Amor Natural
Era um dia como qualquer outro. Nuvens no céu dissipavam a idéia de ter que fazer algo para aproveitar o sol, trazendo em si a conveniência da comodidade.
Os dois amantes – Lucas e Isabella se encontravam sobre o Rio São Francisco - sentados na amurada da ponte da cidade de Pirapora.
Não falavam nada entre si, nem se tocavam. Permitiam-se ao abandono um do outro, de modo que o silencio demonstrava um desejo de que o momento se eternizasse.
Os olhos castanhos de Isabella brilhavam sob a luz cinzenta do céu, enquanto o vento lhe sacudia os cabelos negros. Algo belo de se ver, pensava Lucas.
Sentados a olhar a paisagem naquela tarde de domingo, aqueles amigos-amantes simplesmente deixavam que a natureza fluísse neles.
Olhando-se com amor e reciprocidade parecia que a pressa e a angústia do mundo não os atingia.
Lucas contemplava em Isabela a beleza que nunca imaginara que iria agradar tanto aos seus olhos. Parecia que de tão pouco querer a beleza, ela vinha a ele com facilidade.
O amor entre os dois era desde a infância e agora que estavam com 17 anos, sabiam que a separação estava próxima, mas isto não os incomodava. Sabiam que levariam consigo os bons momentos e as boas lembranças, em suas novas escolhas de vida.
Lucas iria cuidar da fazenda de seus pais, e Isabella que sempre fora mais “adiantada” iria para a capital Belo Horizonte, cursar direito.
Mas naquele momento sob aquele céu cinzento em cima, e o rio passando por baixo, eles não tinham tempo para ficar pensando em querer mudar o futuro, o que lhes roubaria a capacidade de aproveitar o momento.
Amor, contemplação, olhares, vozes, tudo soava como uma canção e os amantes se esforçavam para não influenciar na naturalidade dos fatos.
O sorriso de Isabela diante da moldura do Rio São Francisco, com aquele céu acinzentado dava uma idéia da transitoriedade da vida, e da ausência de requisitos pré concebidos para a existência da beleza, que ia sendo descoberta a cada minuto de proximidade, por Lucas.
Para Lucas não era espantoso o fato de que a cada dia na companhia de Isabela, descobrir novas formas de amar, e novas formas de apreciar sua beleza. Mesmo depois de tantos anos de convivência. Aprendera que a própria evolução de sua amante era bela, com suas alterações e mudanças.
Enquanto Isabella queria explicar para Lucas as coisas e dizer como deviam ser, ele queria apenas contemplar. Contemplava sua voz, seus olhos, seu perfume, seus cabelos sob o vento, e, muitas vezes, fingia não entender o que ela queria dizer, pois justamente quando ela estava irritada com sua “ignorância” ficava mais bonita ainda.
Assim era Lucas, não tentava impor não tentava mudar, não tentava perpetuar sua relação com Isabela. Tomava o cuidado de apenas permitir a ocorrência natural dos fatos, e a perfeição cada vez maior daquele quadro que era sua relação com aquela moça impaciente e vaidosa, que queria ser justa antes de tudo e que tinha mais amor no coração do que poderia imaginar.
E assim seguiam-se os dias frios e os quentes, os sorrisos e choros, as venturas e as desventuras que o tempo cuidava de dar e tirar.