante este tempo, passou a se dedicar cada vez mais as suas amigas, reuniões; agora para jogar, beber, falar de futilidades. Eu e Renê passávamos mais tempo juntos , sem a Débora. Ela ficava irritada com as observações e criticas do filho, quanto ao seus afazeres sociais.

Um dia , fui chamado as pressas, pois, Débora havia desmaiado a beira da piscina do clube. Ela disse estar tudo bem ,foi só um simples desmaio.

Acontece que não foi só um único mal estar, passou a repetir por diversas vezes. Com muita insistência, consegui levá-la ao médico . Dr. Caio, nosso médico de família, pediu muitos exames e foi necessário interná-la para realizá-los.

Dr. Caio , com os exames nas mãos, pediu para falar comigo em seu consultório. Apreensivo fui ter com ele. A noticia que me deu foi como uma bomba explodindo aos meus ouvidos....Débora estava muito doente,portadora de um câncer ,de tipo agressivo, já tomando sua medula.

Depois de muito considerar, achamos melhor que Débora deveria ser avisada. E assim foi feito.

A reação , como era esperada, foi das piores. Ela gritava comigo, com os médicos, jogava longe os aparelhos, nos acusava de querer seu fim. Foi um horror.

Por dias ela parecia uma fera enjaulada e por mais que ficássemos ao seu lado, ela nos brindava com ofensas e palavrões que jamais pensei ouvir de minha esposa.

Uma manhã, ela acordou e viu Renê, deitado ao seu lado chorando como uma criança e eu sentado ao lado da cama, rezando. Ela nos olhou e disse:- O que está havendo? Porque estão chorando e rezando? Ainda não morri ...aliás vai demorar pra vocês ficarem livres de mim. Por favor, preciso me alimentar, estou com muita fome.

Renê saiu correndo,todo feliz, pedir a funcionária que providenciasse o nosso café da manhã bem reforçado. Enquanto que eu, de mãos dadas com Débora demonstrava o quanto aprovava aquela sua reação.

_ Débora, estaremos aqui e lutaremos juntos pela sua recuperação. Conte com a gente.

Ela sorriu e nos abraçamos carinhosamente, após tanto tempo sem demonstrarmos algum afeto.

Apesar de tudo, me senti mais vivo e sabia que devia me preparar ...Débora iria necessitar muito do meu carinho, paciência e força.

Senti o calor de Mylla , percorrer meu corpo , e aspirei seu perfume e clamei aos céus por seu amor. Clamei a Deus por forças , para enfrentar e suportar o que estava por vir.

E o que veio foi bem pior do que pudesse supor. Renê e eu éramos solicitados constantemente. Débora passava por mudanças de comportamento a todo momento. Ela , num dos momentos de serenidade , nos chamou e pediu; ou melhor, exigiu que não contássemos a verdade , sobre sua saúde à filha distante._ Ao menos ela eu quero poupar. Quando falarem com Mylla ou escreverem digam somente que é uma mal passageiro. Que necessito apenas de muito repouso.

E assim foi feito. Renê colocou a irmã informada sobre a mãe, de acordo com seu pedido.

A medida que o tempo passava, Débora piorava a olhos vistos. Sob efeito de remédios passava alguns dias sonolentos, mas geralmente as noites, eram de choro, dores, gritos. Ela nunca suportou bem qualquer tipo de dor, por menor que fosse.

Eu procurava acalmá-la, segurando-a em meus braços, beijando, acariciando; fazendo massagens onde mais a incomodasse. Nesses momentos ela parecia relaxar e até adormecer agarrada a mim.

Em outros momentos, gritava ofensas , culpava me por sua doença, amaldiçoava nosso casamento, os filhos, a vida enfim, nada ficava impune. Não aceitava que nos afastássemos dela.

Renê faltou as aulas por duas semanas e nem mesmo ao encontro dos amigos ele foi. Ela exigia a presença dele e o menino já demostrava exaustão. Falei com ele e pedi que voltasse as aulas e ao convívio dos amigos, deixando somente alguns momentos do dia para ficar ao lado da mãe.

