Todo dia, fazia um tempinho, aquela cena se repetia...
O homem passava, olhava para todos os lados e...sumia.
Passou a ser notada e percebida pelos moradores daquela rua! Porém, seguiam suas vidas normalmente.
Apenas quando a tardinha chegava, se davam conta daquilo, ao vê-lo por lá, novamente...
Era um senhor , por volta de seus cinquenta e poucos anos, já grisalho, pele ressentida dos ventos e sol por ele enfrentado ao ar livre, com sua bicicleta.
Um dia, porém, Vilma vê a cena, o vê passar e percebe que, ao invés de simplesmente olhar, resolveu descer, sentou-se debaixo de uma árvore, num banco de madeira velho, e ajeitou sua "capanga", uma bolsa onde carregava suas coisinhas e ali ficou olhando para um papel.
Pelo menos isso era o que Vilma podia ver da sua janela.
Antes de dormir, falou com suas filhas sobre aquela presença, pensou em falar com vizinhos, mas as filhas a desaconselharam. Foi então dormir.
Era ainda noite quando o homem da bicicleta bateu à porta.
Vilma ouviu o toque e um frio lhe congelou a espinha...
Mesmo assim, foi atender e sem abrir, perguntou o que queria e quem era.
_Preciso falar com a Sra.Vilma de Queiroz! É urgente!Com muito temor, abre a porta e por uma frestinha, lhe atende...
Qual não foi sua surpresa! Estava ali, diante de seus olhos!Como podia ter acontecido isso?
Os dois se olharam , no fundo dos olhos, estavam se reconhecendo aos poucos.
Ela o manda entrar, vai até a cozinha e lhe oferece um café quentinho...
_Como isso foi acontecer?
_ Por onde andaste todos esses anos, pergunta Vilma.
O que fizeste da nossa vida?
_Como estão nossas filhas?pergunta ele.
_Não tinha nada a oferecer pra vocês naquela fase de nossa vida. Errei muito ao abandonar nossa casa e vocês, durante todo esse tempo.
_E o amor que sentíamos, não falava ? Nada te importava? E nossas filhas?
_ Me perdoa,Vilma!
Não te peço que me aceites de volta, sei que será difícil conviver aqui. Sou quase um estranho às meninas, hoje adolescentes...Mas, me dá uma chance...
_ Nessa hora, sem pensar em mais nada, Vilma olha direto nos seus olhos. Olhares fortes e nele houve o encontro não dos olhos, mas dos corações...
Vilma pediu que ele fosse embora naquela hora e voltasse à noite para um jantar com as filhas.
Durante o dia, ela haveria de bolar uma conversa ...
As filhas tinham cada qual suas vidas já mais ou menos delineadas e logo, ela estaria sozinha. Então, pensou, pensou e resolveu pensar mais em si própria, se dar uma chance!
Havia, após tanto tempo dedicado apenas ao trabalho, correrias e filhas, escutado o sininho do amor batendo.
Ele chegara de bicicleta após tantos anos e por certo, ela seria hábil o suficiente e arrumaria uma lugarzinho em sua garagem para ela...e dentro de casa, para ele, que já passava a estar, novamente, em seu coração...