Amor Natural (cap. 2)

Para Isabella, Lucas era uma válvula de escape das cobranças do mundo, muito mais do que um amigo, ele era alguém que aceitava ela do jeito que ela era. Em sua companhia ela se sentia amada por ser como era.

Ela sabia que não poderia viver isto por muito tempo, mas enquanto durasse a companhia daquele homem sensível e amoroso, ela iria viver aquela relação.

Para ela, a tentativa de explicar aquele amor seria totalmente em vão, pois algo não se encaixava.

Ela almejava o sucesso, o glamour de uma carreira como advogada defendendo as empresas e os bens de seus pais. Ela se sentia nascida para a sofisticação de uma vida repleta de buscas e de sucessos.

Por outro lado, para Lucas bastava-lhe viver a vida simples na cidade do interior cuidando da fazenda da família, e nada mais.

Para Isabella, no entanto, em certo momento da sua vida, a razão iniciara uma limitação ao amor por Lucas. Seu amor ia até aonde os limites da razão permitiam, ou seja, na medida em que este amor não colocasse em risco seu futuro repleto de conquistas e de riquezas em todos os sentidos.

Mas mesmo assim, não conseguia se desvencilhar de Lucas, o amor que este lhe concedia e a dedicação demonstrada faziam com que ela se situasse no meio termo, o que por vezes lhe trazia sérias crises de insegurança.

Por que fazer isto consigo mesma. Porque evitar tanto as maravilhas do amor por aquele que se ama? Era o que Isabella se perguntava muitas vezes.

Mas a resposta que dava a si mesma era que o amor vai e vem e tudo não passa de momentos e sensações. Convencia-se de que logo, logo, surgiria um grande amor em sua vida, que lhe arrebataria e que deveria estar livre e desimpedida para que este “príncipe” a encontrasse.

Além disso, pensava que Lucas era somente um amor de infância, e que não poderia se privar dos amores que o futuro lhe reservava, sob pena de estar fazendo mal a si mesma.

E assim, iam se passando os dias entre os amantes, ele feliz e por inteiro na relação, ela, por sua vez, apaixonada e amando, mas com medo de perder contato com outras maravilhas que o futuro poderia lhe trazer.

Mas ao contrário do que se poderia pensar, Isabella era sincera com Lucas e revelava suas metas e interesses, o que para sua surpresa em nada abalava o amor e as demonstrações de amor que ele dedicava a ela.

Para ela, Lucas era enigmático. Não tinha grandes planos em relação para o futuro. Satisfazia-se com as coisas simples e estava sempre a contemplar a vida. Gostava de fotografia, literatura, e coisas afins, mas nunca gostava a ponto de chamar atenção dos demais.

Lucas fugia de notoriedade, como se aquilo fosse um perigo a ser evitado a todo custo, apreciava o silencio e a calma de sua vida no campo, e se agradava com o anonimato.

Isabella pensava que isto se devia a sua criação e infância, que fora muito traumática.

Lucas vivera com um pai alcoólatra e uma mãe, que era totalmente sozinha pois perdera a família muito cedo, e fora criada com os tios que logo que alcançara a maioridade a colocaram para fora de casa.

Lucas, desta forma, desde cedo fora o alicerce da mãe na situação de homem da casa, uma vez que o pai sempre se esquivara de qualquer forma de compromisso que não fosse com o álcool.

Desta forma, para aquela alma carente e dilacerada pelo destino, a simples companhia de alguém com quem compartilhar o amor já era um doce da melhor qualidade. Era uma oportunidade de não ser um mero remendo de uma relação totalmente caótica que fora criada por seus pais.

Mas na verdade, Lucas as vezes se decepcionava com Isabella, ou com seus grandes projetos, pensava consigo mesmo: “Se estou tão realizado com a presença dela, porque ela nunca desvia os olhos de seus sonhos para o futuro e olha pra mim que estou ao seu lado?”

Mas naquele momento a carência de sua alma, a necessidade de ter alguém ao seu lado era tão grande que ele não se permitia tomar nenhuma atitude em relação a esta impressão, preferia que as coisas permanecessem como estavam. Preferia se contentar com ou pouco que tinha.

Aprendera a não esperar muito das pessoas. Era um excelente filho e uma pessoa de moral elevada, mas dispensava as atenções e os elogios dos pais e familiares. Preferia que eles tivessem um papel tão somente secundário em sua vida. Uma vez que sempre atuara em família como um referencial de moral e de virtudes, sentia-se livre para poder buscar outros caminhos para sua vida, nos quais não estivessem incluídos os familiares que somente lhe traziam problemas e preocupações para que ele resolvesse.

Isabella, por sua vez, aprendera a distância certa de Lucas, de forma que ele não a abandonasse – o que lhe causava verdadeiro pavor escondido a sete chaves, e que, por outro lado, não gerasse tanta esperança de que um dia poderiam se casar ou ter uma vida juntos.

Mas vencidas estas dúvidas, eles se amavam e dentro dos limites construídos (nenhum de um lado e vários de outro) viviam um amor quase infantil, que era fruto da espontaneidade do amor de Lucas por Isabella, e da certeza desta de que tudo era parte de sua infância, mas que no futuro seriam os alicerces da pessoa que iria se tornar. Isabella no fundo sentia uma gratidão e um enorme carinho por Lucas, pelo amor que este lhe dedicava, mas que era demonstrado com certa discrição, devido aos seus medos e inseguranças.

Isaias João
Enviado por Isaias João em 15/09/2011
Reeditado em 15/09/2011
Código do texto: T3220608
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