_ Ela não vai aceitar, pai...alem do mais vai sobrecarregar você .- respondeu.

_ Deixe que eu me entenda com ela. Sua mãe é minha responsabilidade. Volte a sua vida normal. Só peço que venha todos os dias tomar sua benção e demonstrar seu carinho como sempre o fez.

_ Obrigada papai. E que Deus o proteja.

Renê não ousou falar, mas ficou aliviado com minha decisão. Amava muito a mãe e sofria por ela, mas estava se tornando pesado demais para ele. Estava muito difícil respirar naquela casa. Era uma sensação de opressão ,de sufocamento.

Como esperado, Débora não gostou da minha decisão e jogou em minha cara ofensas dolorosas, que eu estava afastando seus filhos, que eu não era o homem que ela queria pra si, falava como se houvesse mais gente no quarto. Contava a esses “amigos” como ela mesma dizia; o quanto eu a fiz sofrer, que eu a fiz experimentar drogas e por isso bateu o carro , para realmente machucar-me.

Eu comecei a rezar e a pedir ajuda espiritual , com muita fé...De repente, uma golfada de ar puro se fez sentir e o quarto se encheu de um aroma floral...Em segundos estávamos chorando copiosamente eu e Débora...Logo após, ela adormeceu como uma criança.

Passamos uma semana mais tranquila. Pude até passar algumas horas na empresa, assinando papéis,

colocando tudo em ordem, delegando poderes, distribuindo serviços; pois eu sabia que a bonança poderia não durar muito.

Dr. Caio, após mais exames, nos tirou qualquer esperança e ainda nos avisou que o câncer espalhara com muita agressividade, e os remédios já perdiam o efeito sobre ele.

Débora fisicamente definhava, sumia sob nossos olhos. Mas tinha muita força para gritar, chorar e dizer ofensas cabulosas.

Nesses momentos eu a abraçava e rezava chamando a Deus e pedindo clemência à Débora.

Quando eu me sentia esmorecer; pensava em Mylla, em seu perfume , e seu calor me abraçava o corpo por inteiro. Quando por ventura, adormecesse, sonhava com os momentos passados como o do carro com nossas mãos entrelaçadas, ou com o abraço no aeroporto. Esses momentos eram por demais preciosos e eu os guardava como um tesouro só meu.

Pior quando me punha a pensar: Como ela estará? Será que pensa em mim?Será que já pertence a alguém?....Esses pensamentos me enlouqueciam de ciúmes, saudades, impotência então me punha a beber, chorar e pedir o meu fim. Depois, lembrava -me de Débora...se eu faltar, quem cuidará dela?

E se meu amor voltasse, o que eu poderia oferecer? Devo ser hoje uma sombra do que ela conheceu.

Apesar do sofrimento, mantinha-me sempre arrumado, mas emagreci, e envelheci também. Ainda noto os olhares que provoco nas poucas saídas que fiz. No alto dos meus1,90m de altura, aos 36 anos, meus cabelos já levemente grisalhos, ainda mantinha o físico atlético, mais magro porem, a barba crescida e as olheiras acentuadas , deixando me com aparência triste, cansada e mais velho. Mylla, no entanto está no frescor dos 20 anos, linda....Meus Deus, meu estomago parece revirar.!

O tempo passava lentamente, como de proposito , a castigar todos nós. Renê acostumara com a dor,então vivia mais fora do que em casa. Burlava aqueles momentos que prometera ficar com a mãe, mesmo não sendo mais reconhecido por ela. Somente eu, permanecera em sua mente. Meu nome, era uma das poucas palavras que ela ainda sabia pronunciar....Já não mais gritava, não mais se enfurecia, somente pedia, implorava minha presença constante.

Eu permanecia de mãos dadas com ela; as vezes, deitado ao seu lado , a abraçava carinhosamente e a sentia relaxar....Acabava por adormecer.

