Eu reconta Marina Colassanti, de tanto procurar
Essa é a história de um homem que andava sempre olhando pro chão em busca do que os outros perdiam por aí.
Vive sozinho e tem os bolsos cheios de quinquilharia. As noites passa enamorado de seu tesouro disperso iluminado à luz de velas.
Certo dia batem à porte e um jobem vem perguntar se ele não teria encontrado um chave que perdera. Foi a velha da esquina quem disse ...que o senhor enxerga por 2. Tinha encontrado três chaves e o jovem levou-as prometendo devolver as que não servissem.
Não voltou e passaram-se os dias. Batem à porta, nessa que ninguém procurava, no lugar do jovem uma mulher que tinha perdido um dos brincos, trouxe as duas chaves que não serviram ao rapaz e as devolveu.
A fama desse homem que encontrava coisas perdidas se espalhou pela cidade e ele de imperceptível passou a ser notado. Muitos o procuraram e muitos dias se passaram até que toc, toc, toc uma mulher pedia ajuda.
Ando perdida entre as horas e os dias e procuro o juízo que um dia tive. Desconfiado dela dispôs-se a acompanhá-la. O barulho do sapato dela parecia as batidas na porta tac, tac, tac.
Mas acontece que os caminhos por onde ela procurava o juízo eram diferentes dos caminhos que ele sempre percorrera e, aos poucos, saíam da cidade e ganhavam os bosques, as fazendas, as colônias tortas de todo vilarejo, e aos pucos aquele ritmo tornou-se íntimo de seu coração tuc, tuc, tuc.
Então, com a primeira primeira brisa da primavera ele abaixado gritou, Achei! De pé estendia a mão oferecendo o achado. Mas não foi o juízo dela que encontrou.
O homem, de pé, estende a mão e lhe oferece a primeira flor da estação. Desse momento até hoje caminham juntos, sem juízo perdidos os dois.