O ENCANTO DO ESPELHO

Luna, vaidosa por demais, sempre que podia ficava mirando-se em um espelho. Em seu quarto, onde não tinha móveis junto às paredes, lá estava um espelho. Ela queria fixar um no teto, mas seu pai, horrorizado não permitiu, pois dizia que o quarto dela já era muito enfeitado, mais parecia um “bordel” do que dormitório. Realmente o colorido e os adereços, com harmonia entre si, eram abundantes naquele espaço.

Com a chegada da primavera os dias se tornaram maiores e com a estação vieram as expectativas de maior frequência das baladas e passeios nas praças da cidade. Era o que se chama a excitação da primavera, pois com o desabrochar das flores todos parecem ficar mais alegres.

Como a cidade era pequena, as notícias e novidades logo se espalhavam e, vejam só o que saiu em letras garrafais, como manchete, no jornal A Folha do Litoral:

“Paranormal em Capão da Canoa”. Luna ao ver a notícia ficou curiosa e resolveu ler o que estava publicado:

- Importante paranormal, da cidade de Osório, estará em nossa cidade para proferir palestra sobre assuntos relativos à paranormalidade. Será no próximo dia 28 às 20 horas na Casa de Cultura Érico Veríssimo, em Capão da Canoa.

Sem dúvida, no dia e hora marcados, lá estavam Luna e suas amigas para assistir à dita palestra. A palestrante chamava-se Olívia, era jovem, mas demonstrou muito conhecimento e discernimento em sua exposição. E o melhor foi que as meninas souberam que ela fazia atendimento particular. Era só agendar com dona Filó, uma senhora que a acompanhava e secretariava.

Logicamente que, sem pensar duas vezes, Luna e suas amigas marcaram hora para consultá-la. Luna tinha muitas curiosidades e queria algumas respostas.

Chegado o dia lá estavam as meninas. Luna, em especial, com uma terrível expectativa, mas também, sem querer admitir, com certo medo do que lhe fosse dito.

Olivia, tipo franzino, muito meiga a recebeu com carinho. Depois de convidá-la a sentar a sua frente, olhou bem em seus olhos e começou a falar:

- Sabes que só posso dizer a ti o que vejo. O impossível não posso. Pode ser que algo não saia a teu contento, mas creias que só te falarei o que me é permitido.

- Ok, disse Luna.

Continuando a falar, Olivia descreveu a Luna fatos e situações que a mesma tinha passado, tudo como realmente aconteceu. Fez também algumas orientações em relação a acontecimentos que possivelmente ocorreriam. Tipo algumas previsões, conselhos. Luna, a cada colocação de Olivia ficava boquiaberta e concordava fazendo um sinal afirmativo com a cabeça. Olivia chegou até a descrever como era o quarto de Luna, mas quando descreveu a casa, por um momento calou-se e fixando o olhar em um ponto incerto disse:

- Há no corredor, próximo à porta de teu quarto, um espelho. Quando retornares à tua casa, deves parar em frente a ele e observá-lo bem. Verás o que ele vai te mostrar. Ele refletirá algo, mas somente tu deves estar no local. Ali estará a resposta desta pergunta que tens medo de me fazer.

Terminado seu atendimento, enquanto aguardava as amigas que também foram consultar com Olivia, Luna ficou a pensar sobre o quê e como um espelho daria a ela a resposta sobre algo que ela tinha perguntado em pensamento. Mais admirada ficou quando caiu em si sobre como Olivia sabia do espelho no corredor de sua casa. Ela havia descrito a casa e em detalhes o seu quarto, mas sobre aquele espelho? E com esta dúvida voltou para casa.

À noite, depois que todos foram para seus quartos, Luna parou em frente ao espelho do corredor, acendeu a luz e pôs-se a admirá-lo. Observou os detalhes da moldura, seu diâmetro, imaginou quem o teria colocado lá e assim foi deixando sua imaginação viajar, até que em certo momento percebeu que algo acontecia ali. Bem no centro viu um ponto de luz que aos pouco foi-se tornando maior até que uma imagem se refletiu. Neste momento sentiu as pernas fraquejarem e tremendo, com medo, gritou de susto. Logo seus pais saíram do quarto e ao encontrá-la ali parada tipo estátua olhando para o espelho, sua mãe perguntou:

- Filha, o que aconteceu?

- Estás bem?

- Sim, respondeu Luna, e para não contar o que realmente tinha ocorrido disse:

- Achei que havia uma barata no espelho.

Depois, sorrindo de felicidade, já em sua cama, Luna satisfeita lembrou a resposta que o espelho inquieto do fundo do corredor lhe deu. Ela iria concretizar o seu sonho oculto. Isto ela visualizou no espelho, só que quando ia ver quem era o seu príncipe, a face do noivo, devido ao medo que sentiu e ao grito que deu, o encanto da descoberta ficara desfocado.

Soninha Rostro
Enviado por Soninha Rostro em 07/09/2011
Reeditado em 09/09/2011
Código do texto: T3206421