Para me afastar , deixava alguns travesseiros formando meu corpo, enganava por alguns momentos.

Mais doía eram seus gemidos constantes, quase parecendo o miado de um gato novinho.

Quando voltava alguma lucidez, ela somente pedia que eu não me afastasse dela, que não a deixasse sozinha.

Tudo fora feito...Tudo. Dr. Caio junto com colegas especialistas, vasculhavam remédios, outros médicos, tratamentos, enfim que pudesse ajudá-la. Tudo humanamente, financeiramente...Tudo foi feito para a melhora, por menor que fosse, da nossa Débora.

Escalei Renê para informar a irmã, que deveria voltar para casa, pois, temia que Débora estivesse partindo. Parecia me uma vela apagando lentamente.

Numa manhã ensolarada, Mylla chega sem que fossemos informados. E como que combinadas, Débora acorda lúcida , sentindo se “muito bem “ e recebe a filha de braços abertos , sorriso largo. Deixando Renê e a mim boquiabertos. Eu em especial, além do choque que foi ver Mylla a minha frente depois desses anos, sem esperar, sem ao menos saber como lidar com sua volta.

Foi um misto de alegria, tristeza, medo....Meu corpo reagiu violentamente e precisei correr para o banheiro. Mas não sem perceber a beleza de Mylla. Não mais minha garotinha, não mais a menina-mulher, amor da minha vida...Agora uma beleza adulta, madura.

Graças a Deus, Mylla e Débora passaram o dia juntas no quarto. Almoçaram (raridade quanto a Débora).

Apesar de tudo, eu aproveitei e fugi dali, como o diabo foge da cruz. Tinha a impressão que todos ouviam o tambor em que se transformou meu coração. Meu estomago a virar, minha testa recoberta de gotículas de suor, minhas mãos tremiam, minhas pernas não relutavam em atender as ordens.

Peguei meu carro e saí como louco, não sem antes olhar para traz, e a vi olhando pela janela. Podia ver seu semblante triste. Vi também o tamanho da minha covardia.

Quando retornei, todos dormiam...A casa inteira apagada e adormecida. Somente eu, como alma penada circulava entre as salas. Eu , minha dor e minha covardia. Fui ao escritório e lá me deixei cair na poltrona, antes me servi de uma bebida. Mais, pois já havia bebido muito fora. Minha mente continuava alerta , e minha intenção era dopá-la, adormecê-la, enfim anular tudo.

De repente senti um perfume, aquele tão querido, tão amado....Gelei....Fervi....Um tremor percorreu meu corpo e só então nesse momento me dei conta de um vulto, na poltrona, no outro lado da sala. Parecia que nos encarávamos através daquele breu. Pude sentir uma tristeza imensa nos olhos que me espreitavam.

Quase sem voz, arrisquei....Mylla? A resposta veio através de um suspiro....Logo depois,aquela voz amada.._ Estás sofrendo assim por mamãe? Precisamos ser fortes....Ela está partindo!.

_ Também . Sofro pela inevitável perda de sua mãe!. Ela me é muito cara. Faria qualquer coisa, para vê-la curada, livre para continuar a viver. -Respondi.

_ Abriria mão de sua vida?- Perguntou-me.

_ Isso eu já fiz. Abri mão de viver meu grande amor, que representa minha vida. Agora só vivo ou me arrasto pela vida para ajudá-la nessa passagem dolorosa.

Lentamente Mylla se aproximou , acariciou me os cabelos, beijou-me a testa e num sussurro disse:

_ Seja forte. Sua dignidade e compreensão, caridade e dedicação não foge aos Olhos de Deus.- Ela disse.

Tomei suas mãos entre as minhas e as beijei delicadamente e novamente aspirei aquele perfume inesquecível ; totalmente atordoado e em fogo. Somente consegui pronunciar seu nome, carregado

de muito amor. - Mylla......

