NÃO EXISTE AGASALHO QUENTE...

Parece absurdo positivar tal coisa, mas é a pura verdade. Disso se convenceu, certa vez, um menino vazio de pensamento.

Tinha nas mãos um bloco de cera, que se esforçava por aquecer, a fim de moldar figurinhas de bichos e objetos, entretenimento esse com que costumava encher suas horas de isolamento. Mas aquele dia estava gelado, e a cera conservava-se dura entre seus dedos frios. Lembrou-se, então, o jovem, de um cobertor de lã de camelo, que era o mais precioso agasalho em suas noites de inverno.

Colocou o pedaço de cera entre as dobras do cobertor e ficou, durante longo tempo, pacientemente, a espera que o cobertor aquecesse e amolecesse a cera. Por fim, foi ver o resultado e, como era natural, sofreu enorme desapontamento: o cobertor traiu a sua confiança, e a cera permaneceu rija e fria como antes. Pôs o cobertor no colo e segurou entre as mãos o pedaço de cera, com vontade de chorar. Porem, esgotada a paciência, teve sono e adormeceu longamente. Quando acordou, o calor de suas mãos tinha feito o que o cobertor não fizera.

Começou então a trabalhar a cera com alegria. E, em quanto modelava a suas figurinhas, ia raciocinando, o cobertor não dera nem podia dar aquilo que não possuía, isto é, calor próprio. Foi necessário que desse primeiro o calor do seu corpo ao cobertor, para que este agradecidamente, lhe devolvesse, aumentando o seu próprio calor.

Compreendeu, então, que um agasalho é bom, quando retribui generosamente, o calor que alguém lhe empresta. Por que, por si mesmo, não existe agasalho quente.

Essa observação, desde ai, passou a ajustar aos homens, um em relação aos outros. E notou que quase sempre vivemos mal, quando podíamos viver melhor, e, se não vivemos bem é porque vemos em cada semelhante um inimigo, que nos parece merecer ódio, porque não nos dá aquilo que gostaríamos de receber. Mas, no fundo, a culpa é nossa. Não basta amarmos o próximo como a nos mesmos de modo apenas teórico. É preciso antecipar nossa ternura por meio de um ato, de uma palavra, de um gesto, de um sorriso, de um olhar, de uma intenção.

Quem for atingido por esses impulsos do coração há de necessariamente empenha-se em retribuir os mesmos sentimentos. E teremos, então, em cada vizinho um perfeito amigo. Entretanto, o que fazemos é exatamente o contrario: por maldade ou ignorância, teimamos em não dar ao próximo o calor da nossa espontânea simpatia.

Fechamos para ele a nossa alma, cortamos asas de todo nosso sentimento de amor e, por fim, como inspiramos antipatia e não simpatia, acabamos completamente isolados, e responsabilizamos o vizinho pelo nosso abandono.
Podemos resumir tudo isso num conselho:

NÃO QUEIRAS SER UM DIA O BLOCO DE CERA QUE O COBERTOR NÃO PODE AMOLECER.


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Este texto, marcou considerávelmente a minha infância, tanto que, inspirei-me nele, para demonstrar a ternura que existe dentro de mim. E, desde então, incorporei os "beijos ternos" à minha assinatura informal.

Possuidora de uma forte personalidade, conservo a ternura, o amor, a compreensão e o romantismo, como fontes de equilibrio,  para amenizar essa personalidade, oferecendo meu carinho fraterno aos amigos.

 

beijos ternos,

San.