O destino da garota que observava o céu!!!!!!!_parte 3
No outro dia voltei e a encontrei sentada na calçada observando o céu, quando me aproximei ela falou com ar de menina travessa:
- Que chato, não se vê quase nada daqui... os prédios e as casas e até mesmo as pessoas falando e os carros atrapalham a contemplação. Sem contar que estamos alguns metros mais distantes do céu. Que bom que a sua companhia é interessante o suficiente para tomar o lugar do céu e dos livros. Então ela se levantou e com um sorriso no rosto levantou-se e sussurrou no meu ouvido:
- Eu menti ontem...quer dizer, eu sempre olho para o céu porque desejo ver uma estrela cadente e fazer um desejo. Antes que eu pudesse falar algo ela prosseguiu - Sim, eu sei que estrelas cadentes não passam de poeira cósmica, fragmentos que vagam sem rumo pelo universo e que ao se chocarem com a atmosfera se incendeiam e ocasionam esse fotometeoro, chamado estrela cadente e que por esse motivo elas não possuem nada de mágico... ou místico, ou se quer são capazes de realizar desejos...mas eu gostaria de acreditar nisso...
Então ela me olhou de uma maneira vaga e prosseguiu:
- Você é a minha estrela cadente. E me beijou. Um beijo longo e cálido que me fez esquecer o ocorrido. E ficamos ali, sentados na calçada a olhar para o céu, esperando que um fragmento de asteróide cruzasse os céus e nós pudéssemos fazer um único desejo. O de sermos felizes para sempre.
No entanto, todos os dias que se prosseguiram, ela me recebia da mesma maneira. Dando uma explicação diferente para sua fixação pelo céu. Nos primeiros dias, eu realmente não me importava com os seus motivos.
- O céu é tão azul, eu adoro o azul e é por isso que adoro o céu...
- Na verdade, eu estou esperando um anjo....
- Ah, mesmo que eu explicasse você não entenderia...
-Minha mãe fez uma promessa e eu devo todos os dias contemplar os céus por uma hora...
-Eu oro, oro para um Deus desconhecido...
- Estou estudando as nuvens, veja aquela é uma stratus...
E tantas outras explicações aleatórias. Ao fim de alguns dias de razões e motivos diferentes e sem sentido, eu estava realmente irritado com a aparente brincadeira da minha, já então, namorada.
Nesse dia, saí de casa para o nosso tradicional encontro decidido a confrontá-la sobre a verdade. Mas não a encontrei na calçada. Rapidamente olhei em direção ao telhado e a vi, mas estava sem o livro ou a folha de papel, apenas contemplava o pôr-do-sol com um olhar melancólico e distante. Alguma coisa devia ter acontecido. Não ousei incomodá-la e como se voltássemos no tempo, sentei sozinho na calçada e me pus a observá-la.
Eu a amava. Sem sombra de dúvidas aquele sentimento confuso que Camões descreveu com tal perfeição, era amor. Mas, eu a sentia tão frágil e ausente que me perguntava se tudo não seria passageiro, e sem perceber eu seria posto de lado. Será que havia correspondência nos sentimentos dela??? Ainda pior que o medo de não ser amado com a mesma intensidade que amava, era o medo de perdê-la para o destino, para esse karma o qual parece impedir a felicidade de durar algo mais que um sonho. No meu coração, talvez no meu exacerbado romantismo, eu temia, temia pela vida dela, tudo era tão maravilhoso que parecia predestinado ao trágico.
Quando ela desceu do telhado, abriu a porta e ao contrário de todos os outros dias, não saiu,mas pediu para que eu entrasse. Não hesitei mesmo sabendo que ela morava sozinha. A casa estava escura e estaria mergulhada em trevas, não fosse a trêmula luz que vinha de um dos cômodos, aparentemente a luz de um abajur. Ela não sorriu, não falou nada e sequerme beijou. Quando nos vimos dentro da casa e longe dos olhos curiosos dos vizinhos e transeuntes, ela se jogou em meus braços, como uma criança assustada pedindo colo e buscando segurança no peito do pai. Eu fiquei desnorteado. Esperava que a qualquer momento ela fosse desabar em lágrimas de fragilidade. O que não aconteceu. Ela apenas ficou quieta nos meus braços o que aumentava a minha preocupação, lembrei-me de uma frase que havia lido em um livro de reflexões “Tão pior são as dores secas e as tristezas mudas”, ou seria o contrário? Não me lembro mais. Apenas lembro que ficamos assim por alguns minutos, nos quais eu buscava as palavras certas para quebrar o fino véu do silêncio.
Então, ela levantou o rosto e me beijou. E o beijo não era o mesmo, não era inocente, nem cálido mais ardente, carregado de paixão. E, sem me deixar falar foi me puxando para o cômodo iluminado. Um quarto. Deitou-me na cama e disse sem vergonha, timidez ou hesitação:
-Eu quero ser sua!