Nesse momento ouvimos um grito, um chamado desesperado e saímos correndo em direção ao quarto de Débora. Renê que estava ao lado da mãe, para que Mylla descansasse um pouco , nos chamava chorando. Ao nos aproximarmos, Débora esticou suas mãos , a filha de um lado da cama e eu do outro, mãos dadas com nossa doente, ouvíamos estarrecidos suas despedidas . Chegara o momento que tanto queríamos evitar. Débora com os olhos esbugalhados , pedia perdão a todos nós.

Insistia em pedir a mim , por mais que eu dissesse não ter do que perdoá-la, por mais carinho que eu fizesse, Débora entre soluços revelou que traiu muitas vezes nosso amor, minha confiança, nosso lar

e que estava muito arrependida. Apesar do susto, não deixei que suas palavras manchasse sua vida,enfim relevei e nem por um momento a condenei. Agradeci a ela todos os anos de convivência e companheirismo.... Acariciava seus cabelos e beijava seu rosto ,quando olhou me firme e deixou cair para o lado sua cabeça. Expirou.

Voltando da Igreja, onde acabamos de celebrar a missa de sétimo dia da morte de Débora, fechei me no escritório, pois, não aguentava mais atender as pessoas, receber condolências. Ficamos tão envolvidos nos preparativos da cerimonia...Amigos iam e vinham, crises de choro do Renê que sentia-se culpado agora por não ter assistido mais a mãe; Mylla atendendo a todos com delicadeza e paciência evitando assim que eu me exasperasse diante de tudo.

Chorei, não nego. Chorei muito. Um misto de perda, tristeza e culpa. Culpa sim... Talvez pudesse ter feito mais por Débora.

Mylla após a missa ainda permaneceu na casa mais uma semana, arrumando os pertences da mãe, respeitando os desejos dela que deixou algumas coisas à pessoas especificas; outras tantas que ficaram pra ela como roupas , joias que fiz questão , fossem todas de Mylla. Para Renê o que ele desejasse. Enfim, doloroso mas necessário. A mim coube resolver tramites legais . Renê passou a ser meu companheiro , pois , preocupava-se com meu estado de espirito. Cada um recolhia se a sua tristeza, fechados como uma concha, somente Renê parecia mais aliviado depois que o fiz ver que havia feito todo possível para o bem da mãe.

A semana passou rápido e chegou o momento de Mylla voltar à Inglaterra para terminar seus estudos. Mais uma vez a dor da perda, a distância e a constatação de que em momento algum nos tocamos, ou falamos sobre o que nos consumia, ou a mim pelo menos: o amor que eu tinha por essa menina -mulher tão corajosa, tão firme. No aeroporto somente nós três para as despedidas. Que diferença da outra vez. Mas agora pude olhá-la bem nos olhos, apertar suas mãos e num abraço bem caloroso, num beijo ardente, apesar de ser na testa, pedi que não se esquecesse de mim e que ficaria a sua espera, não importasse quanto.

_ Preciso de tempo; para superar a dor, terminar os estudos e entender quando chegar a hora , de que é possível sermos felizes. Jamais vou esquecê-lo. Só preciso saber se mereço e se tenho coragem de viver o que em outras vidas não vivi, ou por não merecer ou ter coragem.-Respondeu Mylla .

Ficamos ainda nos olhando , de mãos dadas, até a última chamada. Distanciou-se de nos em direção ao embarque, virou se para trás e colocou sua mão na altura do coração, depois a cabeça e por fim jogou um beijo, sorrindo o mais lindo dos sorrisos, virou se e partiu.

Segurei seu beijo e o levei aos lábios. Dessa vez, eu tinha o calor do corpo, seu perfume e seu beijo, além de uma promessa, mínima mas uma promessa de volta.

Voltar para casa foi um martírio, com certo alivio , pela presença de Renê. Nos ampararíamos a partir de agora, eramos só nos dois, e minhas lembranças.

