O destino da garota que observava o céu!!!!!!!_parte 6
Naquela tarde, não cheguei no horário de sempre, havia ido atrás de um amigo formado em psicologia e já era noite quando dobrei o quarteirão da casa dela. Havia uma ambulância, carros de policia e um grande tumulto na rua, meu coração já condenava o ocorrido mas eu me recusava a acreditar.
Corri em direção a casa dela, e sôfrego fui abrindo caminho entre os curiosos, aproximei-me de um policial que tentava conter o tumulto e obviamente fora de mim, tentei passar por ele e chegar até a porta da casa, é claro que fui contido e devo ter levado alguns socos até voltar a mim e perguntar o que havia acontecido.
- Você conhecia a jovem que morava aqui?- sacudi a cabeça afirmativamente – sinto informar que ela está morta, cometeu suicídio.
Naquele estado de transe que ficamos diante de uma noticia avassaladora, quando nossas reações não condizem com o momento,ou quando não acreditamos de fato no que ouvimos, perguntei onde ela estava ao que ele apontou para a ambulância, onde estava o corpo frio e imóvel. Andei firmemente até a ambulância e contemplei aquele rosto pálido que nunca mais sorriria para mim, os olhos abertos, mas sem vida com certeza viam além de mim, deveriam estar vendo um céu onde o pôr-do-sol nunca acaba e as estrelas não se apagam.
O ocorrido foi contado da seguinte maneira: Por volta das 18:00 ela subiu ao telhado munida de um estilete e fez um corte em cada pulso ,não um corte qualquer mas um corte de quem não queria ser salva, um corte na vertical, de modo que ela morreu em menos de 5 minutos, a veia dilacerada não poderia ter sido suturada mesmo que o socorro tivesse chego a tempo. Alguém, não sei ao certo se vizinho ou transeunte, viu aquela estranha cena de uma jovem sentada no telhado em meio um mar de sangue e chamou a policia. “O corpo foi encontrado daquele jeito quase sem sangue e com os olhos fixos no céu.”
Tive que ir a policia resolver todas as pendências legais, os bens dela foram leiloados e sabe-se lá que corrupto ficou com o dinheiro. No enterro não haviam parentes. Apenas alguns poucos amigos e vizinhos. Ela realmente era a última de sua genealogia.
A polícia também me informou sobre uma carta suicida que ela tinha nas mãos na hora da morte. Pedi para que não me revelassem o conteúdo da carta, que apenas perguntassem o necessário. Após ter explicado sobre a lenda, o caso foi encerrado, “típico caso de paranóia seguido de suicídio”. A carta suja de sangue permanece até hoje intocada pelas minhas mãos, mas sempre ao lado da minha cama, para que um dia quem sabe, eu consiga reunir a coragem que não reuni nesses 40 anos, e possa conhecer suas últimas palavras de loucura, amor ou desculpas.
Eu não acredito em toda essa loucura que a tomou de mim. Acredito que nós fazemos o nosso destino. Pois não foi o destino, nem a mão de Deus, mas ela própria quem tirou sua vida. Diante da paranóia da morte, acreditou que ela tenha surtado e se entregou aos próprios delírios. Ela era fraca. E sucumbiu diante de uma história que não sei se inventada por ela ou carregada por gerações e gerações da sua família. Porém, ela foi sem dúvida o grande amor daminha vida. Depois dela, dediquei-me ao estudo da psicologia, na luta em desvendar os mistérios da mente humana e não me envolvi seriamente com mais ninguém. Não constitui família e vou morrer sozinho. O interessante e eu diria até engraçado, de um humor negro e trágico, é que a “maldição”, acabou por se cumprir em nossas vidas. Eu vivi um grande amor, ela se foi sem deixar nada para trás nem descendência. E quando eu morrer estarei também colocando fim a minha genealogia.
“E as duas descendências se extinguirão!”
Penso agora, se enquanto acreditava que fazia meu próprio caminho, eu não trabalhava arduamente segundo os caprichos do destino,em um caminho previamente traçado por ele. Nunca saberei!