Após todos os papeis resolvidos , vendi a casa e comprei outra um pouco menor, num condomínio fechado , mas no litoral, zona nobre, porem mais retirada. A mudança nos fez muito bem. O fundo da residencia nos dava a visão do mar. Ficávamos no alto , com um despenhadeiro e tínhamos aquela paisagem maravilhosa do mar batendo nas pedras, formando desenhos de espuma .Eu passava horas admirando o mar. Na esperança que ele trouxesse minha vida de volta. Mudo, somente meus olhos e minh'alma falavam e somente o mar para ouvir.

Um dia sua espera vai acabar. E seja lá o que for,virá ao seu encontro. Então seus olhos voltarão à vida,sorrirão.

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Desculpe filho, o que disse?

Esse seu silencio doloroso,sua tristeza ,são tão fortes, chega a ser palpável que quase consigo tocá-los. Tenho a impressão que ficas a contemplar o mar, à espera de algo ou alguém....e que a qualquer momento levantas dessa cadeira, e sais caminhando sobre as águas para resgatar sua vida.

És muito jovem filho, para filosofar ou entender sentimentos tão bem guardados.

Pode ser, papai....pode ser..

Renê se afasta e vindo dos meus pensamentos ,a imagem de Mylla se aproxima e acaricia meus cabelos, sinto seus lábios em minha testa, seu perfume. É assim todos os dias, há quase um ano.

E ainda ouço sua voz, dizendo o que tanto eu queria realmente ouvir: - Eu voltarei.

Dentro de alguns dias, estaremos homenageando Débora, por um ano de sua partida. Sinto falta também, mas menos agora. Além disso, tenho tido sonhos estranhos com ela. Sonhos que me dão conforto e ao acordar sinto me bem. Mas tenho a impressão que me manda mensagens, que eu ou não me lembro ou não entendo , ao acordar.

Ao completar um ano e meio de viuvez, ainda permaneço horas no meu canto preferido. Ao cair da tarde, podem me achar , sentado , olhando o mar . E ontem , estando de frente a ele, aconchegado numa manta, pois, a tarde, nessa época, sentimos a brisa mais fria. Estava eu a inspirar essa brisa, fechei meus olhos e acabei por cochilar....Foi algo singelo e carinhoso. Débora estava ao meu lado,sorrindo e se abaixando a altura dos meus olhos disse- Querido, não se torture. O mesmo eu disse a ela, você está livre para ser feliz. Conquistou esse direito. Eu abençoo .- Dito isso, sorriu e foi se afastando na direção do mar....Caminhando sobre as águas até desaparecer, nas nuvens. Acordei mansamente e sentindo ainda seu perfume e o tom caloroso da conversa.

Essa noite, após todos esses anos, foi o sono mais completo e repousante que tive. Despertei com vigor, confiança, serenidade e paz. Meu café da manhã surpreendeu e fui para a empresa com a sensação de que seria o melhor dia dos últimos tempos.

Com o passar dos dias, na verdade vinte já ; começo a duvidar que realmente tenha ouvido Débora em sonho. Tentei lutar contra a tristeza e o desanimo, mas eles parecem mais fortes que eu. Chego a pensar, que ouvi foi meu coração, que tanto deseja ser feliz. E aos poucos , a solidão novamente me abraça e me acompanha as tardes em meu canto: vigiando o mar. Já cheguei a me levantar , e caminhar em direção a ele. Renê que vinha para trazer me um lanche, percebeu o que estava acontecendo e gritou: - Papai, espere. O que pensa que está fazendo?.

Como se desfeito um encanto, virei para traz e respondi: Nada....Não sei. E retornando a minha cadeira, olhei para ele , como se estivesse transparente, e meus olhos enxergavam as nuvens escuras,se formando no céu. A partir desse dia, passei a ser vigiado.

Já se passara um mês, do dia em que quase andei sobre o mar (seria bom se pudesse) e eu estava de novo no meu canto, sob a manta, pois , agora realmente fazia frio, estávamos no inverno. Sentia me inquieto, ansioso, meu coração parecia febril, minhas mãos tremiam levemente; tanto que comecei a pensar que seria prenuncio do meu fim?....Lembro-me que pedi a Deus, não me levasse até que desse uma última olhada num rostinho tão amado;antes que meu olhos já pesados , fechassem num cochilo reconfortante...tão gostoso ...parecia flutuar....e de repente aquele perfume , se aproximando de minhas narinas...sua presença querida...Mylla tocava em meus cabelos, acariciando – os, com carinho ...Será que estou morrendo...Sonhando com ela...Um beijo em minha testa, e um sussurrar da voz amada: _ Estou aqui, voltei e agora para ficar ao seu lado.

Como pode um sonho , parecer tão real. Realidade...Não estou sonhando. Um pulo involuntário e eu abro meus olhos, pisco varias vezes....Mas é real, ela está aqui , ao meu lado.

_ Mylla, como pode ser....aqui , agora. Meu amor, diga que não estou sonhando.

_ Estou aqui sim, pegue minhas mãos...Estão geladas, mas de emoção, de medo, de saudades. De amor. Acabei de chegar. Queria fazer surpresa.

Abracei , apertei, com medo que ou eu acordasse, ou ela sumisse como uma visão...Então senti seu calor, e não parava de apertar ...Até que percebi que era tudo real, então não mais podendo segurar, deixei que as lágrimas corressem copiosamente....molhando seus cabelos, seu rosto amado e juntando com as suas , éramos pura emoção.

Levantando a em meus braços, rodopiei com ela , rindo, chorando sem a menor preocupação de estarmos sendo observados.

Quando me acalmei, que pude conversar ….sentei me e a coloquei em meu colo, cobrindo a com a manta, e jorrando uma serie de perguntas...

Calma!! Temos muito o que conversar. Decisões a tomar, ouvir uma pessoa envolvida. Mas no momento quero garantir que voltei disposta a viver nosso amor, a lutar por ele.

Só preciso ouvir nesse momento uma coisa e o resto esperarei para falarmos depois, algo que me consome, desde que partiu a primeira vez.

Sim , eu sei... Sou somente sua. Nunca ouve ninguém. Nem mesmo um beijo.

Amor de minha vida, não sei se aguento tanta felicidade.

Ficamos, então, abraçados por um longo tempo...Apertando a em meus braços, fartando me do seu perfume e calor, perdidos no tempo e espaço. Nada mais existia.

Para nossa surpresa, Renê ficou muito feliz ao nos ouvir. Notei que não havia surpresa para ele. E me dando um forte abraço, confessou que já sabia de tudo. Sem que eu desconfiasse, ele e Mylla trocavam longas conversas escritas, telefônicas e estavam sempre informados sobretudo. E eu nem desconfiava.

Como era preciso , conversamos muito os três, e depois nós dois, sobre tudo, mas principalmente

sobre nosso amor. Ela também foi visitada durante o sonho, por Débora. Livres então de qualquer culpa, remorso. Somente sentimentos puros, positivos e amorosos nos guiou para uma nova vida.

Sou hoje um homem realizado. As adversidades, tristezas, desencontros tudo ficou para traz. Amo loucamente e sou amado com a mesma intensidade. Mas nosso amor, nos torna companheiros, cúmplices e tão felizes que as vezes parecemos duas crianças. Nos momentos íntimos de nossa relação, nos queimamos num fogo infernal para em seguida sentirmos a sublime sensação de entrar no paraíso celeste. Nos completamos em todos os sentidos.

_ Yghor, querido, acorda....Yghor, por favor acorda...Acho que chegou a hora, arrebentou a bolsa....

_ O que? Que bolsa, ... bolsa...Meu Deus, calma ,amor....calma.

Após cinco anos , fomos coroados , pela vinda de um lindo bebe...Era só o que estava nos faltando..

Uma menina linda . E depois de Débora, vieram outros...Que tio Renê carinhosamente chama de

“prole de gens espiritualizados”

Kokranne

Ka-lly

23/09/2011

KOKRANNE
Enviado por KOKRANNE em 23/09/2011
Reeditado em 23/09/2011
Código do texto: T3